Primeiros inventários devem ser publicados ainda este ano por grandes empresas, que passam a ter metas voluntárias de redução, como já acontece com a indústria.

(SÃO PAULO, 27 MAIO 2014) - O Brasil será o primeiro país do mundo em que empresas e produtores rurais poderão calcular suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e criar metas de redução de forma confiável. Nessa quinta-feira (29) o World Resources Institute (WRI) lança em São Paulo o primeiro guia para cálculo de emissões na agropecuária e ferramenta do GHG Protocol Agropecuário. Desenvolvida nos dois últimos anos em parceria com Embrapa e Unicamp, a ferramenta já está sendo testada e utilizada por grandes empresas como Bunge, JBS e AMaggi.

“O Brasil como grande país agroexportador tem agora à sua disposição instrumentos para apoiar empresários a planejar ações para redução de emissões de gases de efeito estufa”, afirma Rachel Biderman, diretora-executiva do WRI Brasil. “Eles serão mais competitivos num mercado cada vez mais exigente, que quer sustentabilidade na produção de alimentos”, prevê.

O GHG Protocol do WRI já é a metodologia mais utilizada em diversos países para mensurar, monitorar e produzir relatórios de emissões de GEE na indústria. Mais de 120 empresas usam o GHG Protocol no Brasil para divulgar anualmente inventários de emissões do setor industrial.

Globalmente, 17% das emissões são provenientes do setor agropecuário. E o Brasil, com o segundo maior rebanho bovino do mundo e uma agricultura capaz de alimentar um bilhão de pessoas, experimentou um crescimento de 45% nas emissões do setor entre 1990 e 2012.

Segundo Marcio Nappo, diretor de Sustentabilidade da JBS, quinta maior empresa do país, o desenvolvimento de uma ferramenta adaptada à realidade brasileira vai garantir a consistência e a precisão dos cálculos de emissão do setor agrícola e do agronegócio como um todo. A utilização da ferramenta de cálculo de emissões possibilitará também que as empresas façam a gestão e reduções de suas emissões, assim como de sua cadeia de fornecedores: “Esta iniciativa é extremamente importante para identificar as emissões e reduções de emissões relacionadas à cadeia de fornecimento, visto que a JBS possui um cadastro de mais de 60 mil fornecedores de gado distribuídos em diferentes biomas brasileiros”, comenta Nappo.

O pesquisador da Embrapa Eduardo Assad, ex-Secretário de Mudanças Climáticas, explica que “com a redução do desmatamento na Amazônia, as emissões de gases de efeito estufa da agricultura tomaram uma grande dimensão no Inventário Nacional”. A agropecuária já responde por 32% de todas as emissões no país – a quinto maior em emissões de GEE do planeta. A adoção da ferramenta de cálculo, de acordo com Assad, será um passo para a certificação dos produtos brasileiros, permitindo até reduzir futuras imposições de barreiras ambientais não tarifárias. “Nosso produtos poderão ficar mais competitivos e com selo ambiental. O mundo caminha nessa direção e este é o primeiro GHG Protocol para a Agropecuária. Uma imensa oportunidade para a agricultura brasileira, principalmente a de baixa emissão de carbono”, afirma.

Biderman ressalta que nem só empresas serão treinadas para usar a ferramenta de cálculo. “Produtores rurais também poderão receber treinamento e utilizar a ferramenta, o que pode impulsionar o projeto de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) do governo federal”. A plataforma e a metodologia do GHG Protocol Agropecuário são livres e gratuitas, como no GHG Protocol.