Este artigo foi publicado originalmente no jornal O Globo.

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Como fazer para que as metas climáticas do planeta sejam mais ambiciosas? A questão é crucial para quem participou da Conferência do Clima de Marrakech e para os habitantes do planeta.

Ainda que as metas assumidas no Acordo de Paris sejam necessárias para minimizar os riscos das mudanças climáticas, os compromissos assumidos são insuficientes para limitar o aquecimento global a 2°C em relação à era pré-industrial — e muito distantes do limiar mais seguro, de 1,5°C. O Brasil é o sétimo maior emissor mundial de gases do efeito estufa (GEE). A destruição das florestas tropicais do país responde por 50% das emissões brutas de GEE e colabora, em grande parte, para nossa liderança no ranking.

A preservação e a restauração de florestas são fundamentais para reduzir as emissões de GEE e capturar carbono da atmosfera, e o país poderá trazer enorme contribuição ao desafio climático adotando uma nova economia florestal baseada em restauração em larga escala. A restauração com fins ecológicos e econômicos encontra por aqui condições ideais para o sucesso: competência tecnológica, conhecimento em silvicultura, abundância de matéria-prima de sementes, competitividade e excelência empresarial. Além disso, pode gerar empregos, na cadeia de fornecimento das mudas, na coleta de sementes, transporte e plantio, dentre outros.

No entanto, todas as condições necessárias ainda não estão presentes. É preciso criar incentivos fiscais e simplificar processos burocráticos para viabilizar empreendimentos e atrair investimentos para uma economia verde, o que gerará um círculo virtuoso, impactando positivamente a preservação de ecossistemas cujas árvores matrizes e suas sementes consistirão na essência do negócio.

Um dos motores para tal economia está colocado: a obrigação de restauração prevista no Código Florestal e a meta de 12 milhões de hectares de restauração do compromisso do Brasil na Convenção do Clima. Mas, para se dar escala à produção, dentre outras condições alavancadoras, faz-se necessário um programa de pesquisa e desenvolvimento para uso de espécies nativas de árvores. Esse tipo de política industrial tornou possível no passado o sucesso do programa do álcool e o plantio de eucaliptos, em que nos tornamos campões. Espera-se o mesmo para a economia florestal tropical, uma vocação natural do Brasil.

A preservação de terras indígenas é outra medida importante para a diminuição do desmatamento e redução de emissões de GEE. É um investimento com alto benefício social que favorece os moradores dessas localidades, os países e a sociedade global. O estudo do World Resources Institute (WRI) Custos e benefícios econômicos da garantia de posse comunitária de terras em florestas: evidências do Brasil e da Guatemala sugere que investir na preservação de terras indígenas pode ser das medidas mais efetivas para a mitigação das mudanças climáticas globais, além de contribuir para a manutenção dos ecossistemas e da grande diversidade étnica do país. O trabalho demonstra como as tradições indígenas de preservação de ecossistemas também evitam a emissão de gases que ameaçam a Humanidade.

A responsabilidade com a saúde do planeta é de toda a sociedade global — e, portanto, de cada um de nós. O protagonismo que o Brasil demonstra nas negociações climáticas, apontando caminhos e buscando soluções, deve se traduzir em ações efetivas de proteção e restauração de florestas e garantia aos povos tradicionais de suas terras. Somos, desde tempos imemoriais, antes de tudo, uma terra de florestas.