Empresas desempenham um papel importante na mobilidade urbana. Nas cidades brasileiras, onde viagens por motivos de trabalho correspondem a até 60% dos deslocamentos, organizações que estimulam o transporte sustentável em detrimento do carro têm potencial para impactar positivamente a vida de todos. É importante reconhecer e disseminar essas práticas, e é isso que fez o Bynd em seu recém-lançado Índice de Mobilidade Corporativa (IMCorp).

A pesquisa da startup vencedora do InoveMob, uma iniciativa do WRI Brasil em parceria com a Toyota Mobility Foundation, avaliou as melhores práticas em relação à mobilidade dos colaboradores de 16 empresas. O pódio ficou com a Deloitte, seguida da Mutant e da ALD Automotive.

Inspirado na metodologia norte-americana do Best Workplaces for Commuters, o Índice avaliou empresas da Região Metropolitana de São Paulo, com 250 a 3,5 mil colaboradores alocados na sede principal. Segundo Gustavo Gracitelli, CEO do Bynd, foram consideradas as políticas de mobilidade corporativa, os deslocamentos casa-trabalho-casa e as características do entorno das sedes das organizações. “O índice mostrou qual é, de fato, o cenário da mobilidade das empresas", afirma Graticelli. “Há muita oportunidade, pois algumas políticas de mobilidade eficiente, assim que implementadas, têm impacto grande e imediato na produtividade da empresa, na retenção de talentos, na saúde dos colaboradores e até na dinâmica da cidade”, completou.

As vencedoras se destacaram em quesitos diversos, com o home office sendo a prática mais comum. A Deloitte ainda conta com bicicletário, vestiário e incentivos ao uso do transporte público e à atividade física. A Mutant tem horários flexíveis, organiza caronas para os colaboradores e dispõe de estação de patinetes. A ALD Automotive está em local acessível e barato, o que reduz o tempo de deslocamento dos colaboradores – e as emissões de CO2.

Para Guillermo Petzhold, especialista de Mobilidade Urbana do WRI Brasil, políticas sustentáveis como as reconhecidas pelo IMCorp vão ao encontro dos valores das novas gerações que acessam o mercado de trabalho: “Esses jovens têm maior preocupação com meio ambiente e sustentabilidade e valorizam mais benefícios como home office e flexibilidade de horário do que vagas de estacionamento e auxílio combustível”.

O WRI Brasil produz e dissemina conhecimento sobre Mobilidade Corporativa e foi parceiro do Bynd na iniciativa, que também contou com apoio de IBOPE Inteligência, Instituto Ethos, Great Place to Work, Instituto Parar e Welcome Tomorrow.

Pesquisa quantitativa e qualitativa

O índice se baseou em pesquisa quantitativa e qualitativa. A parte quantitativa foi capitaneada pelo pesquisador especialista em mobilidade Renato Vieira. Por depender diretamente da atuação das empresas, as políticas de mobilidade tiveram maior peso. Foram avaliados incentivos ao uso de transporte coletivo, fretados e transporte ativo (bicicleta, caminhada etc.), políticas de jornada flexível e teletrabalho, além de programas de gestão sustentável das vagas de estacionamento e de atenuação dos impactos do uso de veículos privados.

A análise dos deslocamentos dos trabalhadores visa mapear os custos monetário, de tempo e de bem-estar. Por fim, a análise das características do entorno das sedes avaliou a facilidade de acesso à empresa via transporte público coletivo e bicicleta, a qualidade das calçadas no entorno imediato, o nível e a diversidade da atividade econômica nas proximidades e o custo da moradia.

A pesquisa qualitativa, realizada pelo Imagina Coletivo, estudou o comportamento de 15 profissionais e apontou que há aumento na produtividade, saúde e qualidade de vida de colaboradores de empresas com boas práticas de mobilidade corporativa.

“Diversas pesquisas apontam que estamos usando o carro da forma errada. Os prejuízos de mobilidade, ambientais, econômicos, de saúde e de produtividade são evidentes”, afirma Daniela Swiatek, coordenadora do IMCorp. O paulistano leva 1 hora e 57 minutos para se deslocar para realizar a atividade principal, segundo o Ibope e a Rede Nossa São Paulo. E, segundo a CET, 64% dos carros de São Paulo circulam com apenas uma pessoa dentro.

Essa subocupação dos carros é uma das oportunidades identificadas pelo Bynd. O aplicativo da startup é uma rede de caronas por meio da qual colaboradores de empresas podem compartilhar trajetos e assentos vagos em veículos. Focada em empresas com mais de 250 funcionários, a solução atende Bradesco, Localiza, Schneider Electric, Coca-Cola, Sanofi e Mercedes-Benz. Segundo dados do Bynd, a rede já intermediou mais de 150 mil caronas, o que representaria uma redução de 547 toneladas de CO2 na atmosfera.