Este post foi escrito por Xiangyi Li e Eduardo Henrique Siqueira e publicado originalmente no TheCityFix.


Os ônibus estão entre as maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE) em muitas cidades, mas estão passando por uma revolução silenciosa. A união de novas tecnologias e a crescente demanda por investimentos na área, impulsionadas pela poluição do ar cada vez mais evidente e rigorosas metas de redução de carbono, está levando mais cidades a investir em tecnologias limpas para ônibus. Em paralelo, porém, surgem dúvidas sobre quais as melhores tecnologias e os modelos de negócios mais adequados para o sucesso a longo prazo.

Pode ser desafiador para cidades se comprometerem com a compra de veículos com as quais não têm experiência, sem mencionar os altos custos iniciais da aquisição de ônibus elétricos a bateria e de elétricos híbridos, em comparação com os ônibus tradicionais movidos a combustíveis fósseis. A distribuição dos ônibus elétricos ainda não atingiu proporções semelhantes ao redor do mundo. Em muitas cidades, a falta de dados e modelos adaptados ao contexto e necessidades locais deixam operadores com a impressão de que estão investindo no escuro.

Para reduzir as barreiras para a adoção de tecnologias limpas de ônibus, é importante que os operadores e as agências de transporte tenham dados úteis e de qualidade sobre as frotas limpas existentes, um melhor entendimento dos custos totais de propriedade e uma visão mais abrangente do processo completo de implementação.

Na ferramenta Costs and Emissions Appraisal Tool for Transit Buses (chamada de CEA Tool), o WRI espera responder algumas dessas questões. A nova ferramenta desenvolvida pelo WRI Ross Center, já utilizada em São Paulo e outras cidades, é um método acessível, desenvolvido em Excel para analisar o custo durante a vida útil do veículo e as emissões de diferentes tipos de ônibus para ajudar as cidades a conduzir a transição para ônibus limpos.

O que a ferramenta CEA oferece?

A CEA Tool destina-se a ajudar os operadores de ônibus e as agências de transporte a tomar decisões fundamentadas sobre tipos alternativos de ônibus e determinar se a transição para uma frota mais limpa é financeiramente viável e vantajosa, além de avaliar as reduções de emissões esperadas. Ela pode comparar as opções de ônibus elétricos, os ônibus movidos a gás natural e o retrofit de alguns equipamentos para as frotas diesel, como por exemplo a substituição de filtros de escapamento.

A ferramenta permite que os usuários comparem os custos e as reduções de emissões de duas frotas de ônibus, cada uma composta por até três tipos de ônibus. Os tipos de ônibus podem diferir em termos de tipo de combustível, tecnologia utilizada para atingir diferentes padrões de emissões e o tamanho do veículo.

Os usuários podem inserir dados do custo unitário de um veículo e do preço do combustível de uma cidade ou país específico, ou podem escolher dados padrão do Brasil ou dos Estados Unidos. Com base nos dados, a CEA Tool calcula os custos e as emissões de cada tipo de ônibus e o total de cada frota. Estão incluídos custos de capital (custos iniciais de aquisição, custos de financiamento e garagem/infraestrutura), bem como custos operacionais (operação, combustível, manutenção e revisão/consertos), ajudando as cidades a entender o custo total de propriedade ao longo da vida útil de diferentes tipos de veículos.

Os cálculos de emissões utilizam a distância percorrida do veículo, consumo de combustível e fatores de emissão. Idealmente, os fatores de emissão devem basear-se nas velocidades de operação, levando em consideração os congestionamentos e outras condições. Mas há poucos dados disponíveis dentre os diferentes tipos de veículos e condições operacionais. As estimativas de emissões são, portanto, baseadas em fatores de emissões provenientes de testes laboratório. No entanto, elas podem ser atualizadas à medida que dados melhores se tornam disponíveis ou se tornem mais adequados às realidades locais.

Novos planos para São Paulo

Em 2018, o WRI Brasil aplicou a CEA Tool em São Paulo e em mais duas cidades brasileiras. A capital paulista estabeleceu a meta de reduzir as principais emissões de poluentes relacionados ao transporte público em 100% até 2038. Atingir essa meta exige claramente a adoção de tecnologias mais limpas na frota de 14 mil ônibus da cidade. No entanto, a frota é operada por empresas privadas. Para incentivar mais operadores privados a eletrificar suas frotas, o WRI Brasil, em parceria com o órgão responsável por gerenciar o transporte coletivo da cidade, buscou entender os impactos ambientais e econômicos de novas tecnologias de ônibus.

O primeiro passo foi obter melhores dados atualizados de operação, o que se mostrou mais desafiador do que o previsto. Como existem poucas informações operacionais para as frotas de ônibus da cidade, o WRI Brasil trabalhou diretamente com a agência de transporte de São Paulo para agregar e obter dados operacionais da frota. Em seguida, foram usados dados de Santiago, no Chile, que possui a maior frota de ônibus elétricos fora da China, e uma extensa revisão da literatura para informar suposições sobre alternativas elétricas, híbridas e outras.

O segundo passo foi criar cenários para ajudar a entender as opções de renovação dos ônibus. O WRI Brasil trabalhou com a SPTrans, órgão responsável pela gestão do sistema de transporte público por ônibus em São Paulo, para criar cenários usando diferentes tecnologias, custos e emissões de ônibus. Foram criados vinte cenários, um para cada ano de 2018 a 2038, com diferentes composições da frota. O CEA Tool mostrou que o cenário de 2038 – para alcançar uma redução de 100% na redução direta de emissões de poluentes (CO2, PM e NOx) – envolveria uma frota de 98% de ônibus elétricos e 2% de trólebus. Também reduziria os custos totais em 12% em comparação com a renovação da frota usando tecnologias típicas de diesel.

Indo além dos mitos

Os operadores em São Paulo estão agora no processo de considerar quais opções, ou combinação de opções, propor à SPTrans, que avaliará propostas com vistas a cumprir a meta da cidade de zero emissões e poluentes do transporte público até 2038.

Ainda existem limitações para essa análise, incluindo a disponibilidade de dados locais e o detalhamento dos cálculos. As cidades são incentivadas a usar a CEA Tool como uma etapa inicial para entender custos e benefícios durante toda a vida útil de ônibus limpos e inserir seus próprios dados para adaptar ainda mais o modelo às condições locais. Também está sendo trabalhada uma atualização da ferramenta que adicionará mais dados operacionais das frotas de ônibus elétricos na China e em outros países que estão adotando. A próxima fase da CEA Tool também incluirá custos sociais e contribuições de benefícios para ajudar as partes interessadas a quantificar melhor os ganhos adicionais das tecnologias de transporte limpas.

A CEA Tool fornece evidências para uma discussão orientada por dados sobre opções reais com as partes interessadas, como empresas operadoras de ônibus, agências de transporte público e funcionários do governo. Com o objetivo de assim romper as impressões iniciais, às vezes equivocadas, e acelerar a transição para um transporte de ônibus mais limpo.