Todos os meses, cientistas fazem novas descobertas que avançam nossa compreensão sobre as causas e os impactos das mudanças climáticas. As pesquisas nos dão uma noção mais clara das ameaças que já enfrentamos e apontam o que ainda está por vir se não reduzirmos as emissões em um ritmo mais rápido.

A série “Este mês na ciência climática”, do WRI, faz um resumo das pesquisas mais significativas de cada mês, compiladas de publicações científicas reconhecidas. Nesta edição são explorados alguns dos estudos publicados em janeiro de 2018. (Para receber esse conteúdo diretamente em seu e-mail, em inglês, cadastre-se na newsletter “Hot Science”, do WRI.)

Emissões e temperatura

2018 é o quarto ano mais quente já registrado: em janeiro, o Berkeley Group anunciou que 2018 foi o quarto ano mais quente já registrado, fazendo dos últimos cinco anos mais quentes desde que há registros. Os dados foram posteriormente confirmados pela Nasa, a agência espacial americana, e a NOAA, a agência americana de oceanos e atmosfera.

Emissões dos EUA aumentaram em 2018: uma nova análise do Rhodium Group fornece uma estimativa preliminar para as emissões de dióxido de carbono dos EUA em 2018. Após três quedas consecutivas, eles concluem que as emissões subiram em 3,4%, resultando no segundo maior aumento anual das últimas duas décadas. O setor de Transportes contribui com a maior parte do aumento.

Aumento das temperaturas do permafrost: a temperatura do permafrost, um solo típico do Ártico, costuma ficar abaixo de 0˚C. Porém, por conta do aumento de temperatura causado pelo homem, as médias estão aumentando. Usando dados de uma rede de monitoramento do permafrost, cientistas descobriram que entre 2007 e 2016 a temperatura do solo aumentou cerca de 0,3˚C. O aquecimento aumenta as possibilidades da degradação do permafrost e a emissão de gases de efeito estufa como o metano.

Emissões de metano aumentam na China: a China emite mais metano antropogênico do que qualquer outro país, principalmente por conta da mineração de carvão. Apesar de apresentar regulações desde 2010 para retirar e usar o metano que fica preso nas minas, as emissões de metano do país continuam crescendo. com média de cerca de 1,1 milhão de toneladas por ano entre 2010 e 2015. Os autores sugerem que a regulação não teve impacto discernível.

Comportamento do oceano

2018 registou um aquecimento recorde do oceano: com uma nova análise para a temperatura do oceano da superfície até 2 mil metros de profundidade, pesquisadores descobriram que 2018 marcou um novo recorde no aumento da temperatura. Os últimos cinco anos foram os cinco mais quentes. O aquecimento do oceano tem acelerado desde 1990.

Correntes do fundo do oceano se comportam de forma diferente do que modelos sugeriam: a circulação das correntes do oceano profundo no Atlântico, conhecida como Atlantic Meridional Overturning Circulation (AMOC), distribui calor e regula o clima no Hemisfério Ocidental. O AMOC pode estar correndo o risco de perder velocidade como resultado do aquecimento. Pesquisadores passaram 21 meses observando a circulação e descobriram que, ao contrário do que modelos mostravam, o local onde a corrente dá a volta está acontecendo a leste da Groenlândia, em vez de a oeste. Esses novos dados ajudarão a melhorar os modelos para melhorar o entendimento sobre os riscos para o clima do Atlântico Norte se a corrente diminuir ou parar.

A Pequena Idade do Gelo deixou marcas no Pacífico: pode levar milhares de anos para as áreas mais profundas do Pacífico se ajustarem às anomalias de temperatura e, por isso, dizem que o oceano tem longa memória. Pesquisadores recentemente descobriram que o no fundo do Pacífico as águas ainda estão se ajustando ao declínio de temperatura que aconteceu durante a Pequena Idade do Gelo, no século 16. Enquanto a maior parte do oceano está aquecendo por conta das emissões de gases de efeito estufa, o Pacífico profundo pode estar esfriando por causa desse evento de séculos passados.

