Em 2014, o futuro das florestas parecia promissor. Governos, empresas, organizações não governamentais e grupos indígenas se comprometeram com dez metas ambiciosas na Declaração de Nova York sobre Florestas. Esta importante declaração internacional visa proteger as florestas, impulsionada pelo entendimento de que deter o desmatamento é indispensável para mitigar as mudanças climáticas e manter outros benefícios das florestas. Essas metas incluem reduzir o desmatamento pela metade até 2020 e zerá-lo até 2030, enquanto se restaura uma área de terra degradada maior do que a Índia.

A avaliação deste ano sobre o progresso da Declaração de Nova York sobre Florestas (DNYF, ou NYDF na sigla em inglês) conclui firmemente que o desmatamento não está diminuindo o suficiente para atingir essa meta. Na verdade, por alguns parâmetros, estamos mais longe de parar o desmatamento agora do que há seis anos. Além disso, dados limitados tornam difícil avaliar por completo os avanços na restauração florestal. Embora essa realidade apresente uma batalha árdua, ações em franca aceleração para acabar com o desmatamento e restaurar florestas oferecem esperança de que as metas para 2030 ainda possam ser alcançadas.

Na direção errada para cessar o desmatamento

Dois conjuntos de dados independentes mostram que o mundo não está no caminho certo para conter o desmatamento. Os dados do Global Forest Watch – criados usando uma metodologia de sensoriamento remoto padronizada globalmente – indicam que a perda anual de floresta primária tropical na verdade aumentou 41% desde que a DNYF foi assinada, e o desmatamento global anual aumentou entre 55% e 64%. A Avaliação Global dos Recursos Florestais das Nações Unidas de 2020 também indica progresso insuficiente em direção às metas da DNYF. Esta reunião de estatísticas relatadas por países sobre mudanças na cobertura florestal mostra uma ligeira queda no desmatamento desde 2000, mas distante da quantidade necessária para atingir as metas de 2020 ou 2030.

Apesar das diferenças entre os dois conjuntos de dados, eles compartilham uma mensagem importante: o mundo falhou em reduzir o desmatamento pela metade até 2020 e, como resultado, não está em uma boa trajetória para detê-lo até 2030.

<p>foto aérea de área queimada</p>

As queimadas usadas para limpar a terra para pastagem na região do Gran Chaco do Paraguai podem ser vistas de avião (Foto: Jordi Ruiz Cirera/WRI)

A cada ano, o mundo perde cerca de 10 milhões de hectares de área florestal – o equivalente a 27 campos de futebol por minuto. Cada ano em que o desmatamento não é reduzido o mais rápido possível implica na necessidade de reduções ainda maiores nos anos seguintes para atingir nossa meta. Enquanto isso, o desmatamento continua a causar emissões, perda de benefícios das florestas e a redução de direitos dos povos indígenas. Se os últimos 19 anos indicarem um padrão, a redução necessária na perda de florestas parece improvável na próxima década. Apesar disso, o mundo não pode deixar de tentar alcançar esse objetivo.

Por que o progresso é tão lento?

A questão surge em grande parte da disparidade entre os compromissos assumidos e as ações tomadas para cumpri-los. As metas 2 a 4 da DNYF rastreiam fatores específicos que contribuem para o desmatamento global, enquanto a meta 5 estabelece os objetivos de restauração. Em todas essas categorias, as ações ficaram aquém do necessário.

Meta 2: Acabar com o desmatamento por commodities agrícolas

A abertura de novas terras agrícolas é a maior causa do desmatamento. No entanto, a eliminação do desmatamento das cadeias de abastecimento está acontecendo de forma desigual. Mesmo onde há compromissos firmados, a implementação e as consequências são difíceis de rastrear em cadeias de abastecimento complexas. No ano passado, quase um terço das 350 grandes empresas com cadeias de suprimentos sob risco de causar desmatamento não relataram nada sobre atividades para impedir o desmatamento. Alguns setores estão progredindo mais rápido do que outros – 81% das exportações de óleo de palma da Indonésia em 2018 vieram de empresas com promessas de não desmatamento, enquanto apenas 32% das exportações de carne bovina brasileira em 2017 foram produzidas sob compromissos do tipo.

