Este blog foi publicado originalmente no site do WRI Índia.


Quando foi a última vez em que você caminhou por um mercado sem estar consciente se pessoas estão caminhando por perto ou a última vez em que você deu um passeio no parque do bairro sem pensar nas condições de higiene ao seu redor?

A pandemia de Covid-19 deixou o mundo em um estado de paralisação. Embora em muitos lugares as pessoas já tenham passado um longo tempo trancadas em casa, ainda estamos nos acostumando a esse novo normal, trabalhando para mudar a maneira como nos relacionamos com as pessoas e com os espaços públicos ao ar livre.

No início da pandemia na Índia, ruas e espaços públicos foram declarados “zonas de risco”, uma vez que essas áreas eram pontos de encontro e pequenos centros econômicos. Com o tempo, as pessoas passaram a fazer uso desses espaços para atendimentos de emergência na cidade. As ruas ajudaram a organizar a circulação de veículos de emergência e outros serviços essenciais, e as maidans (áreas abertas da cidade) e outros espaços abertos dos bairros serviram como centros de operações como distribuição de alimentos, centros médicos, mercados temporários e outras atividades.

<p>ilustração mostra aplicação de urbanismo tático em vias arteriais e ruas centrais</p>

Vias arteriais e outras ruas centrais funcionaram como canais de circulação para os veículos de emergência durante os períodos de bloqueio (ilustração: Rajeev Malagi/WRI)

À medida que avançamos em um acordo sobre como deverá ser o novo normal, é fundamental pensar como as ruas e espaços abertos, convertidos em pontos de atendimento de emergência, podem permanecer flexíveis, oferecendo um distanciamento seguro aos usuários. O urbanismo tático é um dos possíveis jugaad (processo inovador) para conseguir essa mudança de maneira sistemática e econômica. Também chamado de “urbanismo de guerrilha” ou “urbanismo pop-up”, o conceito inclui mudanças temporárias e de baixo custo para mudar o ambiente o construído, fortalecendo laços de vizinhança e promovendo novos espaços públicos. Essas mudanças temporárias podem ser aprimoradas a partir da avaliação dos usuários e até mesmo se tornar permanentes depois.

Aqui estão alguns pontos-chave que fazem do urbanismo tático um bom ponto de partida para a aplicação de medidas de distanciamento seguro:

1. Solução rápida com custo-benefício positivo

Pelo mundo todo, a pandemia levou à implementação de medidas urgentes nas cidades. Por meio do urbanismo tático, soluções rápidas e de bom custo-benefício podem ser aplicadas para resolver questões práticas, como manter o distanciamento social em espaços públicos, regular o tráfego de veículos em interseções e disponibilizar espaços para atividades comunitárias. Como conceito, o urbanismo tático incentiva a participação da comunidade na implementação das medidas e oferece oportunidades de reaproveitar infraestruturas já existentes para criar uma nova identidade local, a partir da avaliação dos usuários. Esse processo resulta em intervenções de baixo custo e reduz o risco de os projetos não serem eficazes, especialmente quando precisam ser implementados em curto prazo.

2. Do temporário ao permanente

A pandemia em curso pressiona as autoridades por recursos imediatos. O urbanismo tático funciona como uma ponte entre a conceituação e a implementação de projetos. Ao testar as soluções diretamente nos locais onde precisam ser implementadas, a abordagem não apenas ajuda as cidades a validar os investimentos para implementação permanente, mas também conscientiza sobre os resultados.

Aplicando o urbanismo tático, cidades como Nova York, Miami e Adis Abeba passaram por transformações no espaço urbano que já se tornaram ou estão em vias de se tornar permanentes.

<p>ilustração mostra espaço público ampliado</p>

Uma demonstração de espaço público ampliado em Biscayne Green, um parque “pop-up” no centro de Miami (ilustração: Rajeev Malagi/WRI)

3. De pequena escala, mas possíveis de ampliar

Os projetos de urbanismo tático são de natureza adaptável e podem ajudar a criar soluções imediatas que atendam necessidades de diferentes contextos em condições de emergência. Uma vez identificadas essas necessidades, a abordagem pode ser aplicada para soluções temporárias, como instalações de atendimento médico emergenciais, centros de distribuição de alimentos, mercados temporários etc. Esse processo pode ser replicado em qualquer outra área da cidade.

<p>ilustração mostra marcações no chão para distanciamento</p>

Planejamento para o distanciamento seguro usando apenas sinalização e marcações no chão (Ilustração: Shabna Seemanu/WRI)

4. Colaboração entre a prefeitura e a comunidade

O urbanismo tático oferece uma oportunidade única para que órgãos públicos e a comunidade entrem em consenso e cheguem a soluções efetivas, baseadas nas necessidades locais. O processo obrigatoriamente precisa incluir consulta aos atores envolvidos, e a comunidade deve designar representantes locais para identificar as necessidades e levá-las ao governo, o que ajuda a construir microecossistemas nas cidades. A recente iniciativa dos socorristas de Bengaluru, que atenderam necessidades básicas de pessoas idosas durante o bloqueio, é um exemplo interessante.

<p>Mapa de Bengaluru com as áreas atendidas pelos socorristas</p>

Mapa de Bengaluru com as áreas atendidas pelos socorristas (Código e mapa: Chintan Sheth and Pavan Kumar Kaushik)

5. Identificando as prioridades para entrar em consenso

A interrupção temporária dos sistemas de transporte coletivo e o uso limitado dos veículos privados durante os períodos de bloqueio fez com que os governos incentivassem as pessoas a usar mais a caminhada e a bicicleta como meios de locomoção. Cidades como Bogotá e Paris criaram ciclofaixas temporárias para facilitar o distanciamento seguro. O aumento do uso dessa infraestrutura e a mudança dos padrões comportamentais dos moradores levaram algumas cidades a tornar as ciclofaixas permanentes. Isso mostra a força do urbanismo tático como forma de orientar a tomada de decisões a partir de uma abordagem que envolve as pessoas e, com isso, promover mudanças urbanas tangíveis. A flexibilidade de testar a mudança antes de sua implementação permanente permite que os moradores expressem sua aceitação, ajudando os órgãos públicos a identificar as necessidades e prioridades da cidade.

<p>ilustração mostra ciclovias temporárias mais largaso</p>

Em diversas cidades da América e da Europa, ciclofaixas já existentes foram ampliadas e outras novas foram criadas para permitir o distanciamento seguro entre os ciclistas (Ilustração: Rajeev Malagi/WRI)

6. Ferramenta de conscientização

Abordar desafios urbanos através do urbanismo tático ajuda a promover a conscientização das pessoas em dois níveis. Primeiro, o planejamento por meio de mudanças temporárias em pequena escala ajuda a demonstrar visualmente a extensão do distanciamento físico necessário nos espaços públicos. Segundo, esse tipo de reorganização do espaço faz com que as pessoas se conscientizem e observem as normas impostas, tanto a partir da sua própria experiência como usuário quanto nas conversas a respeito.

<p>ilustração mostra distanciamento usando tamanho de guarda-chuvas</p>

Iniciativas como o projeto “Break the Chain Umbrella” criam formas inovadoras de transmitir conhecimento sobre o distanciamento social a partir do uso de ferramentas simples (Ilustração: Rajeev Malagi/WRI Índia)

Esses esforços sistemáticos, criativos e de pequena escala são úteis não apenas para situações emergenciais, mas também para embasar os órgãos públicos a respeito da futura adoção das soluções aplicadas. Além disso, testar essas soluções por meio de mudanças de baixo custo ajuda a obter resultados positivos sem gerar custos significativos. É essencial reconhecer o potencial do urbanismo tático e desenvolver “modelos híbridos” tanto para promover melhorias nas cidades durante a atual crise quanto para implementar soluções de longo prazo, além de redistribuir a alocação de recursos que podem facilitar e ampliar soluções bem-sucedidas.