Este post foi escrito por Chris Reij e Robert Winterbottom e publicado originalmente no WRI Insights.

***

Com a crescente conscientização dos custos econômicos oriundos da degradação da terra, líderes políticos vêm adotando metas ambiciosas para restaurar florestas degradadas e terras agrícolas. Com base no interesse pela restauração de paisagens florestais a partir do Desafio de Bonn, lançado em 2014, os países adotaram a Declaração de Nova York sobre Florestas a fim de restaurar 350 milhões de hectares de florestas degradadas e terras agrícolas até 2030. Essa área é maior do que todo o território da Índia.

Diversas iniciativas regionais focadas em obter apoio político e financeiro para a implementação de restauração em larga escala surgiram nos últimos anos, como a Iniciativa 20x20 para a restauração de 20 milhões de hectares até 2020 na América Latina e no Caribe e a iniciativa de Restauração da Paisagem Florestal Africana (AFR100), que tem como objetivo restaurar 100 milhões de hectares de florestas degradadas no continente até 2030.

A questão agora é: como podemos restaurar essa enorme quantidade de paisagens degradadas e desmatadas? Evidências mostram que isso é possível – desde que aprendamos com experiências que já se mostraram bem-sucedidas. Ainda que o plantio de árvores seja fundamental, apenas ele não será suficiente.

O desafio: implementar os compromissos assumidos

Depois da onda de compromissos assumidos pelos países, o foco agora está no desafio de implementar a restauração em larga escala. O mundo ainda desmata e degrada 15 milhões de hectares de terra anualmente. Para alcançar a meta de 350 milhões de hectares até 2030, a restauração anual precisa ficar ao redor de 23 milhões de hectares.

O business-as-usual, que foca majoritariamente no aumento das taxas de plantação de árvores, não será suficiente para alcançar o objetivo final. As principais razões para isso são que o plantio é muito lento, muito caro e dificultado, em muitos casos, pelos baixos índices de sobrevivência das espécies. Nos Estados Unidos, por exemplo, muitas campanhas para o plantio arbóreo atingem apenas dezenas de milhares de hectares por ano. Os custos podem exceder US$ 1,5 mil por hectare. Logo, plantar 23 milhões de hectares por ano exigiria cerca de US$ 34 bilhões anuais. Isso sem levar em consideração o fato de que em muitos projetos de restauração em locais de clima semiárido, menos de metade das árvores plantadas sobrevive.

Pode a restauração em larga escala ter baixo custo?

<p>Estudos de caso do Níger, Etiópia e Costa Rica demonstram a importância dos pequenos agricultores para alcançar a meta de restauração (Foto: Bob Winterbottom/WRI)</p>

Estudos de caso do Níger, Etiópia e Costa Rica demonstram a importância dos pequenos agricultores para alcançar a meta de restauração (Foto: Bob Winterbottom/WRI)

Sempre haverá um papel para o plantio de árvores, mas a chave para restaurar centenas de milhões de hectares provavelmente também implicará em uma série de etapas que desencadeiam e aceleram a adoção generalizada de práticas de restauração rentáveis e comprovadas, como a “regeneração natural assistida”. Dar mais atenção à proteção e manejo de árvores que se regeneram em terras agrícolas e fora da fazenda pode fazer uma grande diferença. O caminho então é permitir que as comunidades rurais cultivem e acelerem o crescimento de mudas naturalmente estabelecidas e permitam o rebrote de árvores.

  • No Níger, os agricultores construíram novos sistemas agroflorestais em 5 milhões de hectares ao longo de 20 anos, o que representa uma média de 250 mil hectares por ano. Os custos de financiamento externo foram inferiores a US$ 20 por hectare. Os agricultores protegeram e geriram a regeneração natural de espécies lenhosas e arbustos em suas propriedades agrícolas e, assim, acrescentaram 200 milhões de novas árvores sem a necessidade de assistência externa onerosa. As árvores no campo colaboram para aumentar o rendimento das colheitas, produzir forragem para o gado, melhorar o fornecimento de energia para as famílias e aumentar o rendimento do orçamento familiar.

  • O norte da Etiópia está mais verde do que nunca em 145 anos. As comunidades locais organizaram-se para controlar a criação de animais e o corte de madeira em planaltos degradados e encostas de montanhas, o que permitiu a regeneração natural da vegetação. Juntamente com investimentos de mão-de-obra comunitária na captação de água da chuva e ao lado do desenvolvimento da agricultura irrigada, as paisagens foram completamente transformadas pela restauração florestal de base. Isso ajudou os agricultores e suas comunidades a diversificar e aumentar a produção agrícola, garantir o abastecimento de água e aumentar a resiliência à seca.

  • Costa Rica é outro exemplo de um país que superou uma história de desmatamento principalmente pela aposta na “regeneração natural assistida”. Reformas nas políticas de redução dos subsídios aos agricultores que se dedicam à conversão de florestas em pastagens para a produção de gado junto ao reconhecimento dos benefícios econômicos da restauração florestal, ajudaram a impulsionar mudanças no uso da terra. À medida que as florestas foram restauradas, o ecoturismo floresceu e agora possibilita benefícios econômicos significativos.

Tais exemplos mostram que os pequenos produtores rurais são frequentemente os principais investidores privados da restauração baseada em árvores. O business as usual tem frequentemente incluído um maior apoio aos departamentos florestais para plantar árvores. Embora seja útil e importante, o maior sucesso na obtenção de metas ambiciosas de restauração florestal pode muito bem depender da mobilização de um "movimento de restauração" de milhões de pequenos produtores rurais, que incentivaria uma restauração de baixo custo e encorajaria mudanças de comportamento que incorporassem causas essenciais.

Estratégias de restauração baseadas em árvores

Muito mais poderia ser dito sobre essas experiências bem-sucedidas. Em 2015, por exemplo, o WRI publicou um relatório sobre como ganhar escala com restauração em seis etapas.

As partes interessadas têm um papel a desempenhar aqui. Governos podem melhorar a legislação florestal para fortalecer a posse das árvores, uma vez que produtores rurais investiriam nelas se elas fossem suas. ONGs e outras organizações precisam construir um movimento de base que dê apoio à aprendizagem peer-to-peer e ao desenvolvimento de instituições comunitárias para proteger e gerenciar o novo capital de árvores. E nós precisamos de mais investimentos públicos e privados para expandir as atividades de comunicação e divulgação e para disseminar informações que apontem para os sucessos e os benefícios da restauração florestal.

Com a participação de milhões de pequenos produtores rurais, a comunidade global pode restaurar 350 milhões de hectares. Precisamos agora definir o que cada um dos principais interessados precisa fazer – e como fazê-lo!