Esse artigo foi escrito por Rachel Spiegel, e originalmente postado no WRI Insights.


Março é um mês especial para o debate da equidade de gênero. O dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher vem cultivando e expandindo marchas e manifestações que chamam atenção para problemas ainda enfrentados diariamente pelas mulheres no mundo todo.

A crescente atenção a questões como agressão sexual e assédio é um importante passo na direção certa. Mas mudanças sociais não podem – e não devem – permanecer preservando apenas grupos privilegiados, formados por mulheres que usam smartphones para se manterem ativas nas redes sociais ou engajadas na política. Uma maneira mais inclusiva de pensar sobre gênero precisa levar em consideração mulheres de todas os espectros econômicos, cujas vozes são frequentemente esquecidas.

As mulheres estão entre as pessoas mais vulneráveis às mudanças climáticas, muitas vezes na linha de frente dos impactos. Precisamos enfrentar esse aspecto da desigualdade de gênero para realizar uma transformação efetiva visando a economia global sustentável. Sem essa ação, não iremos atingir as metas ambientais que almejamos.

Mulheres já sentem desproporcionalmente os impactos das mudanças climáticas, e a grande lacuna em vagas de emprego e faixas salariais faz com que elas tenham ainda menos capacidade de reação. Mulheres e crianças são 14 vezes mais propensas a morrer em desastres naturais. Na África Subsaariana, onde 71% da tarefa de coletar água para as residências recai sobre mulheres e meninas, a mudança do padrão das chuvas pode forçá-las a deslocamentos ainda maiores.

Existe um crescente reconhecimento do papel de liderança que as mulheres desempenham para o sucesso de estratégias de mitigação e adaptação. Países com mais mulheres no parlamento são mais propensos a reservar áreas de terras protegidas e ratificar tratados internacionais de meio ambiente. Além disso, levando em consideração que muitas mulheres contribuem significativamente para o uso de energia, água e outros recursos de um lar, envolvê-las significativamente em ações climáticas é essencial.

Existe ainda um considerável benefício econômico ao promover a igualdade de gênero: avançar na equidade das mulheres pode adicionar gritantes 12 trilhões de dólares à economia global até 2025. Em geral, uma maior igualdade de gênero se traduz em um melhor uso do capital humano, que leva a maiores Produtos Internos Brutos per capita e aumenta a competitividade. Mais mulheres se juntando à força de trabalho resulta em crescimento mais rápido da economia.

Mais força de trabalho feminina

Mas o que será necessário para ter mais mulheres no mercado de trabalho? A maioria das mulheres nos países em desenvolvimento, especialmente mulheres pobres, trabalha no setor informal, em que os empregos em grande parte não são registrados, são mal pagos e carecem de proteção social, como licença maternidade, cobertura de saúde, assistência infantil e outros serviços de respaldo social. Nas áreas urbanas, os serviços de infraestrutura geralmente não respondem às suas necessidades. Por exemplo, as mulheres correm o risco de enfrentar assédio e abuso físico no transporte público, o que pode dificultar sua disposição de se movimentar livremente. Isso significa, para mulheres que podem pagar, mudar para o uso de veículos particulares, aumentando o tráfego nas cidades e o tamanho dos congestionamentos. Por exemplo, o esquema ímpar de Nova Deli, projetado para reduzir o uso de veículos particulares durante os dias de maior poluição no inverno da cidade, isentou mulheres motoristas. As mulheres mais pobres, no entanto, são forçadas a mudar de rota, muitas vezes por alternativas menos convenientes ou mais caras, ou abandonam completamente os empregos (ou a educação). Considerar as necessidades das mulheres é tão essencial quanto a eficiência de combustível dos ônibus públicos ou a expansão dos serviços de metrô se quisermos construir cidades inclusivas nas quais as mulheres têm acesso igual aos empregos.

Nas áreas rurais, as mulheres muitas vezes não têm acesso a recursos produtivos, como terra, tecnologia, educação e serviços financeiros, que são essenciais para aumentar e melhorar a produtividade agrícola e o acesso ao emprego. Essa lacuna de recursos em função do gênero reduz a produtividade agrícola em uma média de 23% a 30%, o que leva a uma diferença de rendimento de 2,4% a 4%. A pesquisa mostrou que apenas o fim dessa lacuna poderia reduzir a subnutrição em até 17%, diminuindo o número de pessoas subnutridas em até 150 milhões de pessoas em todo o mundo.

Embora tenhamos muito a avançar nas frentes de gênero, econômica e ambiental, há sinais encorajadores de ação. O setor de energia renovável, por exemplo, mostra exemplos promissores de como as oportunidades econômicas de baixo carbono inclusivas de gênero podem se parecer. As mulheres representam aproximadamente 35% do mercado de trabalho de energia renovável, o que é significativo quando se considera que as mulheres representam apenas 20% a 25% do mercado de trabalho na indústria global de energia. E dentro do setor de energias renováveis, as mulheres, em média, representam 32% das funções gerenciais, cerca de 7% mais do que o número estimado de cargos de gerência sênior ocupados por mulheres na classificação Fortune 500 Companies.

É animador que setores novos e de rápido crescimento, como energia renovável, estejam registrando mais mulheres em níveis variados de participação no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, precisamos garantir que o desenvolvimento sustentável e as políticas climáticas não sejam indiferentes à questão de gênero. Envolver as mulheres no planejamento e no desenvolvimento de políticas, garantir que suas necessidades sejam atendidas e que elas recebam, como os homens, as melhores oportunidades para alcançar seu potencial econômico – isso é bom para o clima, para o desenvolvimento e o crescimento.