Há atualmente no mundo um cenário de pressão pela terra resultante da combinação das demandas de uma população crescente e de necessidades urgentes de restauração e conservação de ecossistemas por um planeta ambientalmente equilibrado. Projeções indicam que no cenário atual de crescimento populacional e de consumo, o mundo precisaria de mais 600 milhões de hectares de terras para produção agropecuária e mais 80 milhões de hectares para expansão urbana. Por outro lado, acordos e compromissos internacionais apontam a necessidade de proteger 30% dos ecossistemas do mundo, zerar o desmatamento e restaurar mais de 600 milhões de hectares de ecossistemas naturais.

Para enfrentar esse desafio, é crucial monitorar o desmatamento e a mudança de uso da terra associada à produção de commodities, além de desenvolver um mercado de carbono para impulsionar a agenda da restauração de paisagens e florestas e da conservação. Esses são alguns dos objetivos do projeto Land & Carbon Lab, que busca utilizar o monitoramento da terra para gerar dados de qualidade que vão subsidiar políticas públicas, acordos privados e ações coletivas para gerar impactos e enfrentar os desafios da pressão global pela terra e das mudanças climáticas.

Globalmente, o projeto é liderado pelo World Resources Institute e Bezos Earth Fund, e tem como objetivo medir, monitorar e gerar informações para construir e aplicar soluções de monitoramento do uso da terra.

No Brasil, o Land & Carbon Lab é liderado pelo WRI Brasil e atua na esfera nacional, a partir de propostas para estabelecer uma plataforma para promover uma lei nacional de transparência e rastreabilidade. Além disso, tem atuação em três biomas prioritários: a Mata Atlântica (na região do Espírito Santo), a Amazônia (no Pará) e a Caatinga, com atividades que caminham em paralelo e estão em diferentes estágios de desenvolvimento.

Na Mata Atlântica, o projeto apoia uma iniciativa do Reflorestar, um programa de Pagamento por Serviço Ambiental (PSA) do Espírito Santo. O objetivo é alavancar o programa de restauração do estado utilizando o mercado de carbono florestal como impulso. A proposta é parte do Plano Estadual de Descarbonização e Neutralização de Gases de Efeito Estufa, que tem por meta alcançar a plena neutralidade das emissões do estado até 2050.

Na Amazônia, o Land & Carbon Lab apoia a elaboração do referencial local – o Plano Estadual de Recuperação da Vegetação Nativa do Pará. Por meio de estudos e diagnósticos da região e de decisões conjuntas em Grupos de Trabalho estabelecidos pelo estado, o projeto apoiará no processo de priorização das áreas a serem recuperadas, na construção de sistemas de monitoramento e em diversas atividades correlatas.

Na Caatinga, o projeto se concentra inicialmente em desenvolvimento de estudos científicos e em atividades de articulação entre os diferentes atores no bioma. Em parceria com o MapBiomas Caatinga, essa frente de trabalho apoia a formulação de um grande panorama do bioma, um documento que sirva de referência para criação de políticas públicas. Com relação às atividades de articulação com atores no território, um dos principais focos é apoiar a estruturação da Rede para Restauração da Caatinga, modelo de trabalho em rede similar ao que já acontece em outros biomas com vistas a incentivar e catalisar a restauração de paisagens e florestas na região.

O projeto atua com diversos parceiros da esfera pública e da sociedade civil, conectando diretamente formuladores de políticas públicas com os maiores especialistas em monitoramento e restauração florestal, de modo a facilitar sua interação e intervir diretamente em decisões que podem contribuir diretamente para ações locais de redução de desmatamento. Usar monitoramento como ferramenta de transformação, unindo aqueles que estão na fronteira da geração de dados e de conhecimento com aqueles que estão nas trincheiras da tomada de decisão, é o grande ativo desse projeto.