Este post foi publicado originalmente no WRI Insights.


Desde o marco do Acordo de Paris sobre mudança climática, adotado em 2015 e assinado por 175 países no Dia da Terra do ano seguinte, o impulso global para enfrentar a emergência climática vem tomando forma. Houve progresso em quase todas as frentes, desde metas ousadas de redução de emissões corporativas e preços de energia renovável em queda até um aumento no endosso a metas de zerar emissões líquidas e o reconhecimento deGreta Thunberg como "Pessoa do ano" da revista Time.

Ao mesmo tempo, o progresso não tem sido rápido o suficiente, nem perto disso. O movimento climático enfrentou muitos ventos contrários neste período. O presidente Donald Trump iniciou o processo de retirada dos EUA do Acordo de Paris no ano passado. Antes da pandemia da Covid-19, as emissões seguiam crescendo ano após ano, e essa tendência pode voltar após o controle do vírus. O ano passado foi o segundo mais quente já registrado em todo o mundo, e os primeiros meses de 2020 também tiveram altas históricas. Comunidades em todo o mundo continuam a ser devastadas por tempestades tropicais, incêndios, secas, inundações e ondas de calor – muitas exacerbadas pela crise climática. Temos muito trabalho pela frente.

Embora seja primeiramente uma crise social e econômica, a Covid-19 também impactará os esforços para avançar na ação climática. Por um lado, atualmente a maioria dos líderes não está focada na ação climática, e a COP26, marcada para novembro em Glasgow, foi adiada para 2021. Por outro lado, essa crise de saúde mostra que os países conseguem responder rapidamente a uma emergência global.

Ao nos aproximarmos do quinto aniversário do Acordo de Paris, aqui estão cinco maneiras pelas quais o mundo mostrou que está pronto para uma ação climática mais ambiciosa:

1. Centenas de grandes empresas prometeram grandes reduções de emissões

<p>Gráfico mostrando empresas comprometidas com aquecimento de até um e meio grau celsius</p>

Líderes do setor privado reconhecem cada vez mais que a transição da nossa economia de alto carbono para uma baseada em atividades de baixo carbono não é apenas essencial para limitar os impactos perigosos das mudanças climáticas, mas também é boa para os resultados financeiros das empresas.

Sob a iniciativa Science Based Targets, mais de 850 empresas já se comprometeram a estabelecer metas de redução de emissões baseadas na ciência e mais de 200 se comprometeram a estabelecer metas de zerar as emissões líquidas em suas operações e cadeias de valor. As metas de zero emissões líquidas estão alinhadas com o aquecimento limitado a 1,5° C. Coletivamente, essas empresas de alta ambição – incluindo muitas marcas reconhecidas globalmente, da Chanel à Nestlé – representam US$ 3,8 trilhões e têm uma pegada de carbono anual maior que as emissões anuais da França.

As abordagens das empresas para reduzir emissões variam. Por exemplo, 230 estão comprometidas com uma transição para 100% de energia renovável, incluindo a Nike, que já abastece todas as suas instalações na América do Norte por meio de fontes renováveis. A Kellogg’s e a Unilever estão entre as 53 empresas que se comprometeram a eliminar o desmatamento provocado por indústrias de commodities de suas cadeias de suprimento neste ano. Sessenta e oito empresas – incluindo Air New Zealand, Baidu e HP – aderiram ao EV100, iniciativa mundial que visa acelerar a transição para veículos elétricos até 2030. E a IKEA e a H&M – empresas conhecidas mundialmente pela acessibilidade de seus produtos – estão explorando maneiras que possibilitem lucrar com a reparo e revenda de produtos em uma economia circular.

Muitas dessas empresas são líderes em seus setores e estão estabelecendo um novo padrão para a ação corporativa no clima. A Microsoft, uma das maiores empresas do mundo, reduzirá sua pegada de carbono e investirá em soluções de remoção de carbono com o objetivo de se tornar negativa em carbono até 2030.