O aquecimento do oceano está sendo mais rápido do que o previsto: mais de 90% do calor retido pelas emissões de gases de efeito estufa se acumula no oceano. Cientistas encontraram concordância entre as várias linhas de medição de temperatura dos oceanos do mundo e concluíram que eles têm aquecido cerca de 40% mais rápido do que o IPCC estimou em seu último relatório.

Impactos

Aquecimento pode afetar seu café da manhã: estudando o risco de extinção para espécies de café silvestre, pesquisadores concluíram que pelo menos 60% de todas as espécies de café estão ameaçados de extinção. Eles descobriram que, embora existam vários riscos para as variedades de café, incluindo doenças e desmatamento, o clima é uma ameaça significativa, dadas as projeções de secas mais longas e a disseminação de patógenos. Se essas variedades silvestres de café desaparecerem, pode ser mais desafiador para os cientistas criar novas variedades que possam se adaptar a um planeta mais quente e seco.

Clima influencia pedidos de asilo: examinando dados sobre pedidos de refúgio em 157 países, pesquisadores descobriram que as condições climáticas contribuem para secas mais severas e maiores conflitos armados, o que está associado a pedidos de asilo entre 2011 e 2015. Isso foi particularmente verdadeiro para países do oeste da Ásia e do norte da África entre 2010 e 2012, que estavam passando por transformações políticas associadas à Primavera Árabe.

As plantas absorvem menos dióxido de carbono: neste mês, cientistas descobriram que, como resultado das mudanças induzidas pelo clima na umidade do solo, o sumidouro de carbono da terra será reduzido. Eles sugerem que qualquer aumento na absorção de carbono devido à fertilização do carbono pode não continuar na segunda metade do século, resultando em um rápido aumento nas concentrações de dióxido de carbono.

Aquecimento e problemas cardíacos em bebês: estudando várias regiões dos Estados Unidos, pesquisadores constataram que a exposição materna ao calor durante os primeiros estágios da gravidez pode contribuir para o aumento de defeitos cardíacos congênitos. Os autores dizem que a exposição ao calor durante as primeiras semanas de gravidez pode levar à morte de células fetais ou interferir na síntese de proteínas.

Uso de eletricidade mais alto na China: pesquisadores projetam que o consumo anual de eletricidade no Delta do Rio Yangtze aumentará em cerca de 9% para cada aumento de 1°C nas temperaturas médias globais. Os autores esperam que os resultados possam ajudar a embasar futuros esforços de planejamento em relação à capacidade da rede. Poucos estudos até agora se concentraram nos impactos climáticos sobre o consumo de eletricidade em países não ocidentais.

Biodiversidade

Focas, baleias e pinguins preferem o frio: surpreendentemente, a diversidade de espécies de mamíferos marinhos e aves é maior quando os mares são frios em latitudes temperadas (ao contrário de outras espécies que tendem a ter maior diversidade nos trópicos). Em um novo estudo, pesquisadores estabeleceram uma teoria de porque isso ocorre: descobriram que as aves e os predadores de sangue quente (como baleias e focas) ficam mais alertas em águas mais frias e as presas de sangue frio (como peixes) tendem a ficar mais lentas, o que dá uma vantagem de caça. Eles observam que o aumento da temperatura dos oceanos pode ter impactos negativos sobre as populações de mamíferos e aves, alterando o equilíbrio das espécies em todo o mundo.

Ondas de calor nos oceanos e o colapso das estrelas-do-mar: uma doença misteriosa atacou as estrelas marinhas e gerou uma epidemia em mais de 20 espécies, do Alasca ao México. Os cientistas descobriram que o pico de declínio de uma espécie comum de estrelas marinhas, que praticamente desapareceu, ocorreu ao mesmo tempo em que houve anomalias de aquecimento na temperatura da superfície do mar. Eles sugerem que o declínio generalizado das espécies poderia levar a impactos em cascata no ecossistema.

