A Rua Joel Carlos Borges, no Brooklin, passou, ao longo da semana, por uma requalificação para oferecer melhores condições de segurança e acessibilidade às milhares de pessoas que circulam por ali todos os dias. A Rua Joel é utilizada por muitos pedestres, pois dá acesso à estação Berrini, na zona sul da cidade: no horário de pico da manhã, entre 7h e 8h, transitam cerca de 1800 pessoas a pé e apenas 67 veículos. As alterações no desenho da rua fizeram com que ela se tornasse mais adequada à circulação dos pedestres. Distribuir o espaço de maneira mais democrática, beneficiando a todos os usuários da via, é a base das chamadas Ruas Completas.

Essa é a primeira rua completa a sair do papel entre as 11 cidades da Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono, projeto fruto da parceria entre WRI Brasil e Frente Nacional de Prefeitos (FNP), com apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS). As calçadas, antes estreitas e em más condições, agora ganharam mais 3,5 metros de largura (1,5 metro de um lado e 2 metros do outro), proporcionando maior conforto e segurança para quem caminha. O redesenho da rua amplia o espaço disponível para os pedestres e sinaliza melhor o local, com balizadores, placas e outros, além de incluir mobiliário urbano e vasos de plantas. Esse conjunto de medidas indica aos motoristas que a rua apresenta um trânsito intenso de pessoas que circulam a pé e que eles devem transitar em uma velocidade mais baixa.

A Joel Carlos Borges terá trânsito de carros em apenas um sentido e ganhou pequenos desvios, chamados de chicanas, uma solução técnica para ajudar a garantir que o novo limite de velocidade de 20 km/h seja respeitado. Análises realizadas pelo Departamento de Transportes do Reino Unido sobre o uso de chicanas como solução de moderação de tráfego indicam uma redução de acidentes com feridos de 54% e a diminuição na gravidade dos acidentes.

As esquinas com a Avenida das Nações Unidas e a Rua Sansão Alves dos Santos também foram ampliadas com mais espaço de calçadas. Essa medida reduz a distância da travessia para os pedestres e faz com que eles sejam mais facilmente reconhecidos pelos motoristas, impondo aos motoristas uma diminuição da velocidade no momento da conversão e oferecendo proteção às pessoas. Evidências de cidades latino-americanas mostram que a probabilidade de ocorrer um atropelamento aumenta em 6% para cada metro a mais de distância em uma travessia de pedestres.

“A Rua Joel Borges segue o conceito de Ruas Completas em que a prioridade é dos pedestres. Além disso, o espaço precisa ser confortável, seguro e interessante para as pessoas que caminham. A vocação dessa rua é proporcionar a melhor experiência para a enorme quantidade de pessoas que circula a pé”, explica Paula Santos, coordenadora de Mobilidade Ativa do WRI Brasil. Ao longo deste ano, o WRI Brasil fornecerá suporte técnico para 10 cidades desenvolverem projetos de ruas completas que priorizem tanto o transporte ativo como o coletivo. Essa requalificação foi feita em pouco tempo e com custo relativamente baixo, com base em materiais como tinta, sinalização vertical e mobiliário urbano, uma forma de permitir que as pessoas possam vivenciar a nova estrutura antes que sejam feitos investimentos maiores.

A requalificação da Rua Joel Carlos Borges só foi possível graças a uma parceria entre Prefeitura de São Paulo, por meio da Prefeitura Regional de Pinheiros, Secretaria de Mobilidade e Transporte e CET, WRI Brasil, FNP, Urb-i e Bloomberg Initiative for Global Road Safety, tendo como parceiro para a pintura a empresa Indutil Ltda.

“Essa é uma rua mais utilizada por pedestres, então adaptamos para esse uso que é feito dela, harmonizando o uso. O carro não foi abolido, não gerará nenhum engarrafamento, nem transtorno para quem dirige, mas vai melhorar muito a vida para quem é pedestre”, comenta Sergio Avelleda, secretário de mobilidade e transportes de São Paulo. “Estamos testando, é um conceito (ruas completas) que evidentemente pode ser replicado, pois há outras ruas nessa condição em São Paulo, e compete à prefeitura olhar para a rua não como um espaço exclusivo de carros, mas como um espaço público que precisa ser melhor utilizado pelas pessoas e pelos carros. É buscar essa harmonização. Nossa política é de harmonia. O carro não é um inimigo a ser vencido, mas existem outros atores na mobilidade que precisam ser contemplados”, afirma.

A ideia de requalificação começou em 2014, com o lançamento do Concurso 3 Estações, organizado pelo WRI Brasil em parceria com o USP Cidades, que convidou arquitetos e urbanistas a desenvolverem ideias para qualificar o entorno de três estações do metrô de São Paulo: Berrini, Vila Olímpia e Santo Amaro. A proposta vencedora para o entorno da Berrini foi desenvolvida pela Urb-i e implementada agora como parte das atividades da Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono.