Este post foi publicado originalmente no Insights.


As florestas estão desaparecendo a um ritmo alarmante. Foi por isso que, em 2014, centenas de governos e empresas firmaram o compromisso histórico de reduzir à metade a taxa de perda de florestas naturais e restaurar 150 milhões de hectares até 2020. Cinco anos depois, porém, a situação global das florestas piorou drasticamente.

Foi nesse cenário que o Fórum Econômico Mundial apresentou um plano para "plantar um trilhão de árvores" (para contextualizar, hoje existem cerca de 3 trilhões de árvores no mundo). Os Estados Unidos foram um dos países que endossaram o plano.

O 1t.org é um projeto ambicioso, de larga escala e com potencial para absorver quantidades significativas de dióxido de carbono para combater as mudanças climáticas, além de outros benefícios. No entanto, a escala não é o único aspecto desafiador desta e de outras iniciativas do tipo. Qualquer plantio de árvores precisa ser feito de forma adequada, e a prioridade deve sempre ser a conservação e a proteção das árvores existentes.

Veja cinco lições de iniciativas em andamento para a restauração e o cultivo de árvores.

1. Comece pelas pessoas

Qualquer abordagem para o plantio de árvores deve iniciar por conhecer os desafios das pessoas a serem impactadas e seu relacionamento com suas terras. A paisagem social é tão importante quanto a paisagem física quando se trata de restauração.

A restauração pode ter retornos substanciais – benefícios naturais, como aumento da disponibilidade de água subterrânea e da biodiversidade, e benefícios socioeconômicos, como empregos e melhora na renda. Isso pode potencializar o interesse e o investimento em restauração e manutenção, uma vez que as árvores estão no solo. Simplificando, se as árvores são valiosas para as pessoas, há uma chance maior de que todos trabalhem juntos para restaurá-las e protegê-las. Colaboração e boa governança são ingredientes essenciais para o sucesso.

Exemplos podem ser encontrados na África, na América Latina e em outras partes do mundo, como no Malawi, onde um programa para criar empregos para jovens plantando árvores também fornece uma fonte sustentável de madeira para combustível e regenera florestas.

2. Escolha as árvores e o lugar certos

Plantar árvores exóticas pode criar enormes desafios para os seres humanos e a biodiversidade. Uma melhor compreensão da paisagem ajuda a identificar as melhores opções de árvores e de vegetação para beneficiar as pessoas e o ecossistema.

Quando as árvores são introduzidas onde não deveriam crescer, elas podem se tornar invasivas. Na década de 1970, a algarobeira – uma árvore nativa do México ao norte da América do Sul – foi introduzida no Quênia para combater a desertificação, fornecer lenha e alimentar animais. O ambiente era muito favorável e a algarobeira se espalhou muito rápido – tão agressivamente que matou a vegetação nativa e devastou a pastagem, prejudicando o gado. Estradas, canais de irrigação e margens de rios foram tomados pela árvore. Tudo isso causou danos econômicos significativos e perdas à biodiversidade.

3. Use abordagens inteligentes

<p>Discussão de atores da restauração na província de Tshopo, na República Democrática do Congo (foto: Angel Cibemba/WRI)</p>

Discussão de atores da restauração na província de Tshopo, na República Democrática do Congo (foto: Angel Cibemba/WRI)

De maneira semelhante, uma boa estratégia depende dos objetivos das partes interessadas e da geografia local. As pessoas restauram a paisagem por uma série de razões, que variam do sentimento de responsabilidade social à necessidade de gerar renda ou a exigências legais.

Nos trópicos, as florestas se regeneram naturalmente se protegidas de incêndios e da pecuária, com resultados muitas vezes melhores do que se poderia alcançar com plantio. Em outros casos, a expectativa de retorno do investimento pode levar à restauração; muitos empreendedores lucram com restauração e criam oportunidades para suas comunidades por meio do programa The Land Accelerator, do WRI. E se as políticas corretas estiverem em vigor, como a lei PROBOSQUE na Guatemala, os proprietários de terras podem plantar árvores em suas propriedades para acessar incentivos destinados a apoiar o investimento público em bens públicos.

4. Planejar, nutrir, monitorar

Em novembro de 2019, a Turquia plantou 11 milhões de árvores como parte de uma campanha nacional massiva de plantio. O problema: desde então, 90% das mudas morreram.

Segundo especialistas, um melhor planejamento poderia ter aumentado a taxa de sobrevivência das mudas. As campanhas de plantio de árvores devem ser guiadas por objetivos baseados na ciência e acompanhadas por planos de monitoramento robustos antes que a primeira muda seja posta no solo.

De maneira semelhante, o monitoramento de onde e como as árvores crescem fornece informações essenciais sobre como direcionar esforços e recursos de maneira mais eficaz, ajudando os implementadores a compartilhar conhecimentos e dados importantes para dimensionar os esforços de restauração. Essas informações também podem ajudar as partes interessadas a obter financiamento adicional para seus esforços, possibilitando medição e compartilhamento transparentes dos resultados de seu trabalho.

5. Considere a paisagem

Decidir como usar a terra para satisfazer diferentes necessidades humanas pode ser um desafio, sobretudo porque, tradicionalmente, as práticas agrícolas e de desenvolvimento costumam resultar em desmatamento ou degradação do solo. Uma "abordagem da paisagem" busca equilibrar o uso que as pessoas fazem da terra – para cultivar alimentos, gerar energia ou construir infraestrutura – com o ambiente natural. Isso pode significar impedir a expansão da agricultura para florestas próximas, frear possíveis vazamentos dos esforços de restauração (que o desmatamento migre para áreas vizinhas) ou até integrar árvores às terras agrícolas existentes.

Em Madre de Dios, na Amazônia peruana, uma parceria entre a comunidade, a organização não governamental Aider e a principal administradora de fundos de capital natural, Althelia, está ajudando agricultores a incorporar cacau em suas fazendas pela zona tampão da Reserva Nacional de Tambopata – que está sendo ativamente preservada como parte de um programa para reduzir as emissões do desmatamento e da degradação florestal (projeto REDD+). Por meio de um sistema agroflorestal, o cacau serve como uma fonte sustentável de renda que ajuda a restaurar as terras que foram degradadas principalmente devido à mineração, enquanto protege uma das florestas ecologicamente mais valiosas do mundo.

<p>Restauração por sistema silvipastoril ؘ(combinando gado e árvores) em Guanacaste, Costa Rica (foto: Luciana Gallardo Lomeli/WRI)</p>

Restauração por sistema silvipastoril ؘ(combinando gado e árvores) em Guanacaste, Costa Rica (foto: Luciana Gallardo Lomeli/WRI)

Já existem inúmeras iniciativas para plantar árvores e restaurar paisagens em todo o mundo. Países comprometeram-se a restaurar mais de 170 milhões de hectares por meio do Desafio de Bonn e de parcerias regionais como AFR100, Iniciativa 20x20 e ECCA30. E como as Nações Unidas declararam 2021-2030 a Década de Restauração de Ecossistemas, países, comunidades, organizações da sociedade civil e empresas estão intensificando sua ambição. É crucial para o 1t.org e iniciativas semelhantes agregar valor aos esforços já em andamento liderados por diferentes países, muitos dos quais já uniram vários setores ou comprometeram recursos significativos.

O plantio de árvores pode ajudar a interromper ou até mesmo reverter as mudanças climáticas, mas apenas se as medidas corretas forem tomadas. Ao incorporar essas lições, o #TrillionTrees e iniciativas semelhantes podem dar uma contribuição significativa para interromper e até reverter as mudanças climáticas. Se você estiver interessado em aprender mais, iniciar ou contribuir para uma campanha de plantio de árvores que siga os princípios acima, entre em contato com restoreforward@wri.org e siga-nos no Twitter em @restoreforward.