As notícias estão diariamente nos jornais, na televisão, em podcasts, mas ainda não captaram a sua atenção a ponto de estimular qualquer ação. Porém, hoje o seu filho ou filha chegou da escola contando que o planeta tem cerca de 12 anos para deter o aquecimento global e questionando como pode ajudar. Isso provavelmente vai fazer você tomar alguma atitude com relação ao tema. Essa é a conclusão de um estudo publicado na revista Nature que buscou avaliar a influência das crianças sobre os pais a partir de uma intervenção educacional sobre mudanças climáticas.

Ao imaginar que crianças pudessem ser boas influenciadoras, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, decidiram testar como disciplinas especiais sobre mudanças climáticas para alunos de 10 a 14 anos poderiam afetar a opinião dos pais. Os alunos não foram orientados a tentar influenciar seus pais, mas o programa envolveu métodos desenvolvidos para estimular conversas, incluindo uma entrevista entre pais e filhos. Os pais responderam diversas perguntas a respeito de suas visões sobre mudanças climáticas no início e no final do estudo que durou dois anos.

Os pais das crianças que tiveram currículos focados em questões climáticas demonstraram maior preocupação com as mudanças climáticas – assim como seus filhos. Os efeitos foram maiores entre os pais do sexo masculino e pais conservadores que apresentaram os menores níveis de preocupação antes da intervenção. As filhas foram especialmente eficazes ao influenciar os pais.

"Nossos resultados sugerem que a aprendizagem intergeracional pode superar barreiras na construção de uma consciência sobre o clima", diz a pesquisa. O estudo afirma que a transferência de conhecimento, atitudes e comportamento da criança para os pais pode ser um caminho para superar empecilhos socio-ideológicos. Os autores argumentam que como as percepções da mudança climática nas crianças parecem menos suscetíveis a visões de mundo ou influência do contexto político, pode ser possível que elas inspirem os adultos por uma ação coletiva.

As greves escolares de Greta

Manifestante pede prêmio Nobel para Greta Thunberg (foto: John Englart (Takver)/Flickr)

O resultado do estudo parece ratificar os esforços promovidos pela estudante sueca Greta Thunberg, que há quase um ano deixou de ir à escola todas as sextas-feiras para protestar em frente ao Parlamento Sueco, em Estocolmo. Inconformada com a demora dos políticos em seguirem os compromissos climáticos do Acordo de Paris e com a falta de ação em defesa do meio ambiente, Greta iniciou o movimento Fridays for Future.

Hoje, jovens de mais de 100 países seguem o exemplo de Greta todas as sextas-feiras. Esse movimento já promoveu duas grandes greves mundiais, e a próxima está agendada para começar no dia 20 de setembro, já que dessa vez a proposta é manter a greve por uma semana. Para essa mobilização, Greta está convocando adultos a participarem.

"Existem diversos planos em andamento em diferentes partes do mundo para que os adultos se unam e saiam da sua zona de conforto pelo nosso clima. Vamos todos nos unir, com seus vizinhos, colegas de trabalho, amigos, familiares e sair para as ruas para fazer suas vozes serem ouvidas e fazer disso uma reviravolta em nossa história.", escreve ela em um artigo para o jornal inglês The Guardian. Os feitos de Greta lhe renderam uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz. Se vencer, será a pessoa mais jovem a receber a premiação.

O poder de persuasão das crianças, mostrado pelo estudo da Universidade da Carolina do Norte, se observa na história da própria Greta, como conta a reportagem do New York Times. Ela convenceu os pais a pararem de comer carne e, mais tarde, a virarem veganos, e também convenceu a mãe a não fazer mais viagens de avião devido às emissões de gases de efeito estufa. Pesquisas mostram que o consumo excessivo de carne e os as emissões da aviação são causas importantes das mudanças climáticas. Como mostra recente relatório do WRI, não é que todos precisem virar veganos, mas reduzir o consumo da carne é uma forma de mitigar o aquecimento do planeta.

Para os pesquisadores, os resultados da pesquisa sugerem que conversas entre diferentes gerações podem ser um ponto de partida eficiente no combate aos efeitos das mudanças do clima. Danielle Lawson, autora principal do estudo, afirma que, ainda que a análise não tenha avaliado as mudanças de comportamento dos adultos, o resultado oferece esperança: "se pudermos promover essa construção de comunidade e do diálogo sobre as mudanças climáticas, podemos nos unir e trabalhar juntos em uma solução."