Este post foi publicado originalmente no WRI Insights.


Este foi o ano em que as empresas usaram sua influência para contribuir com o esforço global de adicionar trilhões de árvores ao arsenal contra as mudanças climáticas. O objetivo é usar essas árvores para restaurar a terra e absorver da atmosfera o carbono causador do aquecimento global, a fim de manter o aumento da temperatura abaixo de 1,5°C – nível necessário para evitar os piores impactos das mudanças climáticas, conforme o Acordo de Paris.

Mas plantar essas árvores é apenas o começo. Precisamos acompanhá-las enquanto crescem – verificar quanto absorvem de carbono e que outros benefícios (em termos, por exemplo, de alimentos, economia e biodiversidade) elas oferecem às pessoas e ao meio ambiente. Para começar, há um grande desafio: como rastrear onde e como essas árvores estão crescendo?

Por que monitorar o crescimento é importante?

Assim como nem todas as árvores atingem a maturidade, nem todas as campanhas pelo plantio de árvores são bem-sucedidas. Acompanhar o crescimento das árvores ajuda governos, empresas e ONGs a entender o progresso de suas ações, incentiva as pessoas a replicar projetos bem-sucedidos e a melhorar os que precisam, além de inspirar os financiadores a continuar investindo em projetos cujo progresso conseguem enxergar.

Mensurar o progresso também destaca o trabalho de agricultores e outras pessoas que restauraram suas terras com pouca ajuda de fora. No Sahel (uma região seca na África, entre o deserto do Saara e o Sudão), por exemplo, agricultores restauraram milhões de hectares de terra, aumentando a produtividade das culturas e impedindo que o deserto avançasse para o sul – e fizeram esse trabalho com pouca ajuda ou reconhecimento externo. Histórias de sucesso como essa e as lições que elas trazem não poderão ser compartilhadas a menos que sejamos capazes de medir as mudanças no cenário de forma sistemática.

Desafios para o acompanhamento

Dados de satélite de alta qualidade e plataformas como o Global Forest Watch rastreiam o desmatamento, mas não funcionam muito bem para acompanhar o crescimento das árvores. Por quê?

Cultivar as árvores até que atinjam a maturidade leva tempo, em geral em torno de 15 anos ou até mais. E, com as imagens de satélite disponíveis, é mais difícil enxergar uma pequena muda crescendo lentamente do que um espaço em branco onde antes havia uma árvore. Imagens de altíssima resolução que poderiam identificar esse tipo de mudança (o crescimento das árvores) estão disponíveis, mas é absurdamente caro comprá-las e fazer essa análise para o mundo inteiro a cada ano.

Alguns projetos fazem o acompanhamento de forma individual, mas cada um segue seu próprio método, e o tipo e a qualidade dos dados variam consideravelmente de um para outro. Boa parte desses dados não é verificada de forma independente e cobre apenas os primeiros anos do projeto (antes de as árvores estarem completamente maduras). A verificação dos dados por uma fonte independente, para certificar os benefícios de um projeto em termos de absorção de carbono e melhora da biodiversidade, em geral é muito cara, especialmente para agricultores locais de países em desenvolvimento. Tudo isso contribui para o ceticismo tanto de desenvolvedores de projetos quanto de financiadores em relação às histórias de sucesso da restauração.

Construir conjuntos de dados globais consistentes

É por isso que queremos resolver alguns desses problemas antes do início da Década das Nações Unidas sobre Restauração de Ecossistemas em 2021, quando os compromissos corporativos de proteção e cultivo de um trilhão de árvores começarem a valer. Como membro da força tarefa da Década da ONU nos esforços de monitoramento da restauração e ocupando a copresidência do Observatório Global de Restauração, o WRI está amplamente engajado nesse desafio.

Estudos recentes descobriram que há bilhões de árvores espalhadas em áreas rurais que não éramos capazes de ver por meio das abordagens convencionais de sensoriamento remoto. Ao incluir essas árvores nos conjuntos de dados globais, podemos traçar um quadro mais abrangente dos ganhos e perdas de cobertura vegetal.

