No início do mês de maio, dezenas de prefeitos, prefeitas e lideranças municipais estiveram em Niterói para a 73ª Reunião Geral da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), realizada no Caminho Niemeyer, um dos maiores pontos culturais e turísticos da cidade. Além da presença de valorosos projetos arquitetônicos assinados por Oscar Niemeyer, a região também abriga faculdades, um terminal rodoviário, outro hidroviário e praças ao longo da orla. Por sua importância e localização, a região foi escolhida para um processo de revitalização e reurbanização que começará pela implantação de uma Rua Completa.

Inserido nas atividades do evento promovido pela FNP, técnicos das secretárias de mobilidade de dez cidades da Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono tiveram a oportunidade de conhecer em detalhes o projeto de Ruas Completas que está sendo elaborado em um trecho de dois quilômetros da Avenida Visconde do Rio Branco, que faz parte do Caminho Niemeyer e fica na área central de Niterói. O projeto vai desde o Centro Petrobras de Cinema até o Mercado de Peixes São Pedro, uma área composta por diversas construções de Niemeyer.

A região é considerada uma porta da cidade, já que abriga a Estação de Barcas, na Praça Arariboia, na qual circulam 100 mil passageiros por dia para realizar a travessia Niterói-Rio de Janeiro, e o Terminal de ônibus João Goulart, com fluxo de 350 mil passageiros ao dia. Apenas esses dois pontos já geram uma enorme circulação de pedestres, mas há ainda o movimento gerado pelo turístico Caminho Niemeyer e o Mercado de Peixe São Sebastião, há mais de 50 anos no local. Além disso, o trecho liga de ponta a ponta duas faculdades: a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Anhanguera.

A concentração de comércio, serviços e escritórios também provoca grande movimentação de carros. “A avenida forma um binário com um canteiro central que, hoje, consideramos subutilizado”, explica Erika Brum, diretora do departamento de urbanismo da Secretaria de Urbanismo e Mobilidade de Niterói. “Nosso conceito principal de organização das vias e das linhas de ônibus que passam ali é utilizar o canteiro central como nova área para o embarque de passageiros. Vamos manter um espaço ainda para arborização e conforto ambiental”.

<p>Proposta do projeto inicial de Rua Completa do trecho do Terminal João Goulart da Avenida Visconde do Rio Branco</p>

Proposta do projeto inicial de Rua Completa do trecho do Terminal João Goulart da Avenida Visconde do Rio Branco (Imagem: SMU/Niterói)

Segundo Erika, a ideia é que esse tipo de projeto se espalhe e seja exemplo para a construção de uma rede de Ruas Completas na cidade. Atualmente, Niterói conta com o Plano Diretor em fase de aprovação e está construindo um Plano de Mobilidade. Ambos trazem diretrizes para a reurbanização da Área Central da cidade e a orla foi escolhida para receber as primeiras intervenções.

De acordo com Rogério Gama, subsecretário de urbanismo da prefeitura de Niterói, atualmente todo o centro da cidade é voltado para o uso do carro e existem diversos conflitos tanto de mobilidade quanto de urbanismo que precisam ser tratados com conceitos mais modernos. “Um desses conceitos é o de Rua Completa. Esse projeto tem o intuito de criar uma melhor hierarquia viária e privilegiar as pessoas”, afirma Rogério. “O principal desafio é o espaço viário. Como tratar o carro dentro de um espaço mínimo e como ampliar o espaço para as pessoas andarem, pedalarem e terem mais conforto para acessar o transporte público”. Segundo a prefeitura, a cidade vem registrando aumento no uso da bicicleta e quer incentivar o modal, o que justifica a implantação de uma ciclovia em todo o trecho.

O walking tour na Avenida Visconde do Rio Branco proporcionou uma importante troca de experiências entre as cidades da Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono. “A rua de Niterói é uma grande avenida e com certeza é um projeto inspirador para as outras cidades, pois mostra o compromisso da prefeitura em qualificar e melhorar para as pessoas uma rua tão complexa e importante da cidade”, disse Ariadne Samios, analista de mobilidade ativa do WRI Brasil. Segundo ela, os participantes puderam conhecer o projeto e compartilhar opiniões técnicas, por estarem familiarizados com o conceito de Rua Completa.

Rede Nacional para Mobilidade de Baixo Carbono na 73ª Reunião Geral da FNP

Foram realizadas mais três atividades dedicadas às cidades da Rede Nacional para Mobilidade de Baixo Carbono durante a 73ª Reunião Geral da FNP em Niterói. No dia 8, foi realizado um painel sobre participação social, no qual os palestrantes compartilharam diversas experiências e enfatizaram a importância de se ouvir a população e realizar um processo colaborativo para a construção de projetos de Ruas Completas.

No dia 9, em um segundo painel, foi apresentada uma metodologia desenvolvida pelo LABMOB, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,​ na qual é possível escolher os indicadores de sucesso de intervenções urbanísticas e medi-los antes e depois da implantação das transformações. “Muitas intervenções realizadas no exterior tiveram esse tipo de acompanhamento e temos dados que comprovam que Ruas Completas trazem benefícios para a segurança pública, viária, comércio, geração de emprego, entre outros. Nós queremos incentivar que todas as cidades da Rede realizem essas avaliações antes e depois da implementação de suas Ruas Completas”, explica Ariadne.

O último painel foi dedicado à apresentação do status atual do projeto de Rua Completa de cada cidade integrante da Rede. Elas apresentaram os avanços, os desafios e os próximos passos para que as ruas sejam implantadas. Atualmente, as cidades estão em diferentes estágios, algumas mais próximas da implementação, outras ainda lidando com os primeiros desafios do projeto. “O nosso objetivo final é que as prefeituras consigam implementar os seus projetos e sirvam de exemplo para diversos outros municípios brasileiros, queremos que elas ampliem o conceito de Ruas Completas dentro e fora da própria cidade”, destaca Ariadne.