A mudança de paradigma na mobilidade começará quando o transporte coletivo se tornar competitivo e atrativo em relação a outros modos de transporte. A falta de priorização e de infraestrutura de qualidade contribui para que os ônibus venham perdendo passageiros a cada ano – 18% somente entre 2014 e 2016. Diante dos prejuízos gerados pelo uso excessivo do carro, esta é a busca das mais diversas cidades brasileiras: oferecer um transporte coletivo de qualidade, que possa fidelizar e atrair usuários, reduzir emissões e orientar o desenvolvimento sustentável.

As pessoas são um dos pilares para garantir sistemas de qualidade. Tanto ao projetar um sistema novo quanto na implementação de melhorias, são os clientes os mais impactados. É preciso entender os hábitos e necessidades de quem usa e depende do transporte coletivo para torná-lo eficiente e atrativo. Foi trabalhando com a qualidade do transporte coletivo a partir da experiência dos clientes que o WRI Brasil desenvolveu, em 2013, a Pesquisa de Satisfação QualiÔnibus. A ferramenta permite às cidades avaliar a percepção dos usuários desde a qualidade das estações até a satisfação com a frequência e conforto dos veículos. O trabalho evoluiu e, hoje, os Indicadores de Qualidade QualiÔnibus contemplam, além da satisfação dos usuários, indicadores de desempenho, planejamento e gestão do serviço.

As informações obtidas através da aplicação dos Indicadores e da Pesquisa podem gerar uma troca de experiências produtiva para a qualificação dos sistemas de transporte coletivo nas cidades brasileiras: uma cidade referência em determinado indicador poderia compartilhar boas práticas com outras não tão bem avaliadas no mesmo quesito. Assim nasceu o Grupo de Benchmarking QualiÔnibus, criado com o objetivo de melhorar a qualidade do transporte coletivo nas cidades brasileiras a partir do foco nos clientes. “As pessoas não são obrigadas a usar o transporte, elas são clientes. São pessoas com necessidades, com desejos, e que precisam, de alguma forma, ter esses desejos satisfeitos. É fundamental que se leve a percepção das pessoas em conta no momento de planejar”, afirma Brenda Medeiros, diretora de Mobilidade Urbana do WRI Brasil.

O Grupo foi anunciado no ano passado e hoje conta com nove cidades e uma Região Metropolitana que, ao longo de 2018, aplicarão os Indicadores e a Pesquisa de QualiÔnibus para avaliar seus sistemas de transporte coletivo. São elas:

  • Belo Horizonte (já aplicou duas vezes a Pesquisa no sistema MOVE)
  • São Paulo (uma aplicação no corredor Santo Amaro/9 de Julho)
  • Uberlândia (uma aplicação da pesquisa)
  • Rio de Janeiro (duas aplicações no TransCarioca)
  • Fortaleza
  • Recife
  • Juiz de Fora
  • Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)
  • Joinville
  • Uberaba

Cidades que atualmente integram o Grupo de Benchmarking QualiÔnibus (Arte: Mariana Gil/WRI Brasil)

O WRI Brasil é responsável pela coordenação do grupo, que também conta com as contribuições do Centro de Estudo em Regulação de Infraestrutura (CERI) da Fundação Getúlio Vargas e do ITDP Brasil, como facilitadores e apoio técnico. As cidades que integram o grupo utilizarão indicadores padronizados para a coleta de dados sobre seus sistemas. Tanto a pesquisa de satisfação quanto os indicadores, ambos desenvolvidos pelo WRI Brasil, permitem análises mais básicas ou mais complexas, conforme a necessidade de cada cidade. Os indicadores são classificados em níveis, e as comparações entre as cidades ocorrem somente nos indicadores de mesmo nível. Essa divisão garante que as comparações sejam feitas somente entre cidades com os mesmos tipos de dados coletados.

Evolução dos níveis de indicadores no Grupo de Benchmarking: quanto mais alto o nível, mais detalhados os indicadores. Para integrar o grupo, a cidade precisa ter coletado no mínimo os indicadores do nível 1 (Arte: Mariana Gil/WRI Brasil)

O processo permite comparações entre os sistemas e encoraja as cidades a coletarem mais dados, a fim de conhecer seus pontos fortes e fracos e com quem podem trocar experiências e boas práticas. “Para fazer mudanças efetivas no transporte coletivo, a cidade precisa entender as necessidades das pessoas que o utilizam e mensurar resultados. Nesse processo, é bom poder contar com experiências de sucesso – aí é que entra o Grupo de Benchmarking. A ideia é criar um espaço de trocas que estimule as cidades a qualificarem seus sistemas e, assim, manterem os clientes”, avalia a coordenadora de Mobilidade Urbana do WRI Brasil, Cristina Albuquerque.

Sobre o Programa QualiÔnibus

Com o apoio da FedEx Corporation, o WRI Brasil desenvolveu o Programa QualiÔnibus, que tem o >objetivo de qualificar o serviço de transporte coletivo por ônibus e conta com cinco ferramentas para isso: Pesquisa de Satisfação, Indicadores de Qualidade, Grupo de Benchmarking, Segurança em Primeiro Lugar e Dia 1 de Operação. 

A Pesquisa de Satisfação e os Indicadores de Qualidade possuem uma estrutura ao mesmo tempo padronizada, para permitir o benchmarking, e flexível, para que possam ser utilizados por cidades de diferentes portes e diferentes necessidades. O Grupo de Benchmarking utiliza os Indicadores de Qualidade como metodologia para a coleta de dados dos sistemas, e a Pesquisa de Satisfação é a ferramenta que ajuda as cidades a obterem os dados referentes à satisfação dos usuários.

Para fazer parte do Grupo de Benchmarking ou tirar dúvidas, entre em contato pelo e-mail: qualionibus@wri.org

 

Organização do Grupo de Benchmarking QualiÔnibus (Arte: Mariana Gil/WRI Brasil)