Uma cidade inteligente é aquela na qual a tecnologia está integrada ao ambiente e às atividades urbanas, mas não apenas isso. Em uma cidade inteligente, as inovações urbanas devem aspirar a um modelo urbano sustentável, que promova a conectividade entre lugares, pessoas e serviços e a operação das funções urbanas de forma que garantam ganho na qualidade de vida.

As cidades brasileiras encontram-se ainda no início da caminhada da inovação urbana – mas também é verdade que, cada vez mais, buscam soluções inovadoras.

O que acontece, no geral, é que esse interesse muitas vezes esbarra em um obstáculo: o financiamento. Em um cenário de dificuldades econômicas no país, a obtenção de recursos para projetos e, em específico, os voltados à inovação, se torna um desafio a ser superado.

Para preencher parte dessa lacuna, o governo federal lançou recentemente, por meio da Finep, o programa Cidades Inovadoras. O programa disponibilizará até R$ 1 bilhão em dois anos para projetos focados em inovação urbana, com o objetivo de “descentralizar o financiamento de atividades de inovação em prol do desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras”.

Luana Betti, especialista em Economia Urbana do WRI Brasil, acredita que as condições do programa podem facilitar a implementação de novas soluções – que muitas vezes afastam investidores devido aos riscos envolvidos: “Soluções inovadoras envolvem um grande componente de risco – dadas as incertezas de seu retorno econômico e social, às vezes os investimentos se afastam de tais soluções. Diante disso, a possibilidade de reduzir o custo financeiro por meio de um empréstimo subsidiado, ou seja, com taxas de juros menores e prazos de pagamento mais longos, é um incentivo para a implementação da inovação. Essa parece ser a tentativa da Finep com o programa Cidades Inovadoras”.

Bancos de desenvolvimento, agências de fomento e outras instituições financeiras repassarão recursos a prefeituras, governos estaduais e empresas de economia mista ou empresas privadas interessadas em desenvolver projetos de inovação em quatro setores: saneamento e recursos hídricos, mobilidade urbana, eficiência energética e energia renováveis. No âmbito do saneamento, os projetos podem incluir, por exemplo, tratamento, compostagem e aproveitamento da água da chuva. Na área da mobilidade, podem ser contempladas a implantação de sistemas de transporte e circulação que visem à eficiência e à redução de gases poluentes. Quanto aos setores de eficiência energética e energias renováveis, podem incluir propostas sobre instrumentações, processos, programas, tecnologias e sistemas para energia fotovoltaica, eólica e biomassa.

Conforme a Finep, os projetos apresentados devem variar entre R$ 15 milhões e R$ 350 milhões, dependendo do tamanho da prefeitura, e a perspectiva é de receber 400 projetos já no primeiro ano. O órgão espera que, no mínimo, 200 municípios participem. “Para que as cidades consigam aproveitar essa linha de crédito, é importante que atentem para dois pontos principais: bons projetos e capacidade fiscal adequada. Apesar de se tratar de um crédito incentivado, as cidades terão que se adequar à análise de crédito da instituição, tendo que comprovar sua capacidade de pagamento do financiamento. Projetos bem estruturados e uma saúde fiscal adequada não somente aumentam a probabilidade de acesso ao empréstimo, como também têm o potencial de reduzir os custos com o financiamento”, avalia Luana.

O potencial da inovação para a mobilidade urbana

O financiamento, afinal, é um ponto delicado – e ao mesmo tempo crucial – para a implementação bem-sucedida de novas soluções.

Esse foi também um dos atrativos do Desafio InoveMob, realizado pela parceria entre Toyota Mobility Foundation, FNP e WRI Brasil com o objetivo de encontrar soluções de mobilidade inovadoras para áreas com grande circulação de pessoas nas cidades. Os cinco finalistas do concurso receberam apoio financeiro de US$ 20 mil cada para implementar seus pilotos nas cidades brasileiras (conheça dois projetos, aqui e aqui), e o grande vencedor, a ser anunciado em dezembro, receberá US$ 100 mil para dar escala à sua ideia.

Bikxi, um dos projetos finalistas do Desafio InoveMob (Foto: Joana Oliveira/WRI Brasil)

O que os projetos do InoveMob buscam é criar condições melhores, mais eficientes e inovadoras para algo intrínseco à mobilidade: ir de um lugar a outro. O mesmo propósito poderá, agora, ser perseguido pelas propostas que forem selecionadas dentro do novo programa do governo federal. “As inovações em mobilidade mudaram como as pessoas se deslocam nas cidades. Cabe agora ao poder público integrar essas inovações com o sistema de transporte convencional de forma a serem complementares”, comenta Guillermo Petzhold, especialista de Mobilidade Urbana do WRI Brasil. Em sua visão, as cidades que buscarem recursos do programa podem apostar em alguns caminhos: “Podem ser realizadas ações para melhorar o deslocamento no primeiro e último trecho, do terminal ou estação para a casa ou trabalho; para fomentar a eletrificação da frota de transporte coletivo ou para otimizar e qualificar o seu serviço de forma a atrair e reter pessoas”.

À mobilidade, não cabe uma solução, mas soluções. E a Nova Mobilidade está aí para comprovar.

Quando falamos da Nova Mobilidade é importante saber que estamos falando de soluções em quatro grandes áreas: mobilidade compartilhada (ex: sistemas de bike sharing e viagens por aplicativo), experiência do usuário (integração entre os meios de transporte), inovação em produtos (eletrificação da frota) e decisões baseadas em dados (uso dos dados para planejamento urbano). Para usufruir as mudanças positivas que essas soluções podem oferecer, é essencial que as cidades estejam abertas e preparadas para receber inovações disruptivas – que podem contribuir não só para a mobilidade, mas para a cidade como um todo. “As inovações estão ocorrendo em todas as áreas. É muito importante que as cidades estejam abertas a receber estas soluções e testá-las para ver a receptividade e entender a percepção das pessoas”, finaliza Guillermo.