Este post foi escrito por Katherine Ross e Jessica Seddon e publicado originalmente no WRI Insights.


Mais de sete milhões de pessoas morrem de forma prematura todos os anos por causa da poluição do ar. É o equivalente à população inteira de Hong Kong morrer devido a um problema que, em última instância, é evitável.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) está voltou sua atenção ao assunto na primeira conferência global para melhorar a qualidade do ar, combater as mudanças climáticas e salvar vidas. É hora de unir todos os aliados na luta por um ar mais limpo. À medida que lideranças políticas, comunitárias e científicas se preocupam com os impactos da poluição atmosférica na saúde pública, o universo climático oferece alguns instrumentos eficientes para gerar ações mais incisivas.

A poluição do ar é um desafio climático e de saúde

Um relatório recente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) defendeu a ação climática de forma mais rigorosa do que nunca: o mundo está muito longe de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, limite necessário para evitar os piores impactos das mudanças no clima. Precisamos mudar rapidamente de rumo para eliminar o carvão, aumentar as energias renováveis, melhorar a eficiência energética e revolucionar a maneira como produzimos alimentos – tudo isso enquanto crescemos de maneira sustentável, melhorando a qualidade do ar e proporcionando uma vida melhor às pessoas.

Essa atenção é uma força tanto para metas climáticas quanto de saúde. Um fato pouco discutido é que as causas da poluição do ar e das mudanças climáticas se sobrepõem. Em alguns casos, na verdade, os químicos são os mesmos.

Poluentes climáticos de vida curta, como metano, carbono negro, hidrofluorcarbonetos (HFCs) e ozônio troposférico, têm um efeito poderoso nas temperaturas globais, e muitos deles também são poluentes atmosféricos. O metano, por exemplo, é um dos mais potentes gases de efeito estufa, com impacto no aquecimento global 86 vezes mais alto do que o dióxido de carbono em um horizonte de 20 anos. É também o maior precursor do ozônio no nível do solo, um componente importante do smog, que pode agravar a bronquite e a asma e danificar o tecido pulmonar. Estima-se que só a exposição ao ozônio troposférico é responsável por cerca de um milhão de mortes prematuras a cada ano.

Em outros casos, poluentes prejudiciais à saúde e compostos relacionados às mudanças climáticas são emitidos ao mesmo tempo. Por exemplo: quando o carvão queima para produzir energia, partículas finas, prejudiciais à saúde e às vezes carregadas com mercúrio tóxico, são liberadas na atmosfera junto a gases de efeito estufa como dióxido de carbono, metano e óxido de nitrogênio.

Fortalecer os compromissos climáticos vai melhorar a qualidade do ar

Os instrumentos para a ação climática podem dar início a um movimento para melhorar a qualidade do ar e da saúde pública. Nós deveríamos utilizá-los.

O Acordo de Paris, por exemplo, pede que os países submetam suas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) até 2020. São instrumentos poderosos para direcionar o financiamento e reverter a trajetória das emissões. Isso não apenas é necessário não apenas para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, como faz sentido economicamente: uma pesquisa do New Climate Economy mostra que ações climáticas fortes podem resultar em uma economia global de US$ 26 trilhões até 2030.

Colocar os poluentes de vida curta no centro das NDCs poderia levar a um avanço tanto nas metas climáticas quanto nas relacionadas à saúde. Um estudo recente comprova que combater as mudanças climáticas pode prevenir mortes relacionadas à poluição – um benefício que supera em muito os custos de reduzir emissões. Na verdade, o valor dos benefícios para a saúde pode às vezes ser mais do que o dobro dos custos dos esforços de mitigação. Para a China e a Índia, o custo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa pode ser compensado apenas com os ganhos em saúde.

Um novo estudo do WRI e da Oxfam apresenta algumas alternativas de como os países podem incorporar metas, políticas e ações envolvendo poluentes climáticos de vida curta e setores-chave relacionados às NDCs. Isso permitirá que os países colham benefícios quase imediatos em termos de clima e saúde e, ao mesmo tempo, garante que os menos responsáveis pelas mudanças climáticas não tenham de lidar sozinhos com seus impactos mais severos.

Combatendo os poluentes climáticos de vida curta

É importante notar que combater as mudanças climáticas e reduzir riscos relacionados à poluição do ar não são a mesma coisa. A exposição – o encontro entre pessoas e poluentes – é determinante para a saúde, enquanto a qualidade do ar – a concentração de poluentes no ar independentemente de as pessoas o respirarem ou não – é o foco nas mudanças climáticas. Mas alinhar ações pela saúde com ações de combate às mudanças no clima poderia trazer diversas estratégias inovadoras. Combater os poluentes climáticos de vida curta é uma importante via para reduzir a poluição do ar e controlar as mudanças climáticas.