Este artigo foi escrito por Luis Antonio Lindau e publicado originalmente no Esquina

 

Na era da quarta revolução industrial, como nos deslocaremos nas cidades? Para essa pergunta, evidentemente, ainda não temos respostas. O fato é que será preciso transformar a maneira como nos locomovemos hoje. A cada ano, perdemos em média 15 dias em deslocamentos cotidianos. Somente criando novas soluções para a mobilidade conseguiremos reverter essa situação. Na última década, o pulsante desenvolvimento tecnológico fez emergir novos modelos de negócio e abriu caminho para uma transformação no setor de transportes, oferecendo uma rica diversidade de soluções inovadoras, que buscam atender às necessidades contemporâneas de deslocamento. E o Brasil tem papel relevante nesse cenário global.

Um levantamento mundial feito recentemente pelo WRI Brasil oferece um interessante panorama das iniciativas de empreendedores para melhorar a locomoção nas cidades. Foram identificados 424 provedores de soluções de nova mobilidade no mundo, sendo 63 deles no Brasil, o que responde por 60% do mercado na América Latina. São casos que vão desde o aplicativo 99 Táxis aos serviços Bike Anjo e Cadê o Ônibus. O tipo de empreendimento mais comum no país é o de mobilidade compartilhada (46% das iniciativas), seguido por experiência do consumidor (38%, que abrange os novos recursos em sistemas de bilhetagem e de informação que facilitam a integração entre diferentes modos de transporte, como o Autopass). 

A pesquisa aponta como o empreendedorismo vem ganhando importância na mobilidade urbana. O Brasil já tem um histórico de inovações na área. Durante a década de 1980, implantamos corredores de ônibus de alto desempenho em várias cidades. São Paulo demonstrou a utilidade dos comboios ordenados de ônibus (Comonor) para aumentar a velocidade operacional. Enquanto Porto Alegre agregou o Comonor à operação de um corredor de ônibus, Curitiba trabalhou na metronização do sistema ônibus, com a inclusão de pré-pagamento, embarque em nível e veículos articulados com múltiplas portas, o que mais tarde foi reconhecido como a gênese do Bus Rapid Transit (BRT). O Brasil contava com a Empresa Brasileira de Transporte Urbanos (EBTU) para orientar na captação de recursos e no desenvolvimento de projetos locais, modelo que serviu de inspiração para países como México e Venezuela. 

Nossa tradição de inovação deveria ser resgatada na busca por soluções que promovam alternativas sustentáveis de deslocamento nas cidades. Tradicionalmente, qualquer nova solução impõe também desafios. Novas ideias podem tanto contribuir para aumentar a acessibilidade e a segurança, reduzir os tempos de deslocamento e as emissões quanto o contrário – agravando a poluição e os congestionamentos. 

Os municípios têm papel importante a desempenhar na consolidação das inovações ao estimular o diálogo e proporcionar avanços nas regulações. Além disso, cabe também aos governos locais o papel de desenvolver uma estratégia que garanta a integração de serviços inovadores com os existentes. As cidades não podem ficar refém de avanços que não contribuam para a sustentabilidade. 

A percepção de que ainda há muito espaço para a criação de soluções inovadoras sustentáveis na mobilidade, que possam se tornar pilotos e ser escalonadas com sucesso no Brasil e na América Latina, motivou o WRI Brasil a lançar o Desafio InoveMob em parceria com a Toyota Mobility Foundation e apoio da Frente Nacional de Prefeitos (FNP). Com inscrições abertas até 9 de março, o concurso é voltado a empreendedores, pesquisadores e empresas de serviços em mobilidade de todo o país, e vai investir R$ 600 mil (US$ 200 mil) em apoio aos melhores projetos que promovam alternativas sustentáveis de deslocamento nas cidades.