O Brasil precisa de diálogo. Essa foi a constatação dos organizadores da Brazil Conference, realizada pela Universidade de Harvard e pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Para aproximar polos opostos, a programação deste ano da principal conferência sobre o Brasil nos Estados Unidos foi planejada para reunir importantes palestrantes com diferentes perspectivas para o país. A intenção é buscar sinergias, afinal, todos compartilham de um objetivo: viver em um Brasil melhor.

Na manhã desta sexta-feira (07), assuntos climáticos e ambientais tiveram grande destaque. Na abertura do evento, Marina Silva, porta-voz nacional da Rede Sustentabilidade, foi entrevistada e discutiu, entre outros aspectos, pontos importantes para um futuro de baixo carbono no país. Mais tarde, ela participou de uma mesa ao lado de Rachel Biderman, diretora-executiva do WRI Brasil, Suzana Kahn, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Glória Visconti, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Henry Lee, de Harvard, com moderação de Natalie Unterstell, uma das lideranças do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Assista o painel Sustentabilidade e Meio Ambiente: Desafios do setor Energético no Brasil, da Brazil Conference

Centradas na projeção de um Brasil adaptado ou não às mudanças climáticas, as discussões mostraram que os organizadores da conferência estavam certos, pelo menos neste debate: os participantes concordaram que o papel do Brasil em um futuro de baixo carbono é de extrema relevância. Há uma percepção de que o país tem potencial de aproveitar essa transição a partir de seus recursos naturais, da agricultura sustentável, da restauração, do reflorestamento, entre outras medidas.

"O Brasil tem trabalhado nos últimos 30 anos desenvolvendo diferentes tecnologias na agricultura, na pecuária e na silvicultura. Temos bons exemplos para compartilhar com o mundo. Mas ainda não adotamos essas soluções em escala. Ainda estamos financiando a agricultura de alto carbono. Essa mudança deve ocorrer já. O poder do setor financeiro é incrível. Precisamos dele e dos tomadores de decisão à bordo dessa mudança mais rapidamente", afirmou Rachel.

Marina Silva também demonstrou uma visão positiva para a mudança de paradigma que se avizinha no mundo. Ela compartilhou histórias de mobilizações da sociedade que deram certo, lembrou da campanha contra a fome do sociólogo Herbert de Souza, da luta de Suplicy pela renda mínima, de Oded Grajew, da Rede Nossa São Paulo, que batalhou pela inclusão da questão ambiental também nas cidades e não apenas nas florestas, do Todos Pela Educação. "A força da sociedade é sempre maior do que a de seus líderes. Mesmo que eles naveguem na contramão, usamos a correnteza contrária para exercitar os músculos e sairmos do outro lado mais fortes", disse.

A porta-voz da Rede Sustentabilidade também destacou de forma positiva o papel do Brasil na transição para as energias renováveis. "Se existe lugar que estaria para o século 21 como os Estados Unidos está para o século 20, para mudar o padrão, acho que seria o Brasil, pela potência que é”, afirmou. “Boa parte dos países vão mudar as suas matrizes energéticas, alguns convencidos pelo coração, outros pela razão. Os custos das energias limpas estão menores. O Brasil não pode perder essa corrida, já temos 45% energia limpa na matriz. Precisamos de investimentos e não podemos ficar presos a velhos paradigmas", destacou Marina.

Com um discurso também calcado em uma visão positiva, ao destacar o potencial nacional na área de energia eólica, solar e biomassa, Suzana Kahn disse acreditar que a velocidade da transformação pode variar, mas é certo que não viveremos em um mundo restrito a fontes de energia poluentes. "Se queremos permanecer em até 2°C, precisamos investir em captura e armazenamento de carbono. O mundo necessita de emissões negativas e o Brasil poderia ser líder em bioenergia com captura de carbono (Bio-CCS)", lembrou Suzana. Ela reafirmou a posição der que o país ainda está em vantagem e não pode perder essa corrida. Apesar de muitas vezes o clima ainda ser visto como cobenefício, é possível ver a transição ocorrendo de forma natural, diante dos custos cada vez menores das energias limpas.

Essa visão foi compartilhada por Rachel, que destacou o enorme potencial do Brasil para plantar árvores. Ela também lembrou que precisamos de mais conhecimento científico sobre como adaptar nossa agricultura a um clima em transformação e como o país precisa dar apoio financeiro a pesquisas sobre a adaptação da agricultura à mudança do clima.