Este post foi escrito por Nancy Harris, Elizabeth Dow Goldman, Mikaela Weisse e Alyssa Barrett e publicado originalmente no WRI Insights.


A narrativa agora é nova: o mundo está perdendo sua cobertura florestal a uma taxa alarmante, e as consequências para a biodiversidade, o clima e comunidades indígenas são graves.

A questão é: por quê? O que está causando essa perda? E as árvores retornarão ou a terra será utilizada para novos propósitos? Um novo estudo do WRI, publicado na revista Science, nos deixa um passo mais perto de responder essas perguntas.

Junto ao Consórcio de Sustentabilidade e à Universidade de Maryland, o WRI interpretou visualmente milhares de imagens de satélite no Google Earth para identificar o que causou os distúrbios em florestas de todo o mundo. Usamos essas informações para treinar um modelo de computador para determinar os fatores mais prováveis associados à perda de cobertura florestal no mundo entre 2001 e 2015. Agora, o mapa está disponível no Global Forest Watch.

São apontadas cinco causas para a perda de cobertura florestal. Entender as implicações de cada uma ajuda a contextualizar e avaliar com mais precisão as condições das florestas em todo o mundo.

Desmatamento causado por commodities: 27%

O desmatamento causado por commodities foi o fator associado a 27% da perda global de cobertura de árvores entre 2001 e 2015, o equivalente a aproximadamente um quarto do tamanho da Índia. Esse tipo de perda exemplifica a definição de desmatamento, na medida em que reflete uma conversão permanente da cobertura florestal em outra coisa.

As árvores são cortadas para dar lugar a atividades como agricultura, mineração e produção de petróleo e gás. A maior parte do desmatamento associado a commodities acontece nas florestas tropicais da América Latina e no Sudeste da Ásia.

Centenas de empresas comprometeram-se publicamente a com a produção e abastecimento sustentável de commodities como azeite de dendê, soja, carne bovina e ouro. Pela primeira vez, podemos quantificar o quanto do desmatamento é devido à produção de commodities e avaliar o impacto. Nossos resultados mostram que ainda há muito a ser feito; a produção de commodities é responsável por uma média de cinco milhões de hectares de desmatamento por ano.

Agricultura itinerante: 24%

Em regiões tropicais, as comunidades locais utilizam a prática tradicional da agricultura itinerante, na qual o solo é limpo e queimado para o cultivo de curto prazo de culturas de subsistência. Depois da colheita, a terra é deixada para permitir que as florestas se regenerem. Essa e outras formas de agricultura em pequena escala foram associadas a 24% da perda da cobertura florestal global.

O impacto e a permanência da perda de cobertura florestal devido à mudança de agricultura variam de um lugar para outro e, portanto, o nível de permanência associado à perda de cobertura florestal nessas paisagens é mais difícil de determinar do que o desmatamento causado pelo cultivo de commodities. Em partes do Peru, mudanças nos ciclos de cultivo são bem gerenciadas e contribuem para uma paisagem estável de agricultura e florestas regeneradas. Em outras áreas, como na República Democrática do Congo, o rápido crescimento populacional tem intensificado a pressão sobre o uso da terra, levando a períodos de mais curtos de descanso do solo, menos oportunidades para a regeneração das florestas e degradação em longo prazo. A expansão de paisagens em mosaico também pode ocorrer às custas de florestas primárias intactas, que fornecem valor especial para a biodiversidade e armazenamento de carbono.

Urbanização: 6%

A expansão dos centros urbanos foi o fator dominante associado a uma pequena fração (6%) da perda de cobertura florestal globalmente. Mais de dois terços dessa perda aconteceram no leste dos Estados Unidos. Árvores dentro e no entorno das cidades contribuem para a qualidade do ar e da água e para a regulação do escoamento de águas pluviais e inundações urbanas. A queda na cobertura florestal tende a gerar significativos impactos econômicos e perda de qualidade de vida para milhões de moradores de áreas urbanas.

Incêndios: 23%

Os incêndios foram associados a 23% da perda de cobertura florestal global e ocorreram principalmente nas florestas do norte do Canadá e da Rússia. Alguns começam naturalmente e são um elemento importante da sucessão ecológica. Outros, no entanto, são causados pelo homem, acidental ou intencionalmente, ou ainda induzidos pelas mudanças climáticas, levando a uma frequência de ocorrências cada vez maior. Nos Estados Unidos, os problemas decorrentes dos incêndios concentram-se principalmente onde casas e vegetação ocupam as mesmas áreas. As florestas afetadas pelos incêndios em geral se regeneram gradualmente, mas incêndios extremos, acentuados pelas mudanças climáticas, podem ter efeitos duradouros sobre a fauna, o armazenamento de carbono e ciclo natural de incêndios na paisagem.

Silvicultura: 26%

A silvicultura foi o fator associado a 26% da perda de cobertura florestal global entre 2001 e 2015, concentrada nas florestas naturais e plantações de árvores da América do Norte, Europa, Rússia, China, sul do Brasil, Chile, África do Sul e Austrália. Na maior parte dos casos, a perda da cobertura florestal é um fenômeno temporário, relacionado ao planejamento das épocas de colheita e regeneração das árvores para suprir produtos de madeira. Nesse contexto, a certificação surgiu como mecanismo para assegurar que os ciclos de colheita e replantio de árvores sejam bem gerenciados, resultando em uma cadeia sustentável e de longo prazo de produtos de madeira, entre outros benefícios sociais e ambientais.

A análise do WRI sugere que os ciclos anuais de colheita afetam menos de 1% da cobertura florestal total em áreas dominadas pela silvicultura. Atualmente, a certificação é principalmente vista no hemisfério norte, e os custos de processos efetivos de monitoramento e auditoria são uma das barreiras para que seja utilizada também nos trópicos.

Rumo a um cenário mais completo

Desde 2014, o Global Forest Watch disponibiliza dados atualizados sobre a perda de cobertura florestal ano a ano, oferecendo aos usuários insights e informações sobre onde e quando essa perda está acontecendo. Hoje a plataforma avançou um passo em direção à explicação de por que a perda de cobertura acontece – uma informação da qual tomadores de decisão precisam para desenvolver soluções adequadas.

A análise mostra que nem toda a perda de cobertura florestal é igual nem merece a mesma atenção de legisladores e conservacionistas. A cobertura florestal associada a silvicultura, incêndios e agricultura itinerante costuma ser temporária se as florestas têm tempo de se regenerar. No entanto, a conversão de áreas florestais para mineração, produção de petróleo e gasolina, agricultura industrial e urbanização é tipicamente permanente.

Descobrimos que mais de 25% da perda de cobertura florestal no mundo ocorreu em áreas onde a produção de commodities foi o catalisador principal, particularmente na América do Sul e no Sudeste Asiático. Essa informação mostra que, se quiser atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 15, a comunidade internacional precisa agir com urgência para combater o desmatamento. Empresas podem priorizar jurisdições de alto risco em suas cadeias de suprimento de commodities, os governos podem apoiar a restauração de paisagens florestais que foram utilizadas para agricultura e a população pode ajudar a alertar quando o desmatamento ameaçar florestas importantes.