Este post foi escrito por Will Anderson e publicado originalmente no blog da Iniciativa 20x20.


Líderes da América Latina e do Caribe se reuniram em junho, em Buenos Aires, com um objetivo ambicioso: mudar a paisagem das terras degradadas na região. Na Reunião Anual da Iniciativa 20x20, os participantes compartilharam experiências e reforçaram o objetivo de restaurar mais de 20 milhões de hectares de terras degradadas em 17 países.

Os compromissos foram assumidos, mas o que está acontecendo de fato na região? Mais de 14 milhões de hectares de áreas degradadas já estão em restauração. Dos US$ 2,4 bilhões comprometidos com a Iniciativa 20x20, mais de US$ 340 milhões já foram investidos. Os benefícios econômicos, sociais e ambientais da restauração são diversos e evidentes – do combate às mudanças climáticas, passando pela melhora na segurança hídrica e alimentar e a conexão dos agricultores às cadeias globais de produção. Mas como efetivamente empresas, comunidades locais e governos estão restaurando terras degradadas?

1 milhão de hectares restaurados no México

O México sofreu com a degradação por décadas, mas a Comissão Nacional de Silvicultura (Conafor) decidiu enfrentar o desafio. Em 2014, estabeleceu a meta ambiciosa de restaurar 1 milhão de hectares até o final de 2018. Ao investir quase US$ 600 milhões no plantio de árvores em todo o país – desde as exuberantes extensões do Yucatán até a região mais seca da Baja California –, a Conafor atingiu a meta dentro do prazo e ainda aumentou a taxa de sobrevivência das árvores.

Restauração na Argentina e no Chile

Anos de sobrepastagem (quando há uma concentração excessiva de animais em determinada área) e plantações comerciais degradaram milhares de hectares na Argentina e no Chile. O cenário levou a Tompkins Conservation a comprar vastas extensões de terra em regiões ecologicamente sensíveis, construindo e expandindo parques nacionais nos dois países com a ajuda de parceiros locais. O trabalho permitiu a criação do novo Parque Nacional Iberá, com 700 mil hectares, na Argentina, e do futuro Parque Nacional da Patagônia, uma extensão ininterrupta de 292 mil hectares no Chile. Com a restauração das pradarias, plantas e animais raros permanecerão protegidos, e a paisagem de tirar o fôlego proporcionará novas oportunidades econômicas de ecoturismo para antigos fazendeiros.

<p>Parque Nacional da Patagônia, no Chile (Foto: Douglas Scortegagna/Flickr)</p>

Parque Nacional da Patagônia, no Chile (Foto: Douglas Scortegagna/Flickr)

Restauração de pastagens e uma alternativa ao óleo de palma no Brasil

Palmeira de macaúba (Foto: Ricardo Photos/Flickr)

No Brasil, a demanda por óleo de palma está crescendo. O aumento dos custos de importação tem estimulado a produção doméstica, geralmente usando espécies africanas não nativas. O resultado é que grandes extensões de terra estão sendo desmatadas para o cultivo. A startup brasileira INOCAS está enfrentando esse desafio com a plantação da macaúba, uma espécie nativa que produz óleo, em pastagens degradadas utilizando um sistema de silvipastoril. Com apoio do IADB Invest, a INOCAS e a Althelia Funds esperam mostrar que é possível restaurar, reduzir o desmatamento e aumentar a produção – tudo no mesmo terreno.

Peru: apoio aos produtores locais e proteção da Reserva Nacional de Tambopata

A terra no entorno da Reserva Nacional de Tambopata, no Peru, foi degradada pela instalação de minas e pela plantação de papaia, ambas de forma ilegal. As atividades proporcionaram à comunidade local uma fonte de renda necessária, mas sugaram os nutrientes do solo. Agora, graças a um investimento de US$ 12 milhões por parte da Althelia Funds, os produtores locais e a organização não-governamental AIDER estão restaurando as terras utilizando um sistema agroflorestal com a plantação de café e, assim, ajudando a proteger uma área de 570 mil hectares de florestas. Graças à revitalização da economia rural, os moradores locais agora conseguem se dedicar a proteger suas terras.

Desacelerando o desmatamento na Amazônia Andina

Para que a restauração seja bem-sucedida, é preciso parar de derrubar árvores. Desde 2015, o Fundo Amazônico dos Andes protege milhões de hectares de florestas em toda a Amazônia andina. Apenas em 2018, eles protegeram mais de 3,4 milhões de hectares e planejam anunciar mais 1,6 milhão de hectares em 2019. Alguns destaques: o Parque Nacional Chiribiquete, na Colômbia, foi ampliado em 1,5 milhão de hectares, tornando-se o maior parque nacional de floresta tropical do mundo em julho, e a criação da Reserva Provincial de Zamora Chinchipe, no Equador, conservou 444 mil hectares de terra da qual depende a nação indígena Shuar.

Conectando os produtores de Belize a cadeias globais da produção de alimentos

A demanda por alimentos produzidos com baixo teor de carbono tem aumentado em todo o mundo. Diante desse desafio, a TexBel Farms, de Belize, com apoio do Fundo Moringa, restaurou mais de 1,2 mil hectares de plantações de frutas para atender à crescente demanda por suco de frutas e água de coco sustentáveis. Ao explorar uma indústria de US$ 2,5 bilhões (água de coco) e construir uma forte rede de fomento, a TexBel está conectando agricultores locais às cadeias de produção globais, apoiando os meios de subsistência rurais e acelerando a restauração.