Meta 3: Redução do desmatamento de outros setores

Embora a mineração e a infraestrutura, como estradas e represas, não sejam as principais causas do desmatamento, elas podem impactar fortemente as florestas em escala local. As empresas desses setores geralmente fornecem ainda menos informações do que o setor agrícola sobre o que estão fazendo para evitar o desmatamento. Por exemplo, um relatório recente do Banco Mundial não conseguiu identificar nenhuma operação de mineração que abordasse e mitigasse de forma abrangente riscos ambientais, e as instituições financeiras geralmente não fornecem dados sobre até que ponto seus investimentos em mineração e infraestrutura estão alinhados com seus princípios de sustentabilidade. É esperado que os impactos florestais desses setores se intensifiquem à medida que a demanda por materiais de mineração aumenta e que projetos de infraestrutura levem agricultores, madeireiros e caçadores às fronteiras florestais.

Meta 4: Alternativas de apoio para necessidades básicas

Há um aumento nos esforços para encontrar maneiras de atender às necessidades básicas das comunidades, como lenha e alimentos, sem mais desmatamento. No entanto, esses esforços não estão acontecendo na escala necessária e geralmente não estão abordando as causas profundas da pobreza, limitando sua eficácia. Por exemplo, os programas que buscam tirar a pressão das florestas melhorando a produtividade agrícola das fazendas dos pequenos proprietários muitas vezes não conseguem investir em condições básicas para garantir a subsistência do agricultor, como posse da terra, serviços públicos e acesso ao mercado, juntamente com melhorias na governança para garantir que as medidas de proteção às florestas sejam respeitadas. Mas alguns governos, como o de Malaui, começaram a fazer esse trabalho árduo e a ajudar as comunidades a administrar florestas de forma sustentável, enquanto plantam árvores de rápido crescimento para atender à demanda imediata por lenha.

Meta 5: Restaurar florestas

Para a restauração, as deficiências podem estar associadas à falta de investimento em escala e à escassez de dados globalmente consistentes. Restaurar 350 milhões de hectares exigirá bilhões de dólares. Os financiadores comprometeram US$ 4 bilhões por meio da Iniciativa AFR100 na África e da Iniciativa 20x20 na América Latina. Mesmo isso não é suficiente para atingir a meta da DNYF, embora existam dezenas de projetos de sucesso em cada região. A Grande Muralha Verde no Sahel da África, por exemplo, enfrenta uma lacuna de financiamento anual de US$ 4,3 bilhões até 2030. Também não há uma maneira independente de rastrear sistematicamente onde ou quanto desse financiamento chegou aos projetos, embora relatórios indiquem que governos, investidores privados e empreendedores estão começando a incentivar, financiar e expandir seu trabalho.

Isso ressalta a importância de desenvolver um método global que monitore de forma consistente onde essas árvores estão crescendo, e que complemente os dados existentes de perda de cobertura florestal. Essa abordagem precisará funcionar dentro da floresta e fora dela, em fazendas e pastagens, onde a restauração traz mais benefícios para as pessoas. Os pilotos regionais deste método na América Central e no Sudeste Asiático, conduzidos como parte das Avaliações de Progresso da DNYF de 2019 e 2020, são promissores. Mas compreender os ganhos e perdas da cobertura de árvores juntos – e avaliar a saúde geral das florestas – exigirá dados e técnicas aprimoradas.

Transformando compromissos em ação real

<p>homem mexe em plantas de cacau</p>

Na Guatemala, a investidora de impacto 12Tree está cultivando cacau sustentável, protegendo as florestas naturais (Foto: 12Tree)

Embora o último relatório da Declaração de Nova York sobre Florestas seja preciso em sua mensagem, novas iniciativas que podem mudar os ventos estão ganhando impulso. O crescimento dos compromissos de desmatamento zero mostra que a motivação para conter o desmatamento ainda existe entre governos, empresas, instituições financeiras e sociedade civil. E programas de restauração inovadores como os mais de 50 projetos do setor privado alinhados com a Iniciativa 20x20 e a crescente rede Land Accelerator, cujos empreendedores estão ajudando 120 mil agricultores a produzir de forma mais sustentável, estão aumentando o financiamento para proteção e restauração florestal.

Avançar exigirá esforço coordenado, melhorando a transparência, aplicando salvaguardas ambientais, reduzindo o consumo de produtos de alto desmatamento e aumentando a ambição e o financiamento de empresas e governos. Investimentos crescentes e compromissos para proteger e restaurar florestas devem ser combinados com ações compatíveis. Deixar de fazer isso selará o destino das florestas por muitos anos.


Este blog foi publicado originalmente no WRI Insights.