A Estação de Tratamento de Água (ETA) Guandu, controlada pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), é uma das maiores do tipo do mundo. Ela recebe água do rio Guandu para abastecer 92% da população da região metropolitana do Rio de Janeiro, trata 43 mil litros de água por segundo e abastece uma população de 9 milhões de pessoas.

A água que chega a ETA Guandu é barrenta e turva. Esse barro - na verdade o que chamamos de sedimentos - exige uma grande quantidade de produtos químicos para tornar a água limpa para o consumo da população carioca. Segundo a própria Cedae, são gastos 140 toneladas de sulfato de alumínio, 30 toneladas de cloreto férrico, 15 toneladas de cloro, entre outros produtos, por dia. São produtos que custeados pelo dinheiro contribuinte carioca. E se houvesse uma forma de reduzir esses gastos?

Um novo estudo mostra que há uma alternativa, até o momento não avaliada pelos gestores, para economizar recursos no tratamento da água que abastece o Rio de Janeiro: plantar florestas. O estudo, chamado “Infraestrutura Natural para Água no Sistema Guandu”, mostra que a restauração de 3 mil hectares de florestas na bacia do Guandu pode reter parte do sedimento, fazendo com que a água chegue mais limpa na ETA Guandu. O resultado é uma economia de R$ 156 milhões em 30 anos, com um retorno de investimento de 13% - um resultado econômico compatível com os investimentos no setor de abastecimento de água.

Ou seja, vale a pena investir em florestas para ter água mais limpa e tratamento mais barato.

Florestas como Infraestrutura Natural

A principal mensagem do estudo é colocar em evidência como a conservação e restauração de áreas verdes podem ter um papel de infraestrutura para o abastecimento de água. Uma área com floresta permite que menos sedimentos, como terra e sujeira, sejam lançados aos rios pelo efeito de chuvas ou do tempo, tornando os corpos d’água que abastecem os reservatórios mais limpos. No caso da bacia do Guandu, o estudo identificou que a restauração dos 3 mil hectares em áreas prioritárias - em geral áreas de pastagem altamente degradada - faria com que a floresta segurasse um terço dos sedimentos. É graças a esse poder de filtragem que a floresta têm que ela pode gerar economia para o contribuinte carioca.

Mas esse não é o único motivo pelas quais as florestas são importantes - foi apenas o único calculado pelo estudo. As áreas de vegetação nativa têm papel importante na questão climática, já que elas controlam o micro-clima no local e sequestram carbono da atmosfera, ajudando a mitigar o aquecimento global. São importantes para proteger a nossa biodiversidade, e podem ser destinadas para uso econômico, como na produção de árvores frutíferas ou produtos florestais não-madeireiros.

O estudo incentiva os tomadores de decisão a compreender a floresta como um investimento econômico em infraestrutura. Dessa forma, gestores e governantes podem colocar a restauração em seus planos de melhoria do abastecimento. Aliada a infraestrutura convencional, as florestas podem ajudar as cidades a enfrentar o grande desafio de abastecer uma população crescente com água de qualidade em quantidade suficiente.

São Paulo

O estudo foi desenvolvido pela parceria entre WRI Brasil, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e The Nature Conservancy (TNC), Fundação FEMSA, União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), Instituto BioAtlântica (IBio) e Natural Capital Project. O especialista em infraestrutura natural do WRI Brasil, Rafael Feltran-Barbieri, é um dos autores do trabalho.

O relatório é o segundo a analisar o papel da infraestrutura natural nas finanças do saneamento de uma cidade brasileira. O primeiro estudo foi publicado em setembro, quando os autores avaliaram o impacto da restauração florestal no Sistema Cantareira, em São Paulo. Assim como no Rio, a análise no abastecimento paulista mostrou que a Sabesp poderia ter um retorno de investimento ao plantar florestas na bacia da Cantareira.