Este post foi escrito por Emily Cassidy e Daniel Moran e publicado originalmente no blog do Resources Watch.


Algumas grandes cidades no mundo geram uma quantidade de emissões de gases de efeito estufa igual a de pequenos países. Essa é a conclusão de um estudo que aponta que 18% de todas as emissões globais provém de apenas 100 cidades, ainda que metade da população mundial viva em áreas urbanas. A pesquisa comparou a pegada de carbono de 13 mil cidades com base em dados nacionais sobre as emissões de carbono, perfis de consumidores urbanos versus rurais, população e renda das cidades. Esse tipo de análise pode ajudar no desenvolvimento de estratégias específicas e localizadas para obter resultados expressivos nacionalmente.

Um mapa dos principais resultados do estudo lança algumas luzes, mas o cálculo da pegada de carbono das cidades é mais do que apenas a eletricidade consumida. Também é surpreendente notar que a África e a América do Sul possuem pegadas de carbono quase insignificantes quando comparadas com América do Norte, Europa e Ásia Oriental, como o mapa abaixo mostra claramente.

O estudo, liderado por Daniel Moran, economista ambiental da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, considera tanto as emissões que ocorrem dentro dos limites da cidade (de centrais elétricas, veículos e edifícios) quanto aquelas contidas nos produtos consumidos pela população, mas produzidos fora dos limites da cidade. Por exemplo, os moradores de áreas urbanas em geral comem mais carne e laticínios (que têm uma pegada de carbono mais alta) do que nas áreas suburbanas e rurais, mas os habitantes das cidades também têm maior probabilidade de não possuir um veículo, que também é um grande emissor.

Na maioria das cidades, a pegada de carbono dos produtos consumidos pelos residentes é de duas a três vezes maior do que as emissões que ocorrem diretamente dentro da própria cidade. Seul, capital da Coréia do Sul, tem uma pegada alta porque é uma cidade muito grande e também devido à demanda por serviços e alimentos importados, carnes e outros produtos de alta pegada. A cidade também registra altos níveis de emissões diretas do setor de transportes e de aquecimento e resfriamento de edifícios.

Ranking de cidades

Quando você pensa na cidade com os mais altos níveis de emissões de carbono no mundo, talvez pense em Pequim ou Nova Deli. De acordo com esta pesquisa, em números absolutos Seul é a cidade com a maior pegada de carbono do mundo, seguida por Guangzhou, na China, e Nova York, nos Estados Unidos.

Ainda em números absolutos, São Paulo se encontra na 63ª posição do ranking de cidades com maior pegada de carbono. As outras cidades brasileiras que aparecem entre as 500 primeiras da lista são Rio de Janeiro (144), Curitiba (246), Belo Horizonte (252), Porto Alegre (295), Goiânia (315), Campinas (351), Recife (393), Fortaleza (445) e Brasília (495). Se levado em conta a pegada de carbono per capita, nenhuma cidade brasileira aparece entre as 500 primeiras no ranking.

O estudo também confirma a descoberta de que as pegadas de carbono são altamente interligadas com a renda per capita da população. Pessoas que estão entre as 10% mais ricas do mundo, que ganham mais de US$ 14 mil por ano, geram cerca de um terço das emissões globais. Isso significa que uma ação conjunta em algumas cidades grandes e ricas poderia ajudar muito a reduzir as emissões globais.

Ação local pode ter impacto enorme

As pegadas de carbono estão bastante concentradas nas grandes cidades, o que significa que os governos locais nessas regiões podem ter um papel significativo na redução de emissões nacionalmente. Em mais da metade dos 187 países avaliados, as três principais áreas urbanas de cada um foram responsáveis por mais de 25% das emissões. Embora os governos nacionais demorem a assumir compromissos para reduzir as emissões de carbono, as cidades e os estados podem ter um impacto enorme se derem um passo adiante e agirem.

Grande parte das pegadas de carbono é definida pela sociedade em que vivemos e pelas decisões tomadas por autoridades municipais: as opções de transporte que os planejadores urbanos criam, os padrões de eficiência energética que os estados e municípios definem, os requisitos de energia renovável que os estados estabelecem, entre outras decisões institucionais semelhantes. Em média, 20% da pegada de carbono é proveniente de compras governamentais. As cidades podem tomar medidas fortes, como a necessidade de energia verde, a adoção de requisitos de eficiência energética em edificações, a proibição de copos e sacolas não recicláveis e a adoção de práticas ecológicas de compra.

O que define uma cidade?

Obter adequadas estimativas para pegadas de carbono de 13 mil cidades não foi fácil. Os autores enfrentaram vários desafios e o estudo tem algumas limitações. Os dados de emissões são de 2013 – o ano mais recente com dados disponíveis. Definir limites da cidade pode parecer simples, mas também pode ser uma tarefa difícil. Neste estudo, os autores definiram uma cidade da maneira como um satélite a vê: um aglomerado contínuo em uma grade de células populadas. Mas esses limites e a falta de nomes apropriados de lugares significam que os resultados não correspondem aos limites jurisdicionais. Tratar isso ajudará nas tomadas de decisões dos governos municipais, estaduais e municipais.

Os novos dados estão abertos e disponíveis no Resource Watch. Você pode descobrir a pegada de carbono da sua área clicando no mapa abaixo.