A eletrificação é um passo fundamental para termos cidades de baixo carbono. Substituir veículos movidos a combustível fóssil, fogões e fornos por alternativas elétricas reduz as emissões e cria uma série de outros benefícios. Mas nem todas as cidades têm potencial igual para a eletrificação. Em alguns casos, essa transição é impraticável ou pode na verdade aumentar as emissões de gases de efeito estufa.

Analisando dados de nível nacional, um novo estudo do WRI encontrou 34 países de baixa e média renda e mercados emergentes na América Latina, Ásia e África, nos quais a eletrificação é uma boa estratégia hoje. Esses países contêm 105 cidades com população superior a 1 milhão. Embora cada cidade seja diferente, estimular a eletrificação nesses locais pode ter um impacto importante na redução das mudanças climáticas.

A análise também revelou 38 países em que a eletrificação pode não fazer sentido hoje, com 256 cidades com população maior do que 1 milhão.

Critérios para eletrificar cidades

Argumentamos que existem dois critérios para determinar boas candidatas para a eletrificação:

Acesso à eletricidade, ou a porcentagem de pessoas com conexão elétrica doméstica na área urbana. Sugerimos um limite de 90% para considerar uma boa candidata para a eletrificação. Abaixo desse limite, a eletrificação de dispositivos que consomem combustíveis fósseis pode piorar as desigualdades no acesso a serviços como aquecimento, iluminação e transporte. Cidades em que muitos cidadãos não contam com energia elétrica devem se concentrar no uso de recursos limitados para aumentar o acesso à eletricidade, em vez de desviar fundos para a eletrificação, especialmente porque carros elétricos, fogões e outros dispositivos tendem a ser mais caros do que os tradicionais.

Consumo de carbono no fornecimento de eletricidade ou quão limpa ou suja é a rede elétrica do país. Nossa pesquisa sugere que isso deve ser inferior a 600 toneladas de dióxido de carbono equivalente por gigawatt hora (tCO2e / GWh). Acima deste limiar, quando a rede é em grande parte alimentada por combustíveis fósseis como carvão e gás natural, a mudança para um maior uso de eletricidade só aumentaria as emissões de CO2.

Esses dois critérios nem sempre são mutuamente exclusivos. Por exemplo, Energias renováveis ​​distribuídas, por exemplo, como a energia solar fotovoltaica, podem fornecer acesso à eletricidade e permitir que as pessoas se afastem da iluminação a querosene.

Embora existam outras razões para a eletrificação – uma delas a redução da poluição do ar local – esses dois critérios são críticos para determinar onde a eletrificação faz mais sentido.

A parte 1 do gráfico acima, apenas com versão em inglês, mostra países que têm maior presença de carbono na sua matriz energética. Passe o mouse no mapa para ver a intensidade de cada país. A parte 2 mostra o acesso à energia da população urbana, a parte 3 cruza os dados das duas primeiras para mostrar países com maior potencial, a parte 4 revela o impacto das principais cidades nesses países e a última parte é um recorte das cidades com mais de 1 milhão de habitantes.


A América Latina está pronta para a eletrificação, mas a África subsaariana não

Com base nesses dois critérios, a eletrificação é uma boa estratégia a ser adotada hoje em todos os países da América do Sul e alguns países do Oriente Médio, Norte da África e Ásia, como Egito, Nepal, Paquistão, Filipinas, Tailândia e Sri Lanka. Esses países incluem grandes cidades como Bangcoc, Bogotá, Cairo, Colombo, Karachi, Catmandu, Manila e Montevidéu. Apenas três das principais cidades da África subsaariana com população superior a 1 milhão estão em países adequados para a eletrificação: Acra, em Gana; Adis Abeba, na Etiópia; e Kumasi, em Gana. No sul e no leste da Ásia, apenas 26 das 202 cidades com mais de 1 milhão de habitantes estão em países que são bons candidatos.

Hora de avançar

As cidades já são responsáveis ​​por cerca de 70% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. A batalha para controlar o aquecimento global e descarbonizar nossas economias será ganha ou perdida nas ruas das cidades.

É fundamental que as cidades em posição de fazer isso busquem a eletrificação hoje, enquanto outras comecem a implementar as condições que podem catalisar a eletrificação mais tarde:

  • Cidades com bom acesso a energia, que seja relativamente limpa, devem eletrificar agressivamente, substituindo os combustíveis fósseis pela eletricidade, enquanto continuam a descarbonizar suas fontes de energia. À medida que o consumo da rede elétrica aumenta com a eletrificação, elas também precisam garantir que tenham oferta adequada de energia. A simples substituição de todos os veículos movidos a gasolina por elétricos poderia aumentar a demanda de eletricidade em cerca de 20%, em média, nas 23 maiores cidades do mundo.

  • Cidades com bom acesso a energia, mas uma rede suja devem priorizar a redução da intensidade de carbono das fontes de energia existentes, garantindo condições adequadas para dar início à eletrificação, como políticas fiscais e regulatórias para encorajar a eventual absorção dos veículos e dispositivos elétricos.

  • Cidades com acesso à eletricidade mais limitado, porém mais limpo, devem se concentrar no rápido aumento da oferta de energias renováveis ​​e à melhoria da eficiência energética, enquanto buscam a eletrificação somente em comunidades com altos níveis de acesso à energia.

  • Por último, cidades altamente poluidoras com acesso limitado à energia devem se concentrar na expansão do acesso e precisam de grandes investimentos em energia renovável antes de buscar a eletrificação.

Uma série de políticas econômicas podem acelerar a transição para cidades de baixo carbono. A maior barreira econômica é o custo inicial da geração de eletricidade com baixo teor de carbono e dos próprios dispositivos elétricos. Os incentivos podem ajudar, como subsídios para tuk-tuks, ônibus e carros elétricos, ou fogões elétricos, iluminação LED (diodo emissor de luz) e lanternas solares, ou através do acesso a estações de recarga elétrica. Os dispositivos legais e regulatórios precisam apoiar amplamente o processo de eletrificação, alterando códigos e práticas de construção, por exemplo.

Outras medidas incluem a obrigatoriedade de veículos de emissão zero em frotas municipais, combinando finanças públicas e privadas para tratar das percepções de risco e incentivando os fabricantes a desenvolver novos modelos de negócios, como o leasing de baterias. Embora a eletrificação seja uma estratégia essencial de longo prazo para a descarbonização das cidades, os tomadores de decisão devem ter cautela quanto ao local onde ela será implantada agora. O impacto da eletrificação nas emissões e na equidade precisa ser a prioridade.