O avanço das ciclovias e da concessão de maior espaço para pedestres nas ruas de grandes cidades ao redor do planeta permitiu analisar o impacto dessas medidas sobre o comércio local. Um levantamento de evidências, conduzido pelo WRI Brasil, mostra o desempenho de ruas em cidades dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Austrália, Áustria e Brasil. Os resultados indicam que os comerciantes tem mais lucro quando os modos ativos de transporte são incentivados.

Em Fortaleza, uma intervenção intermediaria de baixo custo para priorizar o deslocamento de pedestres e a convivência entre as pessoas foi feita na Avenida Central, no bairro Cidade 2000. Grande parte do espaço para estacionamento e tráfego de veículos foi destinado aos pedestres e apenas uma faixa para veículos foi mantida. Vasos de plantas e bancos completam o projeto que, em função das avaliações positivas, está sendo implementado de maneira definitiva.

Uma pesquisa de opinião feita pela prefeitura da cidade em parceria com a Universidade de Fortaleza mostrou que a maioria dos comerciantes da rua (64%) notou um impacto positivo no seu negócio em função da reforma pela qual a rua passou. Para 78% dos comerciantes e frequentadores entrevistados, a impressão da área pós-intervenção é boa/muito boa. Entre os entrevistados, 86% gostariam que essa intervenção se tornasse definitiva.

No caso das pessoas que passam pela rua, houve uma mudança radical na percepção da segurança do local: antes da intervenção, ela era ruim ou muito ruim para 76% dos entrevistados; após a intervenção, 80% passaram a considerá-la boa ou muito boa. Não é de se estranhar, portanto, que 73% dos passantes tenha chegado até a rua exclusivamente a pé ou de bicicleta.

A pesquisa em Fortaleza tem resultados similares aos de diversos estudos internacionais sobre projetos de Ruas Completas. Eles mostram que melhorias na infraestrutura de pedestres e ciclistas valorizam o espaço público gerando, ao longo do tempo, diversos benefícios para o comércio local. Este é o caso, por exemplo, da Avenida Vanderbilt, em Nova York, que recebeu ciclovia, áreas de segurança para o pedestre e canteiro central, reduzindo as vias de tráfego de quatro para duas, mantendo estacionamento em ambos os lados. Os resultados de um levantamento feito pelo Departamento de Transportes da Cidade de Nova York (NYC DOT) indicam aumento crescentes das vendas do comercio ano após ano: 39% no primeiro ano (contra 27% da média na região), 56% no segundo ano (19% de aumento médio da região) e 102% no terceiro ano (18% de média na região). Na avenida Columbus, em Nova York, o aumento nas vendas do comércio foi de 47%.

<p>Avenida Vanderbilt antes e depois</p>

Avenida Vanderbilt, em Nova York, antes e depois das intervenções (fotos: reprodução/NYC DOT)

O crescimento deriva do fato de que pessoas a pé ou de bicicleta tendem a consumir mais do que motoristas de carro, contrariando a percepção dos comerciantes. Em Graz, capital da província de Styria, no sul da Áustria, os comerciantes achavam que mais da metade de seus clientes (58%) chegavam de carro aos seus estabelecimentos. A pesquisa mostrou que esse é o meio de transporte de um terço deles (32%). A grande maioria (68%) chega a pé, de bicicleta ou de transporte público. Em Bristol, na Inglaterra, foram apurados resultados parecidos: o percentual de clientes que se desloca de carro para as compras (22%) é metade do que os comerciantes imaginavam (41%). A grande maioria (78%) vai às compras a pé, de bicicleta ou transporte público. O mesmo foi constatado por um estudo em Toronto: comerciante da Avenida Danforth achavam que só 18% de seus clientes chegavam a seu estabelecimento a pé, mas isso ocorre em 46% dos casos.

O potencial de consumo dos ciclistas

Uma pesquisa com 420 pessoas da vizinhança de East Village em Nova York, mostrou que ciclistas, seguidos pelos pedestres, são os que mais consomem no comércio local: US$ 163 e US$ 158 mensais em média, respectivamente. Clientes que se locomovem de carro, por sua vez, consomem uma média de US$ 143 mensais. Aliás, Nova York construiu 587 quilômetros de ciclovias em sete anos. Nessas ruas, as vendas foram duas vezes maiores em comparação a ruas semelhantes sem ciclovias. Em Portland, EUA, pessoas que iam de bicicleta a uma área comercial gastaram 24% a mais por mês do que aquelas que iam de carro. Em uma rua de San Francisco, onde foi implementada uma ciclovia em 2009, mais da metade dos comerciantes (55,6%) perceberam aumento de consumidores na região, 44,4% sentiram que a área foi revitalizada e nenhum deles informou algum efeito negativo nas vendas. Em Fort Worth, Texas, a Rua Magnolia foi transformada com a instalação de ciclovias nos dois sentidos este ano. Desde então, a receita dos restaurantes ao longo da rua aumentou em 179%.

Outra consequência foi descoberta em um levantamento realizado na região metropolitana de Minneapolis, Estados Unidos, onde o valor de um imóvel residencial aumenta US$510 a cada 400 metros mais próximo de uma ciclovia. “Ainda que a maioria dos dados sejam internacionais, eles são encorajadores para as cidades brasileiras. É imprescindível medir os impactos de intervenções que favorecem pedestres e ciclistas para que dados como estes sejam conhecidos e utilizados para expandir essas iniciativas”, afirma Paula Santos, gerente de Mobilidade Ativa do WRI Brasil.

“Essa compilação de estudos de caso traz dados que refletem os benefícios das Ruas Completas”, resume Paula. Ruas Completas são desenhadas para proporcionar segurança e conforto a todas as pessoas, de todas as idades, usuários de todos os modos de transporte. O conceito tem como base pensar a rua para as pessoas. “Não existe uma solução única: cada projeto deve ser elaborado a partir do contexto local e refletir as necessidades da população, sempre levando em consideração a equidade e a responsabilidade com o meio ambiente”, completa Paula.