A agropecuária é imprescindível do ponto de vista econômico e social no Brasil. Se o seu desenvolvimento estiver aliado a práticas sustentáveis, é possível aumentar a produtividade e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto no ecossistema e no clima, contribuindo para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e para o cumprimento das metas climáticas, fundamentais para a manutenção do planeta.

Um dos avanços necessários para a promoção de uma agropecuária de baixo carbono é a mensuração e gestão das emissões de GEE na produção do setor, algo que deve ser visto como uma oportunidade de alavancar o mercado brasileiro no cenário internacional.

No final de fevereiro, o WRI Brasil apoiou a Embrapa na realização do Fórum “Oportunidades de precificação de carbono no setor agropecuário”, em Campo Grande (MS), e apresentou a ferramenta GHG Protocolo Agropecuário, criada para apoiar produtores rurais na mensuração e gestão de suas emissões de GEE. O evento contou com a participação de representantes de vários ministérios do governo federal, do estado do Mato Grosso do Sul, da Confederação Nacional de Agricultura, da rede de fomento-ILPF, entre outros.

Embora o setor agropecuário apresente importância significativa para o país (em 2017, o PIB nacional apresentou um avanço devido principalmente ao crescimento de 13% do setor agropecuário), a pecuária, atualmente, está entre as principais atividades responsáveis pelas emissões diretas e indiretas do Brasil. Reduzir as emissões do setor agropecuário está entre as metas da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil, que prevê a restauração de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e o incremento de 5 milhões de hectares de sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas (iLPF) até 2030.

Mas a pecuária, se bem manejada, pode deixar de emitir e passar a sequestrar carbono, invertendo a lógica de atividade altamente emissora. Tecnologias como a integração de lavoura, pecuária e floresta (iLPF), Sistemas Agroflorestais (SAFs), plantio direto, fixação biológica de nitrogênio (a partir do plantio de leguminosas e outras plantas que fixam o nitrogênio no solo, substituindo a adubação e poupando até US$ 3 bilhões ao ano), florestas plantadas e tratamento de dejetos animais são algumas oportunidades de fazer com que a atividade contribua intensamente para a sustentabilidade do país. A carne de baixo carbono pode levar à conquista de novos mercados e gerar maiores rendimentos econômicos.

Ferramenta GHG Protocolo Agropecuário na prática

Durante o fórum foi realizado um workshop sobre a ferramenta GHG Protocolo Agropecuário, criada pelo WRI Brasil em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Gratuita, a ferramenta funciona como uma calculadora de emissões e é adaptada às condições tropicais do território brasileiro. Além disso, ela possibilita mensurar as emissões de uma propriedade e apoiar os produtores rurais na gestão de suas emissões, inclusive identificando as atividades com maior potencial de abatimento das emissões.

Eduardo Assad, da Embrapa, Viviane Romeiro e Talita Esturba, do programa de Mudanças Climáticas do WRI Brasil. "O GHG Protocolo Agropecuário é a primeira ferramenta a incorporar fatores de emissões específicos para o Brasil e a auxiliar os produtores rurais a mensurar as emissões desses gases. Ao estabelecer uma abordagem de manejo sustentável de paisagens, ela permite ao Brasil continuar o desenvolvimento do setor agrícola e ao mesmo tempo reduzir seu impacto nos ecossistemas e no clima. Hoje o setor agropecuário representa aproximadamente um terço das emissões totais de GEE”, explica Viviane.

Viviane Romeiro durante a apresentação no fórum em Campo Grande (foto: Dalízia Aguiar/Embrapa)

Mensurar serve não apenas para diagnosticar, mas para agir. Com os dados colhidos através da ferramenta, o produtor pode estabelecer técnicas de baixo carbono para reduzir os impactos ambientais e, com isso, aumentar a sua produtividade. Segundo Viviane, o produtor pode reduzir a emissão de gases e, ao mesmo tempo, aumentar sua produtividade. Para isso, é preciso adotar técnicas de baixo carbono como, por exemplo, a recuperação de pastagens degradadas ou a adoção da iLPF.

Caminho a ser trilhado para a carne carbono neutro

A Embrapa tem realizado esforços de pesquisa para orientar a redução dos impactos da pecuária brasileira sobre o clima. Um deles é o projeto Carne Carbono Neutro, que tem o pesquisador Eduardo Assad, parceiro do WRI Brasil, como uma das lideranças. Os estudos mostram que o rebanho brasileiro criado em um pasto de qualidade, recuperando áreas degradadas e evitando a abertura de novas áreas, pode tornar-se capaz de neutralizar as emissões através da captura do carbono no solo.

O selo Carne Carbono Neutro tem o objetivo de atestar quando a carne bovina apresenta os volumes de emissão de gases de efeito estufa (GEEs) neutralizados durante o processo de produção, pela presença de árvores em sistemas de integração tipo silvipastoril (Lavoura-Pecuária-Floresta) ou iLPF, por meio de processos produtivos parametrizados e auditados. A marca-conceito pode ser utilizada para carnes bovinas frescas, congeladas ou transformadas, para mercado interno e para exportação, com o objetivo de atestar a sustentabilidade da produção e valorizar esse tipo de produto.