De tempos em tempos, os brasileiros se defrontam com a infeliz realidade de que seu país é responsável por uma das maiores taxas de desmatamento no mundo. Só na Amazônia, por exemplo, os dados oficiais indicam que mais de 6 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa são destruídos por ano – o equivalente a cerca de 6 milhões de campos de futebol.

Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, vale questionar o destino desse grande passivo ambiental. Sabemos onde estão localizadas essas áreas ou qual o uso que se deu para áreas desmatadas em anos anteriores? As respostas podem nos indicar uma enorme oportunidade para a agenda de restauração no Brasil e no mundo, pois muitas das áreas desmatadas recentemente possuem baixo potencial agrícola e, portanto, foram abandonadas posteriormente. Podemos aproveitar essas áreas para restaurar a estrutura e a funcionalidade de florestas nativas ou para recriar a agricultura por meio de formas de produção inteligentes, como é o caso dos sistemas agrosilvopastoris.

Usando os dados e informações do Resources Watch, uma plataforma desenvolvida pelo WRI junto com 30 parceiros que disponibiliza dados atuais e confiáveis sobre clima, cidades e florestas, é possível entender melhor a dinâmica dessas áreas. Confira abaixo quatro mapas que mostram um diagnóstico das nossas florestas e identificam as oportunidades de restauração no Brasil.

22% das florestas do mundo continuam intactas e devem ser preservadas

Apesar dos alarmantes índices de desmatamento, a boa noticia é que ainda existem 12,8 milhões de quilômetros quadrados de florestas intocadas no mundo todo, o que equivale a uma área de aproximadamente um vez e meio o tamanho do Brasil. Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, com vários parceiros, entre eles o WRI, mapeou onde estão essas áreas de mata pristina – áreas de ecossistemas florestais contínuos –, que não mostram sinais de atividade humana, e são grande o suficiente para proteger sua biodiversidade. Isso representa 22% de toda a área de floresta do mundo.

As áreas intocadas estão concentradas na Amazônia, norte do Canadá, Rússia, África subsaariana e Indonésia, como mostra o mapa abaixo.

2 bilhões de hectares estão degradados e precisam ser restaurados

A má notícia é que a degradação desses ecossistemas continua avançando. Entre 2000 e 2013, a área de florestas intocadas diminuiu de tamanho em 7%. Muitas das áreas desmatadas sequer são incorporadas ao sistema produtivo - se transformam em áreas degradadas. O Atlas das Oportunidades de Restauração de Paisagens e Florestais, produzido pelo WRI e parceiros como a IUCN, mostra onde há áreas que tiveram cobertura natural no passado e que poderiam ser recuperadas.

Segundo o atlas, há no mundo cerca de 2 bilhões de hectares de áreas degradadas ou desmatadas que poderiam ter sua função e produção recuperadas. O mapa abaixo mostra onde:

No Brasil, há uma enorme oportunidade para restaurar

Com um olhar mais atento ao mapa do Brasil, podemos entender melhor quais são as oportunidades de restauração no país. O Atlas apresenta três oportunidades diferentes:

  • Restauração em larga escala: recuperação ativa de áreas próximas a ecossistemas florestais, onde não há um grande número de habitantes na região (menos de 10 pessoas por quilômetro quadrado).

  • Restauração com uso misto de paisagens: em áreas moderadamente ocupadas pela população, é possível pensar em uma estratégia de restauração integrada com a produção. Sistemas Agroflorestais, por exemplo, preveem a reintrodução de espécies nativas em consórcio com atividade agrícola, promovendo aumento de biomassa e geração de renda para produtores.

  • Restauração em áreas remotas: também há áreas remotas e distantes da população. Nestas áreas, em geral, não vale a pena reflorestar – longe da presença de atividade humana, as florestas conseguem se regenerar sozinhas.

O mapa abaixo mostra as oportunidades em parte do Sudeste brasileiro. As pequenas áreas em verde-escuro, em geral próximo da serra, indicam onde é possível restaurar em larga escala. A maior oportunidade aparece com as áreas em verde-claro, onde é possível restaurar paisagens de forma integrada com a agricultura e pecuária.

Brasil se comprometeu a restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares

Até o momento, 39 países já identificaram que a restauração de paisagens é uma grande oportunidade ambiental e econômica e se comprometeram a reflorestar suas áreas degradadas. Desde 2011 essas nações se organizam no Desafio de Bonn, um esforço global para reflorestar até 350 milhões de hectares no mundo até 2030. O Brasil é um desses países. O governo brasileiro se comprometeu a restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares. Com as ferramentas do Resources Watch, é possível acompanhar as metas e compromissos formados por esses países. O mapa abaixo mostra quais são os países que estão na vanguarda da restauração no mundo.