Migração do krill para o sul: pesquisadores descobriram que a distribuição de krill, pequenos crustáceos semelhantes ao camarão, que formam a base da cadeia alimentar, declinou nas áreas do norte nos últimos 90 anos, e as populações estão se concentrando em direção à Antártida em consequência do aquecimento das águas. Os autores observam que a mudança na distribuição já está afetando a cadeia alimentar.

Gelo

Gelo dos mares da Antártida já tem um mau resultado para 2019: o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo documentou que a extensão do gelo na Antártida era de apenas 5,5 milhões de quilômetros quadrados em 1º de janeiro de 2019. Essa é a menor extensão de gelo marinho registrada pelo satélite em 40 anos para o período. Eles também descobriram que a taxa de perda de extensão de gelo para dezembro de 2018 foi a mais rápida já registrada por satélite.

Aumento de seis vezes na perda de gelo na Antártida: usando dados de registro de satélite, cientistas estimam que a perda da cobertura de gelo da Antártida acelerou rapidamente nas últimas quatro décadas – de aproximadamente 40 bilhões de toneladas por ano entre 1979 e 1990 para cerca de 252 bilhões de toneladas por ano entre 2009 e 2017. A perda de gelo foi maior onde houve a entrada de águas quentes. Os cientistas estimam que a contribuição do gelo antártico para a elevação global do nível do mar atingiu 3,6 mm por década, com um acúmulo de 14 mm desde 1979. Os pesquisadores alertam que pode haver mais gelo exposto a águas quentes do que se pensava, especialmente na Antártida Oriental, o que poderia contribuir para o aumento do nível do mar se a mudança climática persistir.

Abaixo da superfície da geleira de Thwaites: a geleira de Thwaites na camada de gelo da Antártida está sujeita a um rápido recuo e contribui significativamente para o aumento do nível do mar. Pesquisadores descobriram agora uma grande cavidade subaquática, dois terços do tamanho de Manhattan, que costumava conter 14 bilhões de toneladas de gelo, mas grande parte dela derreteu em apenas três anos. A presença de uma cavidade como essa permite que as águas quentes avancem para mais abaixo da geleira. Os cientistas sugerem que os modelos estão subestimando a rapidez com que a geleira está perdendo gelo.

Ponto crítico já foi cruzado na Groenlândia: Pesquisas anteriores se concentravam na perda de gelo do mar das geleiras expostas ao oceano, conhecidas como geleiras de descarga marítima, no sudeste e noroeste da Groenlândia. Pesquisadores descobriram agora que a maior aceleração da recente perda de gelo veio do sudoeste da Groenlândia, que não tem tantos glaciares de terminação marinha. Os autores sugerem que um ou mais pontos críticos ou limiares foram cruzados desde o início do milênio, o que desencadeou o rápido degelo. Eles alertam que o sudoeste da Groenlândia contribuiria muito para o aumento do nível do mar no futuro com o aquecimento em curso.

Metano do derretimento da Groenlândia: o metano é um gás de efeito estufa 28 vezes mais potente na captura de calor do que o dióxido de carbono. Os cientistas descobriram agora que o metano produzido abaixo da camada de gelo da Groenlândia – a partir de carbono inorgânico e de carbono antigo enterrado sob o gelo – está sendo liberado na água durante a estação de derretimento. Os autores sugerem que os vazamentos de metano do degelo de geleiras foram subvalorizados e devem ser incorporados aos esforços para estimar a quantidade de metano da Terra.

Perda de cobertura de gelo em lagos: Até o momento não houve uma avaliação abrangente em larga escala da perda de gelo de lagos. Pesquisadores já documentaram 14.800 lagos que são vulneráveis a invernos sem gelo no hemisfério norte. Esse número sobe para 35.300 com 2˚C de aquecimento, impactando até 400 milhões de pessoas, dada a sua dependência do gelo para a colheita de peixe, transporte, lazer, tradições culturais e outros serviços.