Um estudo-piloto conduzido pelo WRI como parte da avaliação do progresso de cinco anos da Declaração de Nova York sobre Florestas mostrou que, na região de Mekong, no sudeste asiático, o número de árvores nas fazendas e pastagens – onde a restauração é mais benéfica para as pessoas – aumentou, mesmo diante da expansão da perda florestal. Com base nesse estudo, estamos trabalhando com novos dados do laboratório GLAD, da Universidade de Maryland, para levar esse trabalho para a América Latina. O objetivo é desenvolver um conjunto global consistente de dados anuais que possa rastrear onde as árvores estão crescendo – em escala global, nacional e subnacional.

Aproveitando o poder da inteligência artificial, também começamos a analisar dados brutos de satélite de mais de 30 paisagens com cerca de 10 mil hectares cada. O objetivo é criar mapas precisos de milhões de árvores que as estatísticas, planos e modelos oficiais raramente consideram.

A combinação dessas abordagens – e a criação de um Índice Global do Progresso da Restauração – pode nos ajudar a ver mais árvores com mais precisão do que antes e a acompanhar o progresso da iniciativa Trillion Trees (Um Trilhão de Árvores) e do movimento de restauração como um todo.

<p>gráfico informativo sobre como fazer monitoramento</p>

Estabelecer protocolos e uma Comunidade de Prática

Dados globais consistentes e independentes são importantes para identificar onde estão os focos de sucesso (ou fracasso) na restauração, de forma que possamos entender melhor o impacto dos investimentos de países, ONGs e empresas.

Também precisamos nos certificar que os muitos projetos individuais que recebem recursos por meio de plataformas como o TerraMatch façam parte de uma “comunidade de prática” bem estabelecida, na qual protocolos de monitoramento consistentes e independentes estejam em vigor para embasar tanto os implementadores do projeto quanto seus financiadores.

A adaptação ao contexto e às metas locais é importante. Para construir essa comunidade de prática, precisamos de um protocolo consistente, econômico e cientificamente sólido que profissionais em todo o mundo possam usar e no qual os investidores possam confiar. É o que o WRI está construindo para projetos de restauração em paisagens agrícolas, florestais e urbanas. O protocolo concentra-se em indicadores-chave – contagem das árvores, cobertura e espécies – que serão mensurados por até 15 anos depois do plantio.

Uma vez que esse protocolo combinará a coleta de dados em campo com abordagens de monitoramento remoto, como interpretação de imagens de satélite e inteligência artificial, os custos serão mantidos os mais baixos possíveis. A partir do momento em que diferentes projetos usam o mesmo protocolo, seus dados, quando agregados, nos ajudam a entender se esses trilhões de árvores estão de fato crescendo e se nossos esforços para combater as mudanças climáticas estão no caminho certo.

<p>gráfico informativo sobre como fazer monitoramento</p>

Mensurar, compreender e investir na restauração

Para acompanhar o progresso da restauração de forma semelhante ao que o Global Forest Watch faz com o desmatamento, vamos precisar de um atlas global robusto – um "observatório da restauração". Precisamos de uma plataforma que reúna as lições aprendidas com o trabalho que o WRI e muitos outros realizam em escala nacional e de paisagens. Também precisamos de um protocolo adaptável e consistente para os projetos.

Mensurar o crescimento das árvores é apenas um dos indicadores para o sucesso da restauração. Precisamos investir, também, em medir seus impactos econômicos e sociais, para garantir que as pessoas de fato são beneficiadas.

Hoje, em um mundo onde empresas e governos estão cada vez mais interessados em comprovar seu sucesso em termos científicos, acompanhar o progresso é essencial. Financiadores costumam investir na mensuração do sucesso e insistem que seus parceiros de plantio façam o mesmo. É preciso perceber que o verdadeiro valor do sucesso na restauração vai além do plantio de árvores: inclui o custo de envolver a comunidade local, preparar e cuidar das árvores e medir o progresso.

Neste novo momento, impulsionado por promessas corporativas, por plataformas como o TerraMatch e pelos mais recentes avanços científicos, é a hora também de começar a acompanhar o progresso da restauração.