A implementação de uma Rua Completa é uma conquista a ser celebrada em uma cidade. Um projeto que chega a se tornar realidade é uma indicação de que a mobilidade urbana da região está sendo pensada em prol do uso mais democrático do espaço e da segurança de todos os seus usuários. Mesmo assim, medir o impacto dessas intervenções é de vital importância para orientar futuras ações no local. A primeira Rua Completa de São Paulo, a Rua Joel Carlos Borges, no Brooklin, passou por uma avaliação dois meses após sua implantação, a qual concluiu que 92% dos usuários da via aprovam o projeto e acreditam que as mudanças são benéficas.

A intervenção na Rua Joel Carlos Borges foi implementada pela Prefeitura Municipal de São Paulo em setembro de 2017 e é a primeira rua completa do projeto da Rede Nacional Para a Mobilidade de Baixo Carbono. O estudo de impacto foi desenvolvido pelo Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e utilizou uma metodologia própria que compara o efeito das mudanças na Rua Joel com o impacto em uma rua de controle, que não foi alterada, a Rua Gomes de Carvalho. Essa segunda via foi escolhida pelas suas características semelhantes a Rua Joel. O método tem o objetivo de, ao incluir a análise de contra factuais dos indicadores, fortalecer a atribuição dos resultados do estudo à intervenção na rua Joel e não a outros fatores circunstanciais.

A elaboração dos questionários foi coordenada pelo LABMOB, junto ao WRI Brasil e em parceira com a ONG Cidade Ativa. A aplicação do estudo em campo foi feita pelas equipes do Cidade Ativa e do Metrópole 1:1. A pesquisa utilizou três métodos de coleta de dados: questionários para passantes e comerciantes, formulários para coletar informações sobre o ambiente construído e medições de fluxos, travessias e permanências. Victor Andrade, coordenador do LABMOB, afirma que esse tipo de estudo possibilita a coleta de dados e uma análise acurada que traz subsídios para uma avaliação da eficiência e eficácia de projetos urbanos. "É possível avaliar se o dinheiro público investido em determinado projeto urbano alcançou as expectativas esperadas ou não e qual foi o seu retorno para a cidade e a sociedade", ressalta.

As entrevistas realizadas constataram que 92% das pessoas que circulam pela Rua Joel Carlos Borges aprovam a intervenção e acreditam que seu impacto é benéfico. Sobre os elementos da intervenção que foram destacados pelos entrevistados, os principais foram as faixas verdes – espaços de 1,5 metro a 2 metros de largura e que aumentaram de 29% para 70% o espaço viário designado exclusivamente para os pedestres –, seguidas pelo aumento de espaço do pedestre e pelos balizadores.

Ao comparar as respostas em relação à percepção de segurança na via, 80% das pessoas que passam pela Rua Joel consideram a via segura, enquanto apenas 49% dos passantes entrevistados na Rua Gomes de Carvalho dizem se sentir seguros.

O estudo também demonstra que os comerciantes possuem uma visão equivocada sobre como seus clientes acessam seus estabelecimentos. Quatro dos nove comerciantes formais da Rua Joel declararam acreditar que a maioria de seus clientes chega de carro. No entanto, apenas 7% das pessoas que afirmaram consumir algo na Rua Joel disseram acessar a região de carro, enquanto 59% chegam a pé, 28% de trem e 4% de ônibus – totalizando 91% dos consumidores.

A análise das travessias de pedestres concluiu que a localização das faixas ainda não segue as linhas de desejo dos pedestres. Por conta do alto fluxo de pessoas, principalmente nos horários de pico, ainda é frequente a presença de pessoas caminhando pelo leito carroçável. Foi observado também que usos temporários do espaço para os pedestres, como o comércio de ambulantes, também obstruem as calçadas e fazem com que as pessoas circulem no asfalto.

Os consumidores do comércio formal e informal foram vistos também sentados em locais improvisados, o que aponta a necessidade de um mobiliário de permanência tanto na Rua Joel quanto na Rua Gomes de Carvalho. "Esse é um indicativo da demanda pela ampliação do espaço da rua amigável ao pedestre. A resposta a essa demanda pode ser dada de diferentes formas de acordo com as especificidades da rua analisada", explica Victor. Algumas das possibilidades apontadas por ele são a pedestrianização da rua, ampliação da calçada e criação de espaço compartilhado com zona de baixa velocidade.

A intervenção na Rua Joel Carlos Borges é fruto da parceria entre WRI Brasil e Frente Nacional de Prefeitos (FNP), com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e da Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito. Para aprender mais sobre os princípios e benefícios de Ruas Completas, confira a série de Seminários Online Ruas Completas.