Divulgados na última quinta-feira, os dados do Programa de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), considerados os números oficiais de desmate no país, mostram que o desmatamento anual na Amazônia ficou abaixo de 10 mil km² pela primeira vez desde 2018. De agosto de 2022 a julho de 2023, foram perdidos 9.001 km² de floresta, uma redução de 22,3% na comparação com o período anterior.

Em setembro, na Cúpula de Ação Climática em Nova York, o Brasil anunciou a correção do compromisso climático que havia sido reduzido no governo Bolsonaro. Para corrigir as duas últimas atualizações da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil, que na prática permitiam um volume de emissões de gases de efeito estufa maior do que o compromisso apresentado na Assinatura do Acordo de Paris, em 2015, o país apresentou novas metas percentuais. O objetivo climático brasileiro passou a ser de 37% para 48% de redução de emissões até 2025 e de 50% para 53% até 2030.

Os resultados de desmatamento e a meta climática corrigida estão entre os principais resultados que o governo brasileiro apresentará na COP28, que ocorrerá em Dubai, Emirados Árabes Unidos, a partir de 30 de novembro.

A seguir, o posicionamento de Mirela Sandrini, diretora de Florestas, Uso da Terra e Agricultura do WRI Brasil:

“A queda de 22,3% na taxa de desmatamento na Amazônia em 2023, revelada pelos novos dados do Prodes, divulgados na última quinta-feira, é uma boa notícia em um ano em que a região enfrenta a pior seca já registrada na história recente. É preciso reconhecer o trabalho de reconstrução da agenda ambiental desde o início do ano, especialmente porque o cenário de seca somada à expectativa de um El Niño mais intenso do que os já registrados poderia significar uma situação ainda mais devastadora para a região. O Brasil mostra que sabe o que é preciso fazer para combater o desmatamento, pois em um semestre de ação foi possível reverter a projeção do Deter baseada no último semestre de 2022, que apontava para mais um ano recorde de destruição.

Também é preciso reconhecer que a redução percentual é comparada a um ano de desmatamento em excesso. Sair do patamar de 9 mil km2 desmatados ao ano e chegar a 2030 com desmatamento zero é um desafio muito maior. Mantendo o ritmo de desaceleração do desmatamento deste último ano, na casa dos 20% a 25% ao ano, o Brasil chegaria em 2026 próximo ao mínimo histórico de 4.571 km2. O grande desafio começa aí: como ir além do mínimo histórico, vencendo o desmate persistente e alcançando patamares cada vez mais próximos a zero nesta década?

Segundo cálculos do Observatório do Clima, para reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa a 1,3 bilhão de toneladas em 2025, como prometido na meta do Brasil no Acordo de Paris, o país precisaria cortar o desmatamento pela metade em relação a 2022, para cerca de 6.000 km2. Esses números mostram que o Brasil pode muito mais, pois a descarbonização precisa alcançar toda a economia, não ficar restrita ao fim do desmatamento.

Todos os países têm até a COP30, em Belém, para apresentar uma nova rodada de compromissos, desta vez para 2030 e 2035. Estudo do WRI Brasil já demonstrou que uma economia moderna e livre de desmatamento na Amazônia poderia impulsionar a descarbonização de toda a economia do país em linha com os objetivos do Acordo de Paris, gerando benefícios não apenas para o clima, mas para as pessoas e a economia. Para isso, além de zerar o desmatamento, é preciso prover a restauração das florestas e estimular a transição em todos os setores. O Brasil pode mais".