Hoje no cargo de diretora-executiva do WRI Brasil, Rachel Biderman foi uma das responsáveis pela instalação da organização no Brasil. 

Doutora em Administração Pública e Governo pela EAESP - FGV, mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP) e em Direito Internacional com enfoque em Meio Ambiente pela Washington College of Law, da American University, Rachel acredita no poder de articulação do WRI como forma de solucionar grandes desafios globais. No Brasil, a soma do conhecimento científico com a capacidade do interlocução com atores globais tem o objetivo de gerar soluções práticas para três áreas: cidades, clima e florestas. 

Para explicar um pouco a sua trajetória e também como é realizado e financiado o trabalho do WRI Brasil, Rachel conversou conosco para mais um Conheça a Especialista.   

Com o conhecimento acadêmico de um doutorado, dois mestrados e as experiências profissionais na FGV e tantas outras, como você se sente hoje à frente do WRI Brasil? Como foi essa caminhada?

Entrar no WRI foi a realização de um grande sonho. Fiz um mestrado nos Estados Unidos em 1992 e tentei um estágio de mestrado no WRI na época, mas não consegui e fiquei com aquilo na cabeça. Eu já trabalhava com meio ambiente e tinha um olhar para essa organização como uma grande referência. Muitos anos depois, após o doutorado, eu tive a oportunidade de concorrer a uma vaga para ajudar o WRI a instalar sua operação no Brasil. Desde então, me envolvi e há 7 anos venho trabalhando com muita felicidade nessa organização, que é muito séria. É a realização de um sonho para quem está na área de sustentabilidade trabalhar numa organização como o WRI.

 

Para alguém que está descobrindo o WRI, você pode explicar como ele atua? Quais são os pontos fortes da organização?

O WRI é uma instituição que trabalha com pesquisa focada em soluções para gerar impacto em grandes temas. Trabalhamos nos grandes temas globais, ambientais, de sustentabilidade e, no Brasil, escolhemos algumas dessas áreas. Aqui, nosso foco é em Cidades, Florestas e Clima e temos uma prática que considero muito rica que é a de aproximar todos os atores da sociedade para, em volta de uma mesa, articularem e resolverem grandes questões. Normalmente, nós facilitamos processos. Integramos setor privado e setor público, organizações não-governamentais, academia e mídia para pensar em soluções para esses grandes desafios. Acho que esse é nosso grande segredo, tentar entender que é só na soma desses atores que vamos conseguir construir pactos e soluções para as questões de sustentabilidade.

 

Quais são as possibilidades de financiamento para o WRI no Brasil? 

O WRI no Brasil é financiado por parcerias com a própria organização no nível internacional, recebemos doações diretas dos nossos pares, do próprio WRI Global, mas também diretamente de fundações sem fins lucrativos. Também obtemos recursos de governos e através de organizações multilaterais - que são financiadas por governos. Esses recursos todos estão focados em gerar bem público, então recebemos doações para implementar nossos projetos. A nossa atividade é no campo de interesse público, geramos soluções para problemas que a sociedade ou o planeta enfrentam. Então dependemos de filantropia, de doações que são focadas em gerar soluções para grandes desafios. 

 

Você percebe uma sensibilização ou um maior conhecimento por parte da população em relação ao conceito e as práticas de sustentabilidade? Como o Brasil está evoluindo nesse sentido?

O tema de sustentabilidade é uma decorrência de todo o pensamento que veio a partir de uma provocação das Nações Unidas no campo do desenvolvimento sustentável. Sustentabilidade inclui muito mais do que meio ambiente, inclui também um equilíbrio nas relações sociais, no pilar econômico, e essa conjugação é que integra o conceito de sustentabilidade. O WRI atua nessa frente, estamos olhando para desafios de ordem econômica, financeira, no tema político, às vezes na questão de governança. Essa conjugação é que permite a sustentabilidade.

O nível de conhecimento hoje no país é muito elevado. O Brasil sediou, em 1992, a grande conferência da ONU sobre o desenvolvimento sustentável, a Rio-92. Dez anos depois, tivemos a Rio+10, conferência posterior onde atestou-se, através de pesquisas, que a preocupação do brasileiro com o meio ambiente é muito grande. Acredito que o nível de consciência aumentou muito. No episódio dos Jogos Olímpicos tivemos uma grande celebração do Brasil como um país que tem a riqueza dos recursos naturais. Ou seja, até em uma Olimpíada o Brasil se mostra com esse nível de consciência nas temáticas ambientais. A questão aqui não é nível de conhecimento das riquezas naturais ou dos problemas ambientais, nosso maior desafio é agir sabendo que temos problemas a enfrentar nas cidades e no campo. Hoje, no campo do conhecimento acredito que temos o desafio resolvido. A busca é por implementação, por mais ação.

 

Qual a importância da presença de uma instituição como o WRI para o Brasil?

O WRI opera no Brasil a partir de dois escritórios, em Porto Alegre e São Paulo, mas temos presença em vários lugares, mais de 20 cidades, e também trabalhamos em parceria com o governo federal, estadual e municipal, organizações não-governamentais e empresas em todo o país. Temos um grupo de 70 pessoas, colaboradores que estão atuando nas diferentes frentes e trabalhamos buscando resultados muito concretos. Usamos o melhor da ciência para gerar soluções práticas para desafios como transporte sustentável, mudanças climáticas, na área de florestas o nosso foco é restauração de áreas degradadas e geração de uma economia agroflorestal sustentável. Estamos olhando para importantes respostas a partir de grandes problemas.

A riqueza que o WRI agrega ao Brasil é a sua capacidade de interlocução com atores do mundo inteiro, de trazer boas experiência de sucesso para cá, seja no campo, na floresta ou nas políticas climáticas. Fazer parte de um grupo muito sólido que pesquisa e analisa criticamente os grandes temas de sustentabilidade agrega muito para o Brasil. Temos o nosso nicho bem identificado no Brasil, procuramos somar a outras organizações que já têm bons trabalhos, sempre articulando, somando e nunca dividindo. Nosso perfil é de aproximação, de colaboração e não de competição. Acho que é por isso que o WRI é tão bem-vindo no contexto dos temas de cidades, clima, florestas e agricultura, pois pode somar às outras organizações da sociedade que estão tentando construir um Brasil melhor.