No dia 7 de outubro, eleitores em todo o país escolherão os líderes que tomarão as decisões do país nos próximos quatro anos. São muitas as questões urgentes sobre as quais esses candidatos precisam se posicionar, como segurança pública, desemprego e saúde. Com tantas urgências, não raro eles deixam de falar sobre problemas que parecem mais distantes e abstratos, como as mudanças climáticas e o futuro de nossas florestas.

O problema é que essa é uma visão equivocada: o clima é sim uma questão urgente. A emissão de gases de efeito estufa em atividades humanas – como indústrias ou a queimada de nossas florestas – já alterou o clima do planeta, e provoca mudanças como severas ondas de calor, secas, enchentes, além do degelo no Ártico e do aumento do nível do mar. No Brasil, o principal fator de emissão de gases de efeito estufa é o desmatamento da Amazônia e demais biomas. Como mudar a mentalidade da nossa economia, hoje voltada para o desmatamento, para promover um desenvolvimento que conserve nosso patrimônio natural e nos proteja contra as mudanças climáticas?

Uma das ideias da Coalizão Brasil Clima, Agricultura e Florestas é justamente mostrar aos candidatos que serão eleitos este ano o que eles podem fazer para enfrentar a urgência do problema e, ao mesmo tempo, desenvolver o país. A Coalizão, uma organização multisetorial que tem desde representantes do agronegócio até de ONGs ambientalistas, e da qual o WRI Brasil faz parte, produziu um documento com 28 propostas para os candidatos. São propostas que se concentram na forma como o Brasil usa sua terra, seja para produzir, gerando alimentos e riqueza, seja para conservar, protegendo a biodiversidade e tornando o país mais resiliente.

Florestas para a economia e para a água

Entre essas propostas, chama a atenção algumas que giram em torno do tema da restauração florestal. Elas mostram aos candidatos que é possível propor políticas bem estruturadas para que produtores rurais possam plantar florestas para fins econômicos – gerando renda com produtos florestais não madeireiros, por exemplo – e para fins ecológicos, protegendo mananciais e sequestrando o carbono da atmosfera.

A Proposta 25, por exemplo, defende a criação de um programa de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a silvicultura de espécies nativas brasileiras. Esse é um ponto importante para que o Brasil possa criar uma economia florestal de nativas. Hoje, temos grande conhecimento científico sobre espécies exóticas, mas sabemos pouco dos frutos que nossas árvores nativas podem nos dar, seja em frutas, castanhas, produtos não-madeireiros, e até mesmo madeira. O WRI Brasil trabalha com a valorização da economia de espécies nativas por meio do projeto VERENA, mostrando modelos econômicos de plantação de árvores nativas que trazem retorno econômico para o produtor. A Proposta 17 da Coalizão segue nessa linha e defende a criação de estratégias de financiamento para a restauração de nativas.

Outro ponto crucial levantado pela Coalizão aparece na proposta 27, que defende a criação de uma política de restauração específica para áreas de recargas de aquíferos. Reflorestar as margens de rios e corpos d’água tem grande potencial de melhorar a qualidade da água que abastece os grandes centros urbanos, já que a vegetação mantém a água no solo e diminui a entrada de sedimentos nos rios e reservatórios. Bacias que abastecem áreas de grande densidade populacional, com São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória, poderiam se beneficiar com uma política de infraestrutura natural em seus mananciais.

Também vale mencionar a Proposta 3. Ela pede que os futuros governantes direcionem recursos para que o Cadastro Ambiental Rural (CAR) seja enfim validado e implementado. O CAR já foi adiado quatro vezes. Sem a sua implementação, os estados não podem fazer os Programas de Regularização Ambiental, que vão criar mecanismos para que o produtor possa restaurar suas Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal.

Próximos governantes precisam fortalecer o Acordo de Paris

Além da Coalizão, outras organizações estão tentando mostrar aos candidatos e futuros governantes que há propostas criativas e bem elaboradas que podem colocar o Brasil nos trilhos de uma economia moderna e de baixa emissão de carbono. O Observatório do Clima, por exemplo, divulgou uma lista de dez recomendações a serem transformadas em políticas públicas. Elas foram criadas com o objetivo de fortalecer os compromissos que o Brasil assumiu no Acordo de Paris.

O Observatório do Clima pede que seja definida uma nova governança climática do Brasil, que sejam suspensas as tentativas de retrocesso na legislação ambiental, e que se amplie o programa de Agricultura de Baixo Carbono no país.

Propostas como as da Coalizão e as do Observatório do Clima mostram que há ideias inovadoras e bem fundamentadas para promover o desenvolvimento sustentável no Brasil. Cabe agora aos eleitores avaliar essas propostas e pressionar os candidatos de todas as matizes ideológicas para que entendam que o desafio à nossa frente é imenso e não agir não será uma opção.