Este artigo foi escrito a pedido do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) para a primeira edição da revista IBGC Análises&Tendências.


O terceiro setor e o mundo corporativo encontram-se pouco na área ambiental em processos construtivos e de vanguarda. Historicamente, houve mais confronto de visões do que de aproximação. Há, no entanto, iniciativas que merecem ser destacadas, como os bons exemplos em que esse encontro é virtuoso e pode ajudar a fazer avançar a agenda ambiental, econômica e social do país. Devem servir de modelo para um diálogo transetorial, multidisciplinar e de apoio ao avanço da economia e democracia no Brasil.

No passado, foi criado o Fórum pela Amazônia Sustentável (FAS), que construiu a agenda de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta. O pacto entre as instituições cresceu até certo ponto, mas não permitiu grandes avanços. Também existiu grande cooperação no âmbito do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC). O fórum foi fundado no início do milênio.

Um espaço mais recente é a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. O movimento começou a ser articulado no fim de 2014 e foi oficialmente lançado em junho de 2015. A Coalizão reúne empresas, associações empresariais, organizações não-governamentais, redes de ONGs e representantes da academia que apoiam a construção de uma economia moderna e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas no setor rural - incluíndo as atividades da agricultura, pecuária e silvicultura.

Em dois anos, o movimento obteve grandes conquistas e posicionou-se publicamente em temas urgentes que requerem proatividade do setor produtivo e da sociedade civil organizada. A Coalizão construiu uma governança participativa e um diálogo aberto, que tem permitido seu constante aprimoramento. E tornou-se referência para formadores de opinião e tomadores de decisão no Brasil e no exterior.

O encontro entre setor produtivo e a sociedade civil na construção de uma visão comum a partir do estado de conhecimento e no âmbito da urgência do desafio climático, não ocorre sem tensões. A ação transformadora requer paciência, dedicação, diálogo e boa comunicação e, sobretudo, um bom modelo de governança. A Coalizão tem mostrado ser um espaço rico para debates, mas também tem sido um palco de enfrentamentos - principalmente quando se instala no país uma crise de governança política e avançam agendas retrógradas em matéria ambiental. Com boa governança, transparência, sabedoria e visão de longo prazo, esses espaços se sustentam e podem até introduzir e patrocinar temas relevantes para o país, como é o caso da implementação do novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) e do Acordo de Clima de Paris. Mas se não houver transparência e clareza de papeis e processos de decisão criados coletivamente, os conceitos se instalam e os avanços não ocorrem, o que prejudica o país.

A competitividade brasileira e seu destaque como potência econômica a partir de uma base de recursos naturais constituem um aspecto inexplorado da relação entre terceiro setor ambiental e o mundo empresarial. Se os líderes desses setores atentarem para isso, perceberão o potencial inexplorado dessa parceria e que unidos poderão gerar modelos de negócios de sucesso, promover a geração de empregos, proporcionar ganhos financeiros e proteger a natureza simultaneamente. Esse pode ser um grande legado do Brasil para a humanidade e o planeta.

A alta gestão das empresas deve atentar a esses desafios para garantir que nas diferentes instâncias de sua governança haja compromisso real com o desenvolvimento sustentável. O olhar de longo prazo deve passar a orientar a tomada de decisão, para garantir produtividade e retorno financeiro, que dependem intrinsecamente da saúde do capital natural e humano. Além disso, hoje se faz urgente um compromisso real com a governabilidade do país, que dependerá de proatividade das lideranças empresariais. Todas as agendas, política, econômica, social, ambiental, estão umbilicalmente conectadas, sendo fundamental a auto-convocação das lideranças de hoje para a construção da economia do amanhã num país tão rico como é o Brasil.