David Foli Ayivor, um empreendedor de Gana, tem visto o impacto devastador da pandemia de Covid-19 tanto para os produtores quanto para os moradores das cidades. À medida que a pandemia interrompe cadeias de fornecimento, os produtos não colhidos ou não vendidos acabam apodrecendo nas fazendas, enquanto pessoas em aldeias e comunidades sofrem com a escassez de alimentos nos mercados locais. Os sistemas alimentares da África estão sob pressão, colocando produtores e consumidores em circunstâncias difíceis.

Ayivor e outros empreendedores sabem que seus negócios fazem a diferença e podem ajudar a construir cenários mais resilientes e a promover a segurança alimentar. Enquanto muitas empresas ao redor do mundo lutam para se manter durante a crise desencadeada pela Covid-19, empreendedores como Ayivor têm se adaptado a novos mercados e ajudado as pessoas a passar por esse período conturbado.

Esses pioneiros na economia da restauração na África – pessoas cujas empresas atuam diretamente na recuperação de áreas degradadas, plantando árvores ou ajudando produtores a adotar modelos mais sustentáveis – estão oferecendo um serviço essencial nesse tempo de crise. Sua cadeia de produção, única, conecta as paisagens rurais aos centros urbanos, o que lhes permite tornar as terras agrícolas mais produtivas e saudáveis, permanecer fortes em tempos de adversidade e atender a demanda por alimentos de forma sustentável.

A seguir, conheça as experiências de quatro empreendedