As cidades estão vivendo um crescimento exponencial. Mais de metade da população do mundo já vivem em áreas urbanas, e seremos 70% até 2050. No entanto, para garantir que as cidades usufruam os benefícios desse boom populacional, elas precisam crescer para cima e não para lados.

O New Climate Economy prova que o crescimento compacto, em oposição ao espraiamento urbano, pode gerar uma economia de US$ 17 trilhões até 2050. A ação climática de forma geral, incluindo medidas para o crescimento de baixo carbono nas cidades, pode render US$ 26 trilhões em benefícios econômicos entre hoje e 2030.

Por que crescimento compacto?

Cidades mais compactas registram menos emissões de carbono. O novo relatório do New Clima Economy, Unlocking the Inclusive Growth Strategy of the 21st Century (em português, “Lançando a estratégia de crescimento inclusivo para o século XXI”) mostra a relação entre o número de habitantes por quilômetro quadrado e as emissões de CO2 per capita.

Cidades compactas geram menos emissões porque tendem a oferecer um melhor acesso ao transporte coletivo, melhores condições para usar a bicicleta e caminhar, são mais avançadas em termos de eficiência energética, possuem mais áreas verdes e menos impactos negativos sobre o meio ambiente.

Um número maior de habitantes e taxas mais altas de densidade também criam vantagens econômicas.

Em primeiro lugar, é mais caro construir e operar serviços em áreas urbanas mais espraiadas. Uma estimativa sugere que o crescimento urbano compacto poderia reduzir os gastos com infraestrutura em mais de US$ 3 trilhões considerando o período entre 2015 e 2030. Segundo: vivendo em uma cidade espraiada, as pessoas em geral enfrentam deslocamentos mais longos para ir aonde desejam. Como resultado, temos mais congestionamentos e poluição. Nos Estados Unidos, estima-se que o espraiamento das cidades represente cerca de 7% do PIB nacional. Por fim, a proximidade encoraja a interação. Em cidades compactas, as pessoas se comunicam mais umas com as outras – um contato essencial para a inovação. Análises na Alemanha, México, Espanha e Reino Unido indicam que duplicar a população de uma cidade está associado com uma melhora de aproximadamente 2% a 5% na produtividade dos moradores.

Quais são as barreiras para o crescimento compacto?

Milhões de habitantes de áreas urbanas vivem em suas casas ou apartamentos, com seu próprio quintal e um carro na garagem. Outros tantos milhões aspiram a esse estilo de vida. Esse padrão cultural é reforçado por fatores econômicos, como o preço mais barato de terrenos nas áreas periféricas e políticas fiscais que favorecem as habitações unifamiliares.

Mas, uma vez que habitações e infraestrutura já foram construídas, é muito difícil mudar o desenho de uma cidade. Por isso as decisões de planejamento urbano feitas hoje são determinantes – elas podem manter as cidades presas a um padrão de crescimento ineficiente e prejudicial ao ambiente ou dar início a um novo modelo de baixo carbono.

Talvez o maior desafio de romper com o padrão atual seja mobilizar os grandes investimentos necessários para construir ou modificar redes de transporte. Por exemplo: se a cidade já tem grandes rodovias e viadutos, é mais barato simplesmente expandi-los do que substitui-los por uma rede de trens, metrô ou corredores dedicados ao ônibus.

Cidades na América do Norte e na Austrália são mais dependentes dos veículos privados. Consequentemente, as pessoas nessas cidades têm uma pegada de carbono mais alta.

 

<p>Gráfico mostra a divisão modal nas cinco maiores cidades de cada região. As linhas verdes indicam o transporte não motorizado, as amarelas o transporte coletivo e a vermelha os veículos privados (Fonte: New Climate Economy)</p>
Gráfico mostra a divisão modal nas cinco maiores cidades de cada região. As linhas verdes indicam o transporte não motorizado, as amarelas o transporte coletivo e a vermelha os veículos privados (Fonte: New Climate Economy)

Em grandes cidades na América Latina e na Europa, uma parte considerável da população se locomove de transporte coletivo. A América Latina sempre foi uma pioneira nesse assunto, desde o primeiro sistema BRT do mundo, lançado em Curitiba, até o teleférico de Medellín. As cidades europeias, por sua vez, têm o benefício de uma área urbana densa que vem desde antes da invenção dos carros.

Na África e na Ásia, muitas cidades também têm uma parcela significativa da população se deslocando de bicicleta ou caminhando. Isso acontece frequentemente em função da baixa-renda das famílias: muitas pessoas não têm como arcar sequer com o valor de uma passagem de ônibus, menos ainda de um carro.

Como as cidades podem promover o crescimento compacto?

Para se tornarem mais compactas, cidades já estabelecidas, como Sidney e São Francisco, precisam encontrar maneiras de tirar as pessoas dos carros e incentivá-las a usar outros modos de transporte, como ônibus, bicicleta e caminhada. Essa mudança implica a adaptação ou a substituição de grande parte da infraestrutura já existente nessas cidades. Veículos elétricos também podem contribuir, amenizando as emissões, mas não trarão os benefícios mais amplos associados a uma maior densidade.

Já cidades em rápido crescimento, como Daca e Dar es Salaam (localizadas na Ásia e na África, respectivamente), terão de direcionar os investimentos em infraestrutura para um crescimento mais compacto e inclusivo. Construir calçadas e áreas adequadas para a circulação de pedestres e ciclovias para os ciclistas pode reduzir o risco de acidentes de trânsito de forma significativa e, ao mesmo tempo, estabelecer as bases necessárias para uma cidade compacta e conectada.

Investimentos em transporte são mais efetivos quando acompanhados por políticas nacionais que os complementem. Os governos municipais precisam revisar seus planos, criar normas e incentivos fiscais que desencorajem o espraiamento das cidades. E precisam fazer isso sem causar o afastamento ou a desapropriação dos moradores de renda mais baixa, à medida que determinadas áreas da cidade se tornem mais atrativas.

A próxima década é uma “oportunidade única na história econômica, o momento de pegar ou largar”, de acordo com o relatório do New Climate Economy. Estima-se que mais de US$ 90 trilhões sejam investidos em infraestrutura até 2030, e a maior parte desses investimentos deve ocorrer nas cidades. Não será suficiente apenas instalar alguns painéis solares, adaptar algumas construções ou reciclar mais papel. As cidades precisam de mudanças estruturais radicais para alcançar o crescimento de baixo carbono – e precisam dessas mudanças o quanto antes.


Este texto foi escrito por Catlyne Haddaoui e publicado originalmente no WRI Insights e no TheCityFix.