A indústria no Brasil não figura entre os maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE), porém, apresenta lugar de destaque quando inserida no setor energético, perdendo em emissões somente para o setor de transportes. Ainda assim, este setor apresenta relevância ao se tratar de emissões pois é um setor que concentra técnicas inovadoras capazes de reduzir o consumo de recursos, otimizar processos e aumentar a eficiência, apresentando relevância para a redução de emissões como um todo.

A chamada Indústria 4.0 é caracterizada pela informática e a tecnologia da informação, que permitem a instalação de novas formas produtivas e uma revolução na sistematização de processos industriais. A utilização de computadores e de inteligencia artificial otimiza e automatiza as técnicas produtivas além de possibilitar processos mais velozes. Ao fazer isso, essa revolução industrial contribui para a redução do consumo de insumos e de energia.

A indústria detém diversas ferramentas que poderiam contribuir significativamente para a redução de emissões de GEE e ajudar o país a atingir os objetivos propostos na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC).

Por exemplo, algumas tecnologias estão sendo criadas para capturar e utilizar o gás carbônico emitido no processo produtivo como insumo na indústria química. Procedimentos como este reduziriam a quantidade do gás na atmosfera e agregariam valor ao material — agora visto como matéria-prima para diferentes processos.

Para aumentar a eficiência, o ideal é capturar o gás carbônico antes de liberado na atmosfera e quando ainda apresenta altas concentrações nos gases de exaustão das fontes emissoras. Nesse sentido, são desenvolvidos processos tecnológicos que otimizam a captura de gás carbônico em maiores concentrações, principalmente voltados para o processo de produção de cimento, que é altamente emissor de GEE.

Essas novas tecnologias são algumas dentre tantas que o Brasil poderia incorporar às suas atividades e que contribuiriam para atingir seus objetivos climáticos. O país se compromete, em sua NDC, a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% em 2025, e em 43%  em 2030, ambos em relação aos níveis de 2005 e em termos absolutos. A contribuição para o setor de processos industriais seria de 7% e 8%, respectivamente, considerando o setor de mudança de uso do solo e florestas.

 

COP23 e os Desafios para a Indústria

Dois anos após a assinatura do Acordo de Paris, as emissões no cenário global e nacional têm aumentado. No Brasil, esse crescimento ocorre principalmente devido às emissões associadas ao desmatamento na Amazônia, à mudança de uso do solo e aos setores agropecuário e energético. O país é a única grande economia do mundo que registrou aumento de emissões apesar de significativa e notória recessão econômica.

O setor de indústria tem um papel importante para acelerar o processo de descarbonização, inclusive de outros setores. Esse tema foi debatido por especialistas em evento paralelo realizado durante a 23ª Conferência das Partes (COP23) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), porém há desafios para a disseminação dessas práticas em uma escala considerável.

Durante os debates, esta frase ilustrou bem um dos desafios: “Transformar máquinas exige que antes sejam transformadas as pessoas. Para os especialistas, seria mais fácil transformar tecnologias para atingir um objetivo comum do que a mente dos indivíduos por trás das tecnologias — e esta última exigiria um trabalho de longo prazo e muita dedicação.

O segundo desafio é a clareza de que o processo de mobilização da Indústria 4.0 demanda um tempo significativo para a implementação em larga escala. O caminho começa a ser trilhado e novas tecnologias disruptivas estão sendo postas à prova. Porém, é necessário que conhecimentos teóricos sejam massivamente colocados em prática para que os resultados sejam relevantes em nível global.

A COP23 terminou no dia 17 de novembro e, sem enfraquecer seu propósito, os desafios são postos como novas rotas a serem superadas. Conforme os especialistas fortemente defenderam, “This is progress!” (Isso é progresso, em tradução do inglês).