2. Grandes cidades estão melhorando a vida urbana enquanto geram resiliência climática

Mais da metade da população mundial vive em cidades, e a ONU prevê que essa fração cresça para dois terços da humanidade até 2050. Como resultado, a forma como as cidades agem agora contra as mudanças climáticas terá repercussões diretas na vida de bilhões de pessoas.

Em todo o mundo, quase 400 cidades se comprometeram a atingir zero emissões líquidas até 2050 e mais de 10 mil aderiram ao Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia. Nos Estados Unidos, as cidades são parte importante no America’s Pledge, coalizão de cidades, estados e empresas comprometidas em cumprir a meta do Acordo de Paris, apesar da retirada efetivada por Trump. Juntas, essas entidades representam quase 70% da economia dos EUA. Se fossem um país, sua economia seria maior que a da China e perderia apenas para os Estados Unidos.

Muitas cidades do mundo também estão adotando ações louváveis ​​para reduzir as emissões e proporcionar vidas melhores para seus residentes. Em Medellín, Colômbia, a instalação de um sistema de bonde aéreo chamado Metrocable está conectando comunidades de encostas de baixa renda com o centro da cidade e, assim, aumentando o acesso dos moradores a empregos, educação e outros serviços. A prefeita de Paris fez um plano para uma “cidade de 15 minutos", em que os moradores podem atender a todas as suas necessidades a até 15 minutos de casa, um trunfo de sua campanha de reeleição. E na China, Shenzhen mais que triplicou seu número de ônibus elétricos desde 2015 e é a primeira cidade do mundo a eletrificar 100% de sua frota de ônibus.

Outros estão focados em se adaptar a um clima em mudança. Em Gorakhpur, no norte da Índia, autoridades municipais estão incentivando uma série de táticas, desde a redução da monocultura à proteção de corpos d'água, a redução de inundações e o aumento da resiliência à medida que as monções ficam mais fortes e imprevisíveis. Para ajudar todas as cidades a reduzir as emissões e os impactos climáticos, WRI e C40 criaram um roteiro de ações climáticas equitativas nas cidades que incluam e beneficiem todos os cidadãos sem levar a custos não intencionais para as comunidades pobres e vulneráveis.

3. Instituições financeiras reconhecem que financiar combustíveis fósseis é um mau investimento

Para mudar para um caminho mais sustentável, as principais instituições financeiras públicas e privadas do mundo precisam não apenas investir mais nas novas alternativas limpas, mas também parar de investir nas antigas tecnologias poluidoras. Após a crise da Covid-19, espera-se que governos e bancos de desenvolvimento ofereçam níveis de investimento sem precedentes para recuperar as economias e gerar empregos. Há fortes evidências de que seria prudente que esses investimentos fossem direcionados a projetos de baixo carbono e resilientes ao clima. Da Coreia do Sul vem um bom exemplo: após a crise econômica de 2008 e 2009, o país investiu mais em medidas de estímulo verde do que qualquer outro país da OCDE – e foi um dos países que se recuperou mais rapidamente.

O Banco Europeu de Investimento (BEI) planeja cessar o financiamento de projetos de petróleo, gás e carvão no final de 2021, uma iniciativa inédita para um banco de investimento. O BEI também se juntou a outros bancos multilaterais de desenvolvimento ao divulgar uma declaração conjunta projetando dobrar o financiamento de adaptação para US$ 18 bilhões por ano até 2025. Enquanto isso, mais de 130 bancos privados – representando um terço do setor bancário global – assinaram os Responsible Banking Principles, marco que busca alinhar as práticas bancárias com o Acordo de Paris.

Na COP25, em Madri, em dezembro, 16 grandes investidores institucionais com quase US$ 4 trilhões em ativos se comprometeram em zerar as emissões líquidas das suas carteiras de investimento até 2050. Em janeiro, a BlackRock, a maior empresa de gerenciamento de ativos do mundo que sozinha gerencia US$ 7 trilhões, anunciou que estava mudando sua estratégia financeira para se concentrar nas mudanças climáticas. Com esse movimento, juntou-se a mais de 370 outros investidores em uma iniciativa chamada Climate Action 100+, cujos membros estão engajando empresas que produzem dois terços das emissões industriais globais.

