Este artigo foi publicado originalmente no Insights.


O mundo está enfrentando uma emergência climática, forçando todos a repensar a melhor maneira de gastar recursos, criar empregos e melhorar a qualidade de vida de todos.

Nestes momentos críticos, as cidades oferecem uma das maiores oportunidades. Por concentrarem a maior parte da população mundial, da atividade econômica e das emissões de carbono, está se tornando cada vez mais claro que o destino das cidades é o destino do planeta. A ciência diz que o mundo deve zerar as emissões líquidas até 2050 para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C. Um novo relatório da Coalizão para Transições Urbanas, Emergência climática, oportunidade urbana, conclui que as cidades de baixo carbono podem reduzir as emissões e oferecer tremendas oportunidades econômicas.

Os pesquisadores descobriram que o investimento em 16 medidas de baixo carbono nas cidades poderia reduzir as emissões urbanas globais em 90% até 2050 e tem um valor presente líquido de quase US$ 24 trilhões, equivalente a quase um terço do PIB global em 2018. Isso significa que, entre hoje e 2050, os benefícios totais desses investimentos excederiam seus custos totais em quase US$ 24 trilhões. Distribuído ao longo dos anos, um investimento médio anual de US$ 1,8 trilhão (cerca de 2% do PIB global em 2018) renderia retornos de US$ 2,8 trilhões anuais até 2030 e de US$ 6,9 trilhões anuais até 2050.

Esses retornos são o resultado de redução de custos pela diminuição do uso de energia, maior eficiência energética e redução do uso de materiais como cimento e aço. Por exemplo, os investimentos em tornar a frota de veículos mais elétrica e com baixo consumo de combustível se pagariam em menos de oito anos, porque reduziriam o custo de abastecimento. As reformas para tornar os edifícios mais eficientes em termos de energia geraria economia nas contas de aquecimento e refrigeração no futuro.

Quais são as maiores oportunidades econômicas nas cidades de baixo carbono?

O pacote de investimentos considerado nesta análise incluiu medidas de baixo carbono em edifícios residenciais e comerciais, transporte de passageiros e mercadorias, produção e uso de materiais de construção como aço e cimento, comuns em infraestrutura urbana, e no setor de resíduos. Juntos os investimentos reduziriam as emissões urbanas em 15,5 gigatoneladas até 2050 (incluindo a descarbonização da eletricidade). Isso representa mais de 40% do total das emissões globais de fontes de energia de combustíveis fósseis em 2018. Todos esses investimentos são possíveis com as tecnologias atuais e oferecem vários benefícios econômicos. Alguns oferecem períodos de retorno curtos, enquanto outros podem exigir investimentos iniciais mais altos, mas que gerarão milhões de empregos nas próximas décadas.

Gráfico mostrando reduções em quatro categorias

Sete das 16 medidas estudadas têm um período médio de retorno de um ano ou menos, incluindo a melhoria da eficiência da iluminação dos edifícios e a logística do transporte de mercadorias (por exemplo, construindo-se centros de distribuição urbana). No geral, as intervenções no transporte de passageiros oferecem alguns dos retornos mais atraentes. Isso reflete o tremendo potencial do setor de transporte, tanto para ganhos econômicos quanto para a redução de emissões, especialmente porque transportes em massa e não motorizados serão fundamentais para promover cidades compactas, conectadas e limpas com zero emissão.

Duas medidas têm um valor líquido atual acima de US$ 10 trilhões: aumentar a parcela de passageiros que viajam em transporte de massa e reduzir a demanda por viagens motorizadas através do planejamento de cidades mais compactas. Isso significa que, até 2050, os benefícios totais desses investimentos excederão seus custos totais em US$ 20 trilhões e US$ 10 trilhões, respectivamente.

Outras medidas têm um valor presente líquido negativo, como aparelhos eletroeletrônicos mais eficientes (-US$ 0,2 trilhão em prédios residenciais) e alta eficiência em construções (-US$ 4 trilhões em prédios comerciais). Embora alguns produzam retornos anuais positivos já em 2030, seus custos de investimento relativamente mais altos superam seus benefícios econômicos até 2050.

No entanto, considerar apenas esses números leva a uma subestimativa da escala real dos retornos: há que se levar em conta benefícios socioeconômicos e ambientais mais amplos que surgem, por exemplo, com uma população mais saudável e produtiva, menos congestionamentos e serviços ecossistêmicos robustos. Além disso, todos os investimentos viabilizariam reduções significativas de emissões e, em conjunto, formariam parte de um pacote atraente de investimentos de baixo carbono, com valor presente líquido de quase US$ 24 trilhões.

Investimentos em cidades de baixo carbono também poderiam levar à criação de até 87 milhões de empregos em 2030 e 45 milhões de empregos em 2050. As maiores oportunidades estão no setor de transportes: até 2050, tornar as frotas de passageiros mais eficientes e elétricas poderia gerar 20 milhões de empregos, e aumentar a proporção de viagens em transporte de massa poderia suportar outros 12 milhões de empregos. Criar oportunidades de trabalho decente em campos promissores como energia limpa e transporte elétrico facilitará a transição para uma economia de baixo carbono, especialmente para trabalhadores de indústrias de alto carbono, como a mineração de carvão.

Os custos da inação

<p>Ponte para ciclistas e pedestres Flickr/Nanda Sluijsmans</p>

Ponte para ciclistas e pedestres Flickr/Nanda Sluijsmans

No entanto, os governos municipais não conseguem aproveitar essas oportunidades econômicas sozinhos. Os governos nacionais têm um papel crucial a desempenhar, incluindo sua capacidade única de angariar e direcionar financiamento para infraestruturas urbanas sustentáveis.

Enquanto isso, os custos da inação continuam a ficar mais claros. Cidades em todos os continentes mudarão drasticamente nas próximas décadas. Na África e na Ásia, a população urbana deve aumentar em 2,5 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos. Deixar de fazer uma transição de baixo carbono neste momento crítico comprometerá a saúde ecológica que sustenta toda a prosperidade econômica. O ônus desse dano pesará principalmente sobre grupos de baixa renda e marginalizados que contribuíram menos para a mudança climática.

Não há tempo a perder e, com mais pesquisas mostrando os benefícios da ação e os custos da inação, não há desculpa para não agir.