Esse artigo foi postado originalmente em WRI.org.


Estamos à beira de uma nova era de crescimento, na qual ele é movido pela interação entre a rápida inovação tecnológica, os investimentos em infraestrutura sustentável e o aumento da produtividade dos recursos. Ações climáticas ambiciosas concentradas em sistemas econômicos-chave – energia, cidades, comida e uso do solo, água e indústria – podem levar à maior produtividade, economias mais resilientes e maior inclusão social. Essa é a história do crescimento do século 21.

Contudo, não estamos progredindo na adoção desse modelo de crescimento na velocidade necessária. Os próximos 10 a 15 anos serão um momento único de "fazer ou perder" tanto para a economia quanto o clima. O mundo irá investir US$ 90 trilhões em infraestrutura até 2030, mais do que o atual capital aplicado globalmente. A maneira como essa infraestrutura será construída se tornará um fator determinante para a prosperidade das pessoas e do planeta. Esse também é o momento-chave para virar a maré das mudanças climáticas. Dos últimos 19 anos, 18 já foram registrados como os mais quentes da história. Desastres provocados por condições metereológicas e riscos relacionados ao clima foram responsáveis por centenas de mortes e US$ 320 bilhões perdidos no ano passado. Nesse verão do hemisfério norte, ondas de calor recordes, incêndios e enchentes extremas se tornaram letais e causaram bilhões em prejuízos. A menos que tomemos agora um passo decisivo para uma economia de baixo carbono, arriscaremos enfrentar os enormes custos de mudanças climáticas irreversíveis.

O New Climate Economy lançou seu relatório de 2018 intitulado “Unlocking the Inclusive Growth Story of the 21st Century: Accelerating Climate Action in Urgent Times” (Destravando a história do crescimento inclusivo do século 21: acelerando a ação climática em tempos urgentes). O documento demonstra os benefícios de um novo modelo de crescimento de baixo carbono e salienta como podemos acelerar urgentemente os esforços para atingi-lo. Ações corajosas podem levar a ganhos econômicos diretos de US$ 26 trilhões (cumulativos) até 2030 em comparação a negócios feitos atualmente. E essa é uma estimativa conservadora. Ações climáticas ambiciosas podem gerar mais de 65 milhões de novas vagas de trabalho de baixo carbono em 2030 – o equivalente a força de trabalho total do Reino Unido e Egito somadas – e podem evitar mais de 700 mil mortes prematuras em função da poluição do ar até 2030.

Os próximos dois ou três anos são uma janela determinante quando muitas das decisões políticas e de investimentos que irão moldar os próximos 10 a 15 anos serão tomadas. O New Climate Economy provoca líderes de governos, empresas e finanças que priorizem ações urgentes em 4 frentes:

1) Intensificar esforços na precificação de carbono e avançar na divulgação obrigatória dos riscos financeiros relacionados ao clima

Economias fortes devem precificar o carbono até pelo menos US$ 40 a US$ 80 por tonelada de CO2 até 2020, seguindo um já calculado caminho de aumentos até 2030. Hoje, 70 países, estados e províncias já têm preços de carbono aplicados ou planejados, cobrindo 20% das emissões globais de gases de efeito estufa. Grandes economias devem abrir o caminho na eliminação progressiva dos subsídios dos combustíveis fosseis, dos subsídios agrícolas nocivos e incentivos fiscais até 2025.

Estima-se que a reforma dos subsídios aos combustíveis fósseis e a precificação do carbono por si só podem gerar US$ 2,8 trilhões em receitas de governo por ano em 2030, o equivalente ao atual Produto Interno Bruto da Índia. Esses fundos podem ser usados em investimentos públicos urgentes.

Acelerar esforços para divulgar informações financeiras relacionadas aos riscos climáticos é essencial para entregar a absoluta transparência e transferir financiamentos tão necessários para soluções de baixo carbono. Mais de 390 companhias – incluindo investidores com ativos com valor de mercado de mais de US$ 7 trilhões – já se comprometeram publicamente a apoiar as recomendações da Força-Tarefa sobre a Divulgação Financeira relacionada ao Clima, e algumas delas estão começando a aplicá-las em suas divulgações financeiras.

2) Acelerar investimentos em infraestrutura sustentável

Garantir que os investimentos em infraestrutura sejam sustentáveis é fundamental. O G20 deveria continuar o seu esforço para desenvolver a infraestrutura como uma classe de ativos de investimento para melhorar a mobilização de financiamentos privados e de longo prazo. Bancos multilaterais de desenvolvimento deveriam dobrar seus investimentos coletivos em infraestrutura, garantindo que sejam sustentáveis, com o objetivo de investir pelo menos US$ 100 bilhões por ano até 2020.

3) Explorar o poder do setor privado e desencadear inovações

Até 2020, todas as 500 empresas citadas na Fortune 500 devem estabelecer metas de redução de emissões alinhadas com o que os cientistas afirmam ser necessário para prevenir os piores impactos climáticos. Mais de 460 companhias de diversos setores se comprometeram nas Science-Based Targets (Metas de Base Científica).

É necessário um forte empurrão nas inovações, assim como nas cadeias de suprimento livres de desmatamento ou edifícios comerciais que gerem energia renovável para o seu consumo, também chamados de edifícios net zero. Precisamos de pelo menos US$ 50 bilhões de novos capitais comprometidos para avançar nos desafios climáticos até 2020.

4) Construir uma abordagem centrada nas pessoas que compartilhe os ganhos de forma equitativa e garanta que a transição seja justa

Todos os governos devem estabelecer Planos de Transição de Energia claros para alcançar sistemas net zero de energia, ou seja, sistemas em que a produção de energia renovável é suficiente para atender a demanda. Eles devem trabalhar com empresas fornecedoras de energia, sindicatos e grupos da sociedade civil para garantir que a transição para uma economia de baixo carbono não acarrete encargos injustos sobre os trabalhadores e as comunidades.

As mulheres desempenharão um papel fundamental nessa agenda. Assegurar sua plena participação na economia poderia impulsionar o PIB global em até US$ 28 trilhões por ano até 2025.

Um foco maior na adaptação e na resiliência através de esforços e políticas é fundamental, pois os impactos do clima continuam a afetar negativamente vidas e meios de subsistência. Não podemos mais escolher entre as ações de hoje e as de amanhã.

O futuro que queremos

Líderes já estão aproveitando as oportunidades econômicas e de mercado dessa nova abordagem de crescimento; os retardatários não estão apenas perdendo essas oportunidades, eles estão nos colocando em uma situação de risco ainda maior.

Podemos fazer esta nova era de crescimento acontecer. Podemos eliminar a extrema pobreza, prevenir o mundo de mudanças climáticas perigosas e melhorar a vida e os modos de subsistência de milhões de pessoas – mas apenas se decidirmos fazer isso agora. Como o novo relatório deixa claro, nós temos tudo a perder e muito a ganhar.

A Global Commission on the Economy and Climate é uma importante iniciativa internacional criada em 2013 para ajudar os governos, as empresas e a sociedade a tomarem decisões mais bem fundamentadas sobre como alcançar a prosperidade e o desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo em que tratam as mudanças climáticas. A Comissão, atualmente presidida por Ngozi Okonjo-Iweala, Paul Polman e Lord Nicholas Stern, é formada por líderes de mais de 20 países, incluindo antigos chefes de governo e ministros de finanças, líderes empresariais, chefes de organizações internacionais, prefeitos e acadêmicos. Todos eles servem na Comissão a título pessoal.