4. Avanços tecnológicos tornam mais viáveis as energias renováveis ​​e outras soluções

<p>Gráfico mostrando crescimentos de energia solar e eólica</p>

A energia renovável é cada vez mais competitiva com o carvão em termos de custo. Entre 2010 e 2019, os preços da energia solar caíram 90%. Nas regiões ensolaradas do mundo, já é mais barato obter eletricidade a partir da energia solar do que de combustíveis fósseis. Da mesma forma, o custo da energia eólica diminuiu significativamente nos últimos anos e é mais barato que o gás natural em algumas regiões, incluindo partes dos Estados Unidos.

À medida que os preços caem e cresce a adoção de energia renovável, o mesmo ocorre com a indústria por trás disso. Nos EUA, a energia limpa já emprega quase 3,3 milhões de pessoas, mais que a geração de combustíveis fósseis.

Os últimos anos também viram novos sinais de progresso tecnológico em direção a pontos de virada para um futuro sem carbono. A tecnologia de veículos elétricos melhorou tão rapidamente que um número crescente de grandes montadoras, incluindo Toyota e Daimler, estão planejando parar de fabricar motores de combustão. As siderúrgicas, que lutam para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, agora estão explorando o uso do hidrogênio como combustível limpo para substituir o carbono em seus processos industriais. O conhecimento sobre as oportunidades de sequestrar carbono a partir das árvores e do solo, bem como de sequestro industrial do carbono, também está avançando rapidamente.

5. A expansão dos movimentos sociais reflete a crescente demanda pública por ações climáticas

No ano passado, Greta Thunberg e outros jovens ativistas climáticos explodiram no cenário global com suas greves semanais nas escolas, conhecidas como Fridays for Future, protestando contra a falta de ação climática de líderes mundiais. Amparadas por outros grupos ativistas da juventude, incluindo Sunrise Movement e Extinction Rebellion, em setembro de 2019, mais de 7 milhões de pessoas em 185 países aderiram à maior greve climática da história mundial para exigir ação governamental mais forte.

Mas ativistas não são os únicos que querem ação climática. De acordo com uma pesquisa realizada em setembro de 2019 nos EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Itália, Brasil, França e Polônia, a mudança climática está à frente da migração e do terrorismo como a questão mais importante que o mundo enfrenta. Em uma pesquisa dos EUA divulgada no início de 2020, a maioria dos republicanos e democratas acha que a mudança climática deve ser uma prioridade para o presidente e o congresso este ano, um aumento de 14% em relação a 2016.

O que vem por aí: mais ação em nível nacional

Executivos de negócios, prefeitos, banqueiros de investimentos, inovadores tecnológicos e jovens de todos os lugares já se manifestaram: querem uma ação global mais robusta em relação às mudanças climáticas. Agora os países precisam intensificar medidas. Setenta e sete países, incluindo muitos países desenvolvidos, estão atualmente trabalhando em direção a algum tipo de compromisso de zerar emissões líquidas (em muitos casos "líquido zero até 2050", embora alguns países como a Dinamarca e a Finlândia tenham prazos ainda menores). No entanto, essas metas não têm sentido se não se refletirem em ações ambiciosas que os países comecem a tomar agora, como os planos climáticos nacionais que os signatários do Acordo de Paris devem atualizar este ano. Até agora, sete já o fizeram, mas apenas outros 106 prometeram seguir o exemplo. Reduzir as emissões não é algo que possa ser feito da noite para o dia. Os países devem usar seus planos climáticos de curto prazo como trampolins para alcançar um futuro de emissões líquidas. À medida que países ao redor do mundo começam a considerar como recuperar suas economias após a crise da Covid-19, eles podem usar esse ponto de virada para acelerar os investimentos em uma economia inclusiva e resiliente de baixo carbono, a fim de construir um futuro melhor para todos.


A Microsoft é membro do Grupo Consultivo Corporativo do WRI. Nike, Kellogg, Nestlé, Unilever, IKEA e Microsoft forneceram suporte financeiro ao WRI. Esta postagem no blog reflete apenas as opiniões dos autores.