Este post foi escrito por Kelly Levin e Dennis Tirpak e publicado originalmente no WRI Insights.


Todos os meses, cientistas fazem novas descobertas que avançam nossa compreensão sobre as causas e os impactos das mudanças climáticas. As pesquisas nos dão uma noção mais clara das ameaças que já enfrentamos e apontam o que ainda está por vir se não reduzirmos as emissões em um ritmo mais rápido.

A série “Este mês na ciência climática”, do WRI, faz um resumo das pesquisas mais significativas de cada mês, compiladas de publicações científicas reconhecidas. Nesta edição são explorados alguns dos estudos publicados em maio de 2019. (Para receber esse conteúdo diretamente em seu e-mail, em inglês, cadastre-se na newsletter “Hot Science”, do WRI.)

Impactos

  • As mudanças climáticas podem afetar a fertilidade: usando um modelo que examina os impactos econômicos da mudança climática, os cientistas descobriram que ela pode afetar a fertilidade. Em regiões onde o clima diminui o rendimento agrícola, os pais gastam menos recursos na educação de seus filhos e têm mais bebês. O oposto é verdadeiro em latitudes mais altas, onde a fertilidade diminui e a educação aumenta.

  • Espécies à beira da extinção: No alarmante relatório da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), cientistas relataram que a taxa de extinção de espécies está aumentando e a saúde dos ecossistemas está se deteriorando rapidamente. A mudança climática é o terceiro principal condutor de mudanças, depois das alterações no uso da terra e do mar e da exploração direta, como a extração de recursos.

  • Mortandade em massa dos papagaios-do-mar: Cientistas relataram um nível incomum de mortalidade de papagaios-do-mar tufados no Mar de Bering, no Alasca, de outubro de 2016 a janeiro de 2017. Evidências mostraram que mais de 350 papagaios-do-mar morreram, provavelmente por inanição. Os autores da pesquisa sugerem que mudanças na abundância e/ou distribuição de presas desempenharam um papel importante na mortandade em massa. O artigo observou que os eventos foram ligados a temperaturas mais altas.

  • Ameaças às espécies endêmicas da Austrália: Modeladores que estudam os impactos futuros do clima na Cordilheira Australiana descobriram que 26 espécies de vertebrados, incluindo 11 espécies endêmicas não encontradas em nenhum outro lugar na Terra, não terão habitat adequado em 2085 sob um cenário de emissões elevadas.

  • Impactos climáticos na alimentação já são evidentes: Cientistas descobriram que a mudança climática já afetou importantes culturas agrícolas, incluindo um declínio de 1% nas calorias de alimentos em 10 culturas diferentes, devido a perdas de rendimento. A Europa, a África Austral e a Austrália experimentaram os maiores declínios, enquanto as mudanças climáticas, curiosamente, tiveram um efeito positivo na América Latina. Em outro artigo, os pesquisadores descobriram que de 20% a 49% das anomalias na produção de milho, soja, arroz e trigo entre os anos de 1961 e 2008 podem ser atribuídas a fatores climáticos como temperaturas extremas.

  • Lagos secando na Groenlândia: Analisando pequenos lagos na Groenlândia, cientistas descobriram que lagoas menores diminuíram 28% em número e 15% em área entre 1969 e 2017. Consequentemente, áreas da Groenlândia estão se tornando mais secas, aumentando o risco de incêndios de tundras.

  • Impactos climáticos para as baleias: As baleias no Golfo do Maine estão alterando seu comportamento ao procurar alimentos devido às mudanças nas correntes oceânicas. Pesquisadores descobriram que as baleias são cada vez mais atingidas por navios e ficam emaranhadas em equipamentos de pesca ao desviarem dos padrões típicos de migração.

  • Cada grau de aquecimento é importante: O mundo já experimentou 1°C de aquecimento; com um grau a mais, os pesquisadores descobriram que as espécies remanescentes diminuirão 4% e o habitat adequado para elas 35%.

  • As espécies não-nativas podem se adaptar melhor: Cientistas expuseram plantas nativas e não-nativas ao aquecimento e descobriram que as espécies não-nativas floresceram mais cedo do que as espécies nativas. Essa vantagem pode permitir que espécies não-nativas se espalhem geograficamente.

  • Rãs morrendo: O aquecimento pode levar a surtos graves de ranavírus, resultando em maiores taxas de mortalidade de rãs.

  • Bananas podres: Pesquisadores descobriram que a Sigatoka Negra, uma doença da banana, aumentou na América Latina e no Caribe desde a década de 1960. Os cientistas culpam as condições mais úmidas e mudanças de temperatura.

  • Espécies podem ficar menores: Um estudo postulou que comedores de insetos pequenos, férteis e mais rápidos em geral se sairão melhor em um clima em mudança, levando a alterações na composição de espécies.

  • Nenhuma adaptação às águas ácidas: Os cientistas testaram a capacidade de aclimatização das espécies de macroalgas corais e calcárias para a acidificação dos oceanos. Eles descobriram que nenhuma tem essa habilidade, ressaltando a ameaça que a acidificação do oceano representa para os recifes.

Extremos

  • Maiores ondas do oceano: Cientistas usaram dados globais de satélite para avaliar as tendências da velocidade do vento e altura das ondas de 1985 a 2018. Eles encontraram um pequeno aumento na velocidade média do vento e um ganho significativo na altura das ondas, com as maiores mudanças no Oceano Antártico. Tanto a velocidade do vento quanto o tamanho das ondas têm implicações importantes para o aumento do nível do mar.

  • Aquecimento induzido pelo homem causou onda de calor japonesa: Os cientistas descobriram que o calor recorde de julho de 2018 no Japão "nunca teria acontecido" sem o aquecimento induzido pelo homem. Eles também previram que, com 2°C de aquecimento, dias quentes extremos aumentariam em 1,8 vezes.

  • Monção asiática mais fraca: Cientistas descobriram que as emissões de aerossóis são uma das principais causas de um enfraquecimento sem precedentes da monção de verão asiática de 1934 a 2013. As monções fracas do verão asiático podem levar a secas e pragas de gafanhotos.

  • Calor extremo para o nordeste dos EUA: O que costumava ser um evento de calor extremo de um dia por ano, sob um cenário de emissões elevadas, atingirá as comunidades mais vulneráveis no nordeste rural dos Estados Unidos 23 vezes por ano entre 2046-2075.

  • Influência humana na seca: Avaliar a influência humana na seca global tem sido um desafio devido à falta de registros e à significativa variabilidade natural. Em um novo estudo, os cientistas usaram dados de anéis de árvores para examinar o papel das atividades humanas, incluindo aquelas que levam ao aumento dos gases de efeito estufa. Eles descobriram um sinal claro de que as atividades humanas afetavam o risco de seca desde o início do século 20.

Oceanos

  • O aumento do nível do mar é maior do que se pensava anteriormente: Cientistas concluíram que, no cenário mais pessimista de emissões elevadas, a elevação máxima do nível do mar global será superior a 2 metros (6 pés) até o final do século, sob um cenário de emissões elevadas. Este nível de aumento do nível do mar é 2 vezes maior do que o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Deslocaria 187 milhões de pessoas e afundaria 1,8 milhão de quilômetros quadrados de costa, incluindo importantes regiões produtoras de alimentos.

  • Oceanos verdes: Como a estação de cultivo do inverno está ficando mais longa, o Oceano Antártico está se tornando mais verde devido ao aumento do fitoplâncton nos últimos 21 anos. O Oceano Austral desempenha um papel crítico na regulação do clima da Terra.

Gelo

  • Diluição da camada de gelo da Antártica: Pesquisadores descobriram que, entre 1992 e 2017, o gelo da Antártica Ocidental diminuiu em quase um quarto. No total, as perdas de gelo do leste e oeste da Antártica levaram a 4,6 milímetros de aumento do nível do mar.

  • Geleiras desaparecidas: O Glacier Model Intercomparison Project descobriu que, em 19 regiões glaciares (excluindo os lençóis de gelo da Antártica e da Groenlândia), a perda de massa das geleiras aumentará de 18% a 36% até o final do século. Este nível de derretimento faria com que os mares aumentassem em quase 10 polegadas (25,4 centímetros).

  • O derretimento de geleiras pode neutralizar a seca: A seca extrema afetou milhões em toda a Ásia, arriscando migrações, conflitos e instabilidade. Um cientista descobriu que a água derretida das geleiras de alta altitude da Ásia está neutralizando o estresse hídrico, fornecendo uma fonte de água essencial durante períodos de escassez de água. Ele sugeriu que a água de degelo do verão atende às necessidades de 221 milhões de pessoas.

Emissões

  • Aumento dos CFCs na China: Cientistas detectaram um aumento no triclorofluorometano (CFC-11), um potente gás de efeito estufa, proveniente do leste da China após 2012. Eles observaram que o aumento é provocado pela nova produção e uso não declarado. Um aumento no CFC-11 é incompatível com o Protocolo de Montreal, um acordo internacional para eliminar a produção global de CFCs até 2010.