O Brasil é atualmente o sétimo maior produtor de cacau no mundo, com uma produção aproximada de 200 mil toneladas por ano. Hoje o país importa cacau, principalmente de países africanos, para suprir a demanda de sua indústria interna. No entanto, essa situação nem sempre foi assim. Na década de 1980, o país chegou a ser o segundo maior produtor mundial, produzindo mais de 430 mil toneladas de amêndoa seca de cacau. O cenário mudou em 1989, com a chegada da doença conhecida como Vassoura de Bruxa, que comprometeu mais de 75% dos pés de cacau no estado da Bahia. No mesmo período, houve uma drástica queda no preço do cacau no mercado mundial. Esses dois fatores culminaram na maior crise da região do Sul da Bahia, refletida até os dias atuais.

Hoje, o Brasil tem aproximadamente 70 mil produtores que cultivam o cacau em quase 700 mil hectares. Pelo menos 80% desses produtores são classificados como pequenos e médios produtores com menos de 10 hectares em média de cacau. A maioria desses produtores não têm recursos financeiros e apoio técnico para aumentar sua produtividade, especialmente aqueles que produzem cacau cultivado na sombra em florestas naturais (cacau-cabruca). As plantações de cacau que usam técnicas agroflorestais testadas e comprovadas resultam em boa produtividade, cobertura do dossel e saúde do solo. Portanto, um dos desafios do Brasil é envolver e ajudar milhares de pequenos produtores a acessar tecnologia e financiamentos públicos e privados para obter esses benefícios e melhorar seus meios de subsistência.

Os produtores e a indústria do cacau querem aumentar a produção e a produtividade do cacau e ajudar o Brasil a se tornar um líder mundial em cacau sustentável. A Associação Nacional da Indústria de Processamento de Cacau (AIPC), que controla mais de 95% do cacau no Brasil, assumiu o compromisso de dobrar a produção de cacau nos próximos 10 anos. Ao mesmo tempo, a Fundação Mundial do Cacau (WCF) lançou a Iniciativa CocoaAction, que cria uma estratégia voluntária da indústria em parceria com o setor público para o futuro do cacau brasileiro com a sustentabilidade no centro das suas ações e estratégia.

Após a mesa de investidores da [Iniciativa 20x20](http://initiative20x20.org/) realizada em São Paulo em 2018, o WRI Brasil ouviu alto e claro dos produtores de cacau brasileiros que eles precisavam de mais informações e melhores exemplos para aumentar a produção e a produtividade. A equipe identificou dois projetos no Peru que poderiam inspirar e ajudar o Brasil a desenvolver e implementar modelos agroflorestais de cacau para pequenos e médios produtores, ambos da Iniciativa 20x20: o projeto Tambopata-Bahuaja REDD+ e Agrofloresta em Madre de Dios e a Aliança do Cacau do Peru.

Em colaboração com a AIPC e a WCF e com apoio do parceiro financeiro Althelia, uma delegação brasileira visitou esses dois modelos em novembro. Durante a primeira parte da viagem, a delegação visitou vários sistemas agroflorestais com cacau e projetos de silvicultura com espécies nativas nas regiões de Pucallpa e Aguaytia. Esses projetos são apenas uma pequena amostra de um programa ambicioso liderado pela Aliança do Cacau do Peru, uma aliança público-privada dos principais atores da indústria do cacau no país, que inclui produtores, representantes da indústria, exportadores, prestadores de serviços e instituições financeiras. A Aliança apoia 20 mil produtores que produzem cacau orgânico e/ou de alta qualidade em sistemas agroflorestais em 58 mil hectares, com o apoio da USAID e do Palladium Group. Um dos objetivos do programa é dobrar a produtividade do cacau de 600 quilos por hectare para 1.200 quilos por hectare. A qualidade da assistência técnica fornecida pelos mais de 70 técnicos da Aliança é fundamental para seu sucesso e sustentabilidade.

A segunda parte do intercâmbio foi organizada pela AIDER, uma ONG local e parceira da Iniciativa 20x20, na Reserva Nacional de Tambopata e no Parque Nacional de Bahuaja-Sonene em Madre de Dios, que abrange 570 mil hectares de florestas naturais. O principal objetivo do projeto é fornecer alternativas econômicas para as comunidades que vivem na zona de amortecimento (área ao redor de uma unidade de conservação que tem como objetivo filtrar possíveis ameaças às espécies protegidas, como poluição ou ocupação econômica) da Reserva para reduzir o desmatamento e degradação nas áreas protegidas. A primeira fase do projeto apoiou 343 famílias numa área de 1.258 hectares de produção agroflorestal com cacau em terras degradadas na zona de amortecimento. O objetivo do projeto é expandir para 4 mil hectares de agroflorestas com cacau e envolver 400 famílias de produtores até 2021.

A delegação brasileira ficou muito impressionada com a concepção dos sistemas de produção agroflorestal com cacau e a qualidade de sua gestão. O WRI Brasil está confiante de que esse modelo de investimento e experiência em projetos de REDD+ pode ser replicado no Brasil. A troca não foi apenas bem-sucedida pelo que o WRI Brasil e seus parceiros haviam aprendido, mas pelo que a delegação pode replicar em casa. Também inspirou a delegação brasileira a pensar em como poderia aconselhar os produtores peruanos. A Iniciativa 20x20 e seus parceiros estão ansiosos para incentivar intercâmbios similares de conhecimento no futuro.