Este artigo foi escrito por Stephen Russell e Yelena Akopian e publicado originalmente no Insights.


Sabão para lavagem de roupas com água fria, pneus que reduzem o consumo de combustível, rolamentos de esferas que economizam energia, servidores que geram menos emissões. As empresas estão cada vez mais anunciando que seus bens e serviços reduzem as emissões. Em uma pesquisa do CDP de 2017, 36% das empresas participantes afirmaram que vendem produtos capazes de ajudar os consumidores a reduzir suas emissões – um aumento de 20% em relação ao ano anterior.

Mas há um grande problema: essas emissões evitadas são frequentemente imprecisas e impossíveis de verificar. O WRI realizou uma revisão abrangente das alegações feitas por mais de 300 empresas de diversos setores e tamanhos e encontrou uma variação considerável nas abordagens, além de problemas metodológicos generalizados na maneira como as empresas medem e relatam suas emissões evitadas. Por exemplo: enquanto todas as empresas avaliadas relataram que seus produtos evitavam emissões, nenhuma delas declarou explicitamente como seus produtos poderiam aumentar as emissões.

Essa é uma má notícia para os consumidores, que podem estar usando informações não confiáveis para embasar suas escolhas. E são notícias ainda piores para grandes empresas que estão comprando componentes para seus produtos e se expondo a possíveis acusações de greenwashing, um termo usado quando empresas, governos ou pessoas se apropriam de virtudes ambientais para usar em estratégias de marketing e relações públicas.

No recém-lançado relatório Estimating and Reporting the Comparative Emissions Impacts of Products (Estimando e reportando os impactos de emissões comparativas de produtos, em tradução livre), o WRI identifica as maiores fraquezas nas atuais práticas e fornece recomendações para que as empresas façam afirmações confiáveis sobre os impactos climáticos de seus produtos.

Veja cinco pontos de atenção para empresas que queiram comunicar que estão reduzindo as emissões de gases de efeito estufa:

1. Não compare maçãs a laranjas

Primeiro, é importante entender que o discurso de emissões evitadas geralmente se encaixa em três categorias distintas. O tipo de mensagem mais simples compara dois produtos, como dois tipos de televisores, por exemplo. Na hora de escolher um produto para comparar, é preciso que seja algum que tenha maior probabilidade de ser substituído pelo recém-lançado, de acordo com o comportamento esperado dos consumidores. Por exemplo, um fabricante de TV não deve comparar as emissões do ciclo de vida de seu modelo mais recente a um modelo antigo construído com tecnologia ultrapassada.

2. Faça a conta para todo o ciclo de vida do produto

Estimativas comparativas entre dois produtos precisam incluir as emissões de todas as fases do ciclo de vida – desde extração de matérias-primas, produção, processamento e transporte, até o uso do produto e descarte ao final da vida útil.

Uma empresa japonesa, por exemplo, desenvolveu vidros de isolamento duplo para janelas e portas residenciais. A empresa alega que, embora a fabricação do vidro duplo gere mais emissões em comparação com o vidro convencional, as emissões são reduzidas durante a fase de uso porque o vidro permite que as salas permaneçam em temperaturas confortáveis e usem menos energia. A empresa comparou as emissões do ciclo de vida de ambos os produtos ao longo de um período de 30 anos, estimando que as vidraças de vidro duplo evitam 217,46 quilos de CO2 por metro quadrado em comparação com o vidro simples.

O GHG Protocol Product Life Cycle Accounting and Reporting Standard, um protocolo para padronizar a avaliação de emissões no ciclo de vida de um produto, fornece orientação detalhada para avaliar as emissões completas e concentrar os esforços nas maiores oportunidades de redução de emissões.

3. Considere as mudanças no comportamento do consumidor

Um segundo tipo de alegação de emissões evitadas destaca os benefícios de um único produto no mercado para calcular os impactos totais de emissões. Por exemplo, a Braskem, uma empresa petroquímica brasileira, desenvolveu uma tecnologia de embalagens plásticas que pode substituir os recipientes de lata de aço, normalmente utilizados para chocolate em pó. Calculou que, considerando o mercado brasileiro de chocolate em pó em 2010, a substituição de todas as latas por embalagens plásticas poderia reduzir as emissões totais de gases de efeito estufa em 10 mil toneladas.

No entanto, as empresas também devem considerar que o uso de um produto pode criar um efeito cascata que aumenta ou reduz as emissões fora do ciclo de vida do produto. Por exemplo, o uso embalagens plásticas pode reduzir os custos de fabricação. Se essa economia de custo for repassada para o consumidor, isso pode levar a um aumento nas vendas, que anula alguns ou todos os benefícios da redução de emissões das embalagens de plástico.

As empresas podem usar o GHG Protocol Policy and Action Standard, que recomenda considerar como o produto avaliado alterará as emissões no mundo real. As empresas deveriam divulgar de forma transparente essas considerações do mundo real e, quando possível, incorporá-las em seus cálculos de emissões evitadas.

4. Não confunda o tamanho do mercado com o impacto

Para calcular o impacto global da redução de emissões de um produto no mercado, as empresas frequentemente multiplicam o impacto de um produto pelo número estimado de produtos finais em uso. No entanto, isso ignora o fato de que as emissões só são evitadas se o produto de baixa emissão for usado no lugar do produto de referência.

Por exemplo, uma nova linha de tablets com consumo eficiente de energia pode ter menos emissões em comparação com um computador (desktop) ao longo da vida útil. Mas se os consumidores não estão substituindo seus computadores pelos tablets, mas usando os dois, o produto não está evitando emissões.

As empresas deveriam, quando possível, usar números de vendas reais e estimar apenas o número de produtos que irá substituir o estoque existente ou futuro. O impacto de redução de emissões por unidade deve ser informado separadamente dos resultados de mercado.

5. Não escolha apenas a cereja do bolo

Um terceiro tipo de alegação de redução de emissões faz uma comparação entre múltiplos produtos, como toda a linha de produtos de baixo carbono de uma empresa. Ao escolher produtos para avaliar, não limite as análises aos produtos já são conhecidos por reduzir emissões. Analises que agregam resultados devem representar o portfólio completo de produtos da empresa, em vez de um subconjunto de produtos que já se espera que tenha um impacto positivo.

Por exemplo, a AT&T estabeleceu uma meta para economizar 10 vezes a quantidade de carbono gerada por suas operações até 2025. Rastrear o progresso dessa meta exigiria que a empresa considerasse os impactos negativos e positivos de todos os produtos de seu portfólio. Projetos para promover a eficiência energética em prédios e fazendas podem evitar emissões. Por outro lado, planos telefônicos que incentivam os usuários a substituir o smartphone a cada dois anos podem aumentar o impacto nas emissões.

A regra de ouro: seja sempre transparente

A maioria das alegações analisadas carece da informação necessária para avaliar sua credibilidade. As empresas precisam fornecer informações claras e completas sobre como calcularam as emissões evitadas e que produto ou variedade de produtos usaram para comparação. Elas devem sempre relatar um inventário completo da cadeia de valor, incluindo as emissões do escopo 1, escopo 2 e escopo 3. Ao contrário das avaliações de impacto comparativas, essa é uma prática bem estabelecida e pode medir com segurança se as emissões de uma empresa estão aumentando ou diminuindo.

Ao seguir a regra de ouro da transparência e os cinco pontos acima, as empresas podem melhorar a credibilidade de suas reivindicações, evitar uma mancha na marca com acusações de greenwashing, aumentar a confiança dos clientes e embasar melhor as decisões internas. E o mais importante de tudo: elas podem desempenhar um papel fundamental na redução das emissões e no combate às mudanças climáticas.