Parte da alma do Programa de Florestas do WRI Brasil, Mariana Oliveira ajudou a elaborar a estratégia da área cinco anos atrás. Hoje, a Analista de Pesquisas tem como atribuição olhar para as pessoas que compõem o cenário da restauração florestal para a elaboração de estratégias que fortaleçam a atividade.

Formada em Geografia pela Universidade Estadual Paulista e especialista em Gerenciamento Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), Mariana fala sobre sua trajetória profissional, sua atuação na organização e sua proximidade com o tema da diversidade e igualdade de gêneros nessa edição do Conheça a Especialista.

Qual é a sua trajetória no WRI Brasil?

Estou no WRI Brasil há quase cinco anos. Sou geógrafa de formação, entrei como estagiária, trabalhei junto com a Rachel Biderman na época em que a organização estava abrindo um escritório aqui no Brasil, em São Paulo. Tive a oportunidade de interagir com os temas de Florestas e acabei ficando responsável por ajudar a construir a estratégia de paisagens sustentáveis naquele momento, que mais adiante acabou se transformando na estratégia de Florestas. Enfim, fui construindo minha trajetória aqui e hoje faço pesquisas na área de Florestas. Antes de chegar aqui, fiz estágio na Alcoa, mas o WRI é de fato a minha primeira experiência profissional.

De que forma você atua no Programa de Florestas do WRI Brasil?

Hoje, o meu foco aqui no WRI no Programa de Florestas é trabalhar com pessoas. É um processo de articulação, entender quem são as pessoas daquele território, daquela paisagem, quem é responsável pela tomada de decisão. Quem são as pessoas que fazem restauração naquela determinada região, qual o lugar delas na cadeia de restauração – se ela é um produtor(a) de muda, se ela é um produtor(a) rural, se ela é uma organização não-governamental que está auxiliando no planejamento, se é um comitê de bacias. É entender todas essas pessoas, todos esses elos e tentar construir um movimento para a restauração, seja em um processo mais formal, seja informalmente. Enfim, apoiar a construção de estratégias de restauração florestal.

Tenho trabalhado muito no estado de Minas Gerais, Bahia, Pará, Espírito Santo e São Paulo, mas de maneira geral a gente apoia a implementação da Proveg, a Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa. A Proveg prevê não só a implementação do Código Florestal (lei federal 12.651 de 2012), mas também a recuperação de 12 milhões de hectares de florestas até 2030.

Qual é a importância de trabalhar esse lado mais humano no contexto da restauração florestal?

Pensar em Florestas dentro do WRI é pensar muito mais em restauração florestal do que qualquer outra coisa. Acho importante destacar isso. A outra questão é a necessidade de entender as questões biofísicas, se o solo é apropriado, qual a vegetação que tem que ir ali em cima, a dinâmica do solo. Enfim, toda a ecologia por trás da restauração. Mas tem uma questão que é: no fim do dia quem planta florestas são pessoas. Onde precisamos plantar florestas é o lugar de uma pessoa, pertence a alguém. Então precisamos trabalhar esse ambiente de pessoas para a gente conseguir de fato que a restauração aconteça e em larga escala. Porque no fim do dia é isso que a gente quer. Não só que sejam iniciativas esparsas, mas que de fato seja desenvolvida uma economia florestal, um movimento de restauração que, por quaisquer que sejam os motivos, aconteça em grandes proporções.

No WRI Brasil, você está muito envolvida com os componentes de gênero e diversidade. Como você vê a relação entre as questões de gênero e a restauração?

Eu me aproximei do tema de gênero aqui dentro do WRI. Foi internamente uma questão que veio à tona. Contratamos especialistas no assunto e eu acabei me envolvendo com esse tema porque gosto e acho muito importante. Por trabalhar com pessoas, eu acabo reconhecendo essa necessidade em muitos ambientes que frequento. Depois de alguns treinamentos, cursos, leituras, acabei me aproximando desse tema para estudar como tornar os nossos projetos mais inclusivos, considerando especialmente a questão de gênero no caso mulheres, sobre como podemos trazê-las para mais perto. Em determinados momentos, mesmo que inconscientemente, podemos estar excluindo por não dar a oportunidade ou por não dar as condições necessárias para que as mulheres possam falar e opinar.

Dentro dos projetos que venho desenvolvendo, dois deles têm foco especial em mulheres, sobre como garantir que elas participem das iniciativas, criar indicadores para que a gente garanta essa participação. Mas em outros momentos também é uma questão de abordagem. Se eu precisar marcar uma reunião terça-feira, às 14h, preciso considerar se na rotina daquela pessoa esse é o momento ideal. Muitas vezes não é. Essa é a questão, como a gente pode planejar uma abordagem de interação mais inclusiva nesses projetos? Também participo do GT de Diversidade do WRI Brasil e do GT Gênero do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, duas iniciativas que buscam ampliar esse olhar. Seja colocar uma salinha para receber crianças durante um evento até incluir como um indicador para seleção de uma unidade demonstrativa que mulheres têm prioridade.

Conte um pouco sobre um dos projetos que você esteja envolvida.

O trabalho em Minas Gerais, por exemplo. Lá, estamos aplicando a Metodologia de Avaliação de Oportunidades de Restauração, o ROAM, com o apoio do estado, envolvendo as principais instituições dessa agenda que já atuam lá há muito tempo. Em paralelo, também desenvolvemos um projeto com a Fundação Renova para dar um olhar mais próximo sobre uma microbacia que eles estão atuando. Estamos tanto fazendo análises financeiras, econômicas, entendendo quem são as pessoas que lá atuam, mas também olhando para a legislação, tentando identificar quais são as oportunidades e as lacunas para que a restauração aconteça.

Como o WRI Brasil pode ajudar a enfrentar os desafios presentes no processo de restauração florestal?

Acredito que o WRI Brasil tem um papel de articulação, de apoiar iniciativas que estão tentando destravar alguns nós para que a restauração aconteça em larga escala. A geração de conhecimento, a capacidade de mobilização. O WRI Brasil tem o potencial de reunir pessoas de diversos setores e com um conteúdo técnico muito relevante. Olhar para uma instituição que tem pessoas focadas em um único tema e dispostas e empenhadas a interferir nessa realidade, nesses desafios, seja em relação À legislação, seja olhar para a restauração no chão de fato, é de fato um diferencial.

Acredito que há, também, uma visão enquanto instituição de olhar para o Acordo de Paris, para a Convenção sobre Diversidade Biológica e aproximar, traduzir e adaptar essas questões para a realidade brasileira de uma forma que faça sentido do ponto de vista político, no que diz respeito às questões de planejamento territorial, e que de fato possa ter um impacto positivo no meio ambiente. A gente quer aumentar a cobertura florestal por conta dos ganhos ambientais e econômicos. Acho que o WRI Brasil tem essa capacidade de trazer todo mundo para a discussão e manter todo mundo motivado.