Este post foi escrito por Kelly Levin e Dennis Tirpak e publicado originalmente no Insights.


Todos os meses, cientistas fazem novas descobertas que avançam nossa compreensão sobre as causas e os impactos das mudanças climáticas. As pesquisas nos dão uma noção mais clara das ameaças que já enfrentamos e apontam o que ainda está por vir se não reduzirmos as emissões em um ritmo mais rápido.

A série “Este mês na ciência climática”, do WRI, faz um resumo das pesquisas mais significativas de cada mês, compiladas de publicações científicas reconhecidas. Nesta edição são explorados alguns dos estudos publicados em abril de 2019. (Para receber esse conteúdo diretamente em seu e-mail, em inglês, cadastre-se na newsletter “Hot Science”, do WRI.)

Impactos

  • Mudanças climáticas levando à desigualdade econômica: cientistas descobriram que, ao longo das últimas décadas, o aquecimento prejudicou o crescimento econômico de muitos países mais pobres localizados em regiões de temperaturas mais altas e, ao mesmo tempo, melhorou as condições para países ricos de clima mais frio. Os autores mostraram que a desigualdade de renda per capita entre os países mais pobres e mais ricos é 25% maior do que seria na ausência de aquecimento induzido pelo homem. O estudo concentrou-se principalmente nas perdas médias entre 1961 e 2010.

  • Taxas alarmantes de perda florestal: dados do Global Forest Watch revelaram que o mundo perdeu 12 milhões de hectares da cobertura de florestas tropicais em 2018, a quarta maior perda anual desde que começaram os registros. Entre outros impactos, a perda florestal tem implicações significativas na absorção de carbono da atmosfera.

  • O desaparecimento das florestas nubladas: pesquisadores avaliaram os impactos das mudanças do clima nas florestas nubladas tropicais e descobriram que até 80% delas vai secar ou encolher nos próximos 25 a 45 anos. No México, na América Central, no Caribe, nas áreas mais ao norte da América do Sul e em parte do Sudeste do Brasil, 100% dessas florestas serão afetadas. Florestas nubladas tropicais abrigam alguns dos mais altos níveis de biodiversidade e fornecem importantes serviços ecossistêmicos, como fornecimento de água e habitat para muitas espécies.

  • Recuperação dos recifes: a Grande Barreira de Coral passou por eventos sem precedentes de branqueamento induzido pelo calor em 2016 e 2017. Um novo estudo descobriu que as larvas de coral diminuíram em 89%, prejudicando drasticamente a recuperação dos recifes.

  • Espécies marinhas mais suscetíveis ao aquecimento: um estudo mostrou que as espécies marinhas têm mais sensibilidade ao aquecimento do que as terrestres. Extinções locais foram duas vezes mais altas entre espécies marinhas em relação às terrestres.

  • Populações de pinguins-imperador em declínio: ao longo dos últimos três anos, pesquisadores documentaram o “quase total fracasso reprodutivo” da segunda maior população de pinguins-imperador do mundo, localizada na Baía de Halley. Embora tenha havido alguma variação no sucesso reprodutivo de ano para ano, um período como esse de falha prolongada é sem precedentes. E coincidiu com um clima extremo, incluindo o mais forte El Niño dos últimos 60 anos e um recorde de queda na cobertura de gelo. Curiosamente, uma população de pinguins de uma colônia do sul aumentou no mesmo período, sugerindo que alguns dos pinguins da Baía de Halley podem ter migrado para lá em busca de condições mais favoráveis.

  • Mais zonas mortas: cientistas analisaram tendências históricas nas hidrovias dos Estados Unidos e descobriram que a precipitação anual, bem como as chuvas extremas e as temperaturas mais quentes da primavera, estão provocando “zonas mortas” e a proliferação de algas. A precipitação extrema pode aumentar o escoamento agrícola, levando a uma maior poluição por nitrogênio nas águas.

  • Impactos de extremos concomitantes: muitos estudos olham para eventos extremos como secas e ondas de calor de forma individual. No entanto, às vezes eles acontecem ao mesmo tempo. Um novo estudo usou uma técnica para avaliar extremos climáticos concomitantes e identificar regiões produtoras de trigo vulneráveis, que podem passar por períodos de calor e secas ao mesmo tempo. Especificamente, os pesquisadores encontraram uma conexão direta entre a seca e o estresse por calor na Austrália, no Canadá, na União Europeia e nos Estados Unidos. Isso é importante porque extremos podem levar a mais perdas econômicas e choques no mercado.

Gelo

  • O rápido derretimento da Antártica: a plataforma de gelo Ross ocupa cerca de um terço da área total de gelo da Antártica. Cientistas descobriram que uma parte essencial para a estabilidade de toda a plataforma está derretendo dez vezes mais rápido que a média.

  • A perda de gelo na Antártida poderia desacelerar: depois que o gelo se desfaz, essa mudança repercute na terra sólida em algum grau, de forma similar a como “um colchão sobe depois que alguém sai da cama”. Cientistas comprovaram que, a longo prazo – 350 anos no futuro –, esse mecanismo vai desacelerar a perda de gelo na Geleira Thwaites, na Antártida, em 38%. No entanto, os glaciologistas alertam que existem muitos outros fatores que alimentam a desintegração da camada de gelo da Antártida.

  • Perda exponencial de gelo na Groenlândia: estudando dados de 260 geleiras da Groenlândia entre 1972 e 2018, cientistas descobriram que a perda de gelo aumentou seis vezes desde 1980. Também descobriram que o nível do mar subiu 13,7 milímetros desde 1972, e cerca de metade desse aumento ocorreu apenas nos últimos oito anos.

  • O derretimento do Ártico vai custar caro: pesquisadores mostraram que o derretimento do permafrost no Ártico e as mudanças na refletividade da superfície vão custar US$ 67 trilhões em perdas econômicas mesmo se os compromissos climáticos dos países forem implementados. Limitar o aumento da temperatura média global entre 1,5°C e 2°C reduziria esse prejuízo a US$ 24,8 trilhões e US$ 33,8 trilhões, respectivamente.

  • O derretimento das geleiras aumenta o nível do mar mais do que se pensava: pesquisadores descobriram que o aumento do nível do mar a partir do derretimento de geleiras pode ser mais alto do que se estimava previamente. A perda de gelo das geleiras contribui atualmente para 25% a 30% da elevação observada do nível do mar, e as geleiras de algumas cadeias de montanhas podem desaparecer por completo ainda neste século.

  • Desaparecimento dos Alpes europeus: análises revelaram que, se limitarmos o aumento da temperatura do planeta entre 1,5°C e 2°C, os Alpes europeus perderão cerca de metade de seu gelo até a metade do século. Se as emissões continuarem inalteradas, as geleiras naquela região diminuirão em 94% até o final do século.

  • Derretimento de geleiras em Patrimônios Mundiais: pesquisadores avaliaram os impactos do clima em 19 mil geleiras de locais considerados Patrimônios Mundiais e descobriram que entre 33% e 60% de seu volume de gelo pode desaparecer até o fim deste século.

Emissões

  • Concentrações de dióxido de carbono mais altas hoje do que nos últimos 3 milhões de anos: cientistas estimaram que as concentrações de dióxido de carbono observadas hoje não têm precedentes nos últimos três milhões de anos. Os autores constataram que a falha em limitar o aumento da temperatura global em 2°C colocará o planeta em “condições climáticas que vão além de tudo o que já foi experimentado no atual período geológico”.

  • O aquecimento pode ser maior do que o esperado: anteriormente os cientistas haviam previsto que dobrar a quantidade de dióxido de carbono em relação aos níveis pré-industriais causaria um aumento de 2°C a 4,5°C na temperatura. Artigo na revista Science, porém, mostrou que os últimos modelos desenvolvidos para o próximo IPCC revelaram que, na verdade, essa concentração de dióxido de carbono levaria a um aumento de 5°C na temperatura ou até mais. Se essas análises preliminares estiverem corretas, os impactos do clima serão ainda mais severos do que se imaginava.

  • Emissões subestimadas nas areias betuminosas do Canadá: usando medições de aeronaves, cientistas descobriram que as emissões anuais das atividades de mineração nas areias betuminosas no Canadá são 64% mais altas do que os dados anteriores sugeriam. Os autores disseram que as diretrizes de inventário de gases de efeito estufa talvez precisem ser atualizadas.

  • Emissões do permafrost mais altas do que se acreditava: o óxido nitroso é um potente gás de efeito estufa. Os cientistas há muito presumiam que o derretimento do permafrost emite dióxido de carbono e metano, mas apenas quantidades insignificantes de óxido nitroso. Voando sobre o permafrost na encosta norte do Alasca os cientistas descobriram que as emissões de óxido nitroso apenas no mês de agosto foram iguais ao limite mais alto a que anteriormente se acreditava chegar em um ano na região.

  • Emissões massivas originadas pela produção de plástico: a produção de plástico quadruplicou ao longo dos últimos 40 anos. Um novo estudo mostrou que sem estratégias para reduzir de forma drástica o consumo de plástico, o ciclo de vida das emissões originadas em sua produção vai crescer de 1,7 gigatoneladas de CO2 em 2015 para 6,5 gigatoneladas até 2050. Como referência, todas as emissões dos Estados Unidos em 2016 somaram 5,8 gigatoneladas de C02.

  • O impacto das emissões das filiais de multinacionais dos Estados Unidos: pela primeira vez, pesquisadores avaliaram as emissões associadas às filiais estrangeiras de multinacionais dos Estados Unidos. O estudo descobriu que a pegada de carbono da operação dessas empresas seria o 12º lugar entre os maiores emissores do mundo, em um patamar similar ao da Austrália ou do Reino Unido.

Oceanos

  • Por que o oceano sequestra carbono? Cientistas pesquisaram as maneiras pelas quais o oceano sequestra dióxido de carbono e identificaram uma “bomba de injeção de partículas”, uma série de processos físicos e biológicos que movem o carbono através da água ou pelos animais. Essa “bomba” recém-identificada sequestra quase tanto carbono quanto a bem-estabelecida bomba gravitacional. Trata-se de um avanço significativo, uma vez que os mecanismos conhecidos até então, como a bomba gravitacional, explicavam apenas parcialmente o armazenamento de carbono pelos oceanos. Outro estudo publicado neste mês sugere que o armazenamento de carbono oceânico diminuirá devido ao aquecimento.

Clima extremo

  • O aquecimento aumentou as chances de chuvas como as do Furacão Maria: cientistas estudaram mais de 60 anos de dados de precipitações e descobriram que o Furacão Maria levou à maior quantidade de chuvas em Porto Rico desde 1956. A análise mostra que o aquecimento tornou esse tipo de precipitação severa quase cinco vezes mais provável de acontecer.