Mais de 100 países, incluindo o Brasil anunciaram o compromisso de reduzir as emissões globais de metano em pelo menos 30% até 2030 em relação aos níveis de 2020 durante a COP26, em Glasgow. Até o momento, 11 dos 20 países que mais produzem metano no mundo assinaram – embora vários dos maiores produtores (incluindo China, Rússia e Índia) ainda não. Pela primeira vez, a promessa estabelece o piso necessário para conter as emissões desse perigoso poluente climático ao longo da próxima década.

O anúncio veio em boa hora: reduzir as emissões de metano, além de cortes acentuados nas de dióxido de carbono, é essencial para evitar que o aumento da temperatura global ultrapasse o limite de 1,5°C. Apesar da urgência em combater esses poluentes, no entanto, as emissões de metano continuam aumentando em todo o mundo, e 2020 registrou a maior concentração atmosférica de metano de todos os tempos. Relatórios recentes, como o Global Methane Assesment (em português, “Avaliação Global de Metano”) e o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, também destacam a necessidade de agir rápido.

A boa notícia é que reduzir o metano traz enormes benefícios: ajuda a limitar o aumento da temperatura em curto prazo e a melhorar a qualidade do ar, além de contribuir para melhores condições de saúde pública e de segurança alimentar. Muitas vezes, essas ações podem ser implementadas com custo zero ou baixo, proporcionando benefícios econômicos significativos para governos e empresas. Na verdade, em muitos casos, as ações ainda geram economia depois que os investimentos iniciais são pagos. Muitas das medidas de mitigação também já estão disponíveis nos principais setores emissores de metano, como de energia, da agropecuária e de resíduos – proporcionando uma excelente solução para os governos cumprirem suas metas climáticas e de desenvolvimento.

Por que é importante reduzir as emissões de metano?

O metano é o segundo gás de efeito estufa (GEE) mais abundante gerado pelo homem, 86 vezes mais poderoso do que o dióxido de carbono em 20 anos na atmosfera (e 34 vezes mais poderoso em 100 anos). Como se trata de um gás que permanece por um período relativamente curto na atmosfera, evitar que seja emitido oferece um benefício rápido em termos de limitar o aumento da temperatura em curto prazo. Estudos estimam que ações ambiciosas para reduzir o metano podem evitar 0,3°C de aquecimento até 2050.

A redução do metano também ajuda a melhorar a qualidade do ar, visto que é um precursor do ozônio troposférico (no nível do solo), um poluente prejudicial que afeta a saúde humana e a produção agrícola. Medidas de mitigação de metano já disponíveis também podem prevenir mais de 250 mil mortes prematuras e 26 milhões de toneladas de perdas agrícolas todos os anos.

Como reduzir as emissões de metano?

Doze países são responsáveis ​​por cerca de dois terços das emissões globais de metano: China, Rússia, Índia, Estados Unidos, Brasil, União Europeia, Indonésia, Paquistão, Irã, México, Austrália e Nigéria.

A maior parte das emissões de metano geradas pelo homem provém de três setores – energia (35%), agricultura (40%) e resíduos (20%); portanto, focar a ação nesses setores pode ajudar a evitar os impactos do aquecimento de imediato.

Energia

O setor de energia é responsável por mais de um terço das emissões globais de metano, com o petróleo e o gás contribuindo com a maior parte (em torno de 14%). As emissões de metano ocorrem ao longo de toda a cadeia de abastecimento desses combustíveis, mas especialmente por meio de emissões fugitivas de equipamentos com vazamento, falhas no sistema e processos deliberados de queima e ventilação.

Existem soluções econômicas que podem ajudar a reduzir essas emissões, incluindo programas de detecção e reparo de vazamentos, implementação de melhores tecnologias e práticas operacionais de captura e utilização do metano que, de outra forma, seria desperdiçado.

A Agência Internacional de Energia estima que cerca de 75% das emissões totais da produção de petróleo e gás metano podem ser evitadas usando as tecnologias que já existem, com mais da metade dessas reduções saindo a um custo líquido zero. Apesar de comprovado que a vedação de vazamentos não gera um prejuízo, as concessionárias geralmente recuperam os custos do gás vazado repassando-os aos consumidores. No entanto, coalizões voluntárias estão se unindo para reduzir as emissões de metano no setor, como a Oil and Gas Methane Partnership e a Oil and Gas Climate Initiative (em português, respectivamente, “Parceria de Petróleo e Gás Metano” e “Iniciativa Climática Petróleo e Gás”).

Sistemas alimentares

A agropecuária é o setor que mais contribui para as emissões globais de metano: cerca de 40%, originadas principalmente pela fermentação entérica (arroto das vacas), cultivo de arroz e manejo de esterco.

Práticas de produção aprimoradas – focadas especificamente em melhorar a eficiência – podem aumentar a produção de gado e outras culturas, gerar mais renda para os agricultores e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões de metano por unidade de produção. Nos casos em que for mais difícil promover uma redução nas emissões, como na fermentação entérica, grupos como a Missão de Inovação Agrícola para o Clima e a Aliança Global de Pesquisa em Gases de Efeito Estufa na Agricultura estão ajudando a estimular mais inovação e testes de tecnologias.

Reduzir a perda e o desperdício de alimentos é outra variável importante. Aproximadamente um terço de todos os alimentos produzidos é perdido ou desperdiçado em toda a cadeia de alimentos, e a produção agrícola é responsável pela maior parte dessas perdas, agravando a insegurança alimentar em nações vulneráveis. Muitos fatores estão associados a esse problema, incluindo perdas ou degradação durante a produção.

Se a perda e o desperdício de alimentos fossem considerados um país, seriam o terceiro maior emissor de GEE depois da China e dos Estados Unidos. Produtores e consumidores de alimentos podem tomar medidas imediatas para reduzir o desperdício – desde melhorar os sistemas de estoque até mudar as práticas de rotulagem da data dos alimentos e facilitar a venda ou doação de produtos perecíveis.

Pequenas mudanças nos hábitos alimentares, em especial reduzir o consumo de carne bovina, também podem ter um impacto global, tanto em termos de liberação de terras agrícolas quanto de redução das emissões de metano. No entanto, de acordo com dados da Avaliação Global de Metano, não é de mudanças na dieta como essas que depende a promessa anunciada pelos países.

Resíduos sólidos municipais

O setor de resíduos é responsável por cerca de 20% das emissões globais de metano causadas por atividade humana. Felizmente, também nesse caso já existem soluções de mitigação com uma boa relação custo-benefício, com o maior potencial relacionado aos processos de separação de resíduos orgânicos e reciclagem, os quais também podem criar novos empregos. Evitar a perda e o desperdício de alimentos desde o início da cadeia também é fundamental.

Além disso, a captura do gás dos aterros sanitários e a geração de energia reduzirão as emissões de metano, substituirão outros combustíveis e criarão novos fluxos de receita. A Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos prevê que a utilização do gás dos aterros continuará sendo a solução mais barata para mitigar as emissões no setor de resíduos, muitas vezes implementada com custo líquido zero. No entanto, esses projetos exigem investimentos iniciais altos, o que às vezes pode ser um impedimento em locais mais pobres.

Quais países já se comprometeram a reduzir o metano

Além da promessa global recém-anunciada, diversos países assumiram compromissos individuais para combater o metano. Nos últimos dois anos, por exemplo, a Nigéria e a Costa do Marfim se comprometeram a reduzir as emissões de metano do setor de petróleo e gás em 45% até 2025 e entre 60% e 75% até 2030. A União Europeia adotou uma estratégia para reduzir o metano que abrange todos os setores da economia. Os modelos que acompanham o documento indicam que a região precisará limitar as emissões de metano entre 35% e 37% até 2030 em relação aos níveis de 2005 para cumprir seu compromisso climático geral. A Nova Zelândia tem como objetivo reduzir as emissões de metano biogênico em 10% até 2030 e entre 24% e 47% até 2050, ambos os casos em relação aos níveis de 2017. O Canadá é o primeiro país a responder ao apelo da Agência Internacional de Energia para uma redução de 75% na meta de redução do metano até 2030 abaixo dos níveis de 2012, e a EPA, dos Estados Unidos, lançou uma proposta para limitar as emissões de metano de infraestruturas de petróleo e gás novas e existentes.

O que esperar agora?

O anúncio de uma promessa global para reduzir as emissões de metano é um passo importante – a primeira vez que os países se comprometem de forma coletiva a agir para reduzir o metano em todos os setores de suas economias. Ao mesmo tempo, vários países também estão finalizando seus novos planos nacionais de ação climática (as Contribuições Nacionalmente Determinadas,ou NDCs), nos quais também devem ser incluídos compromissos ambiciosos para combater as emissões de metano – ajudando a manter as metas do Acordo de Paris ao alcance e a garantir um futuro mais seguro para todos.


Este artigo foi publicado originalmente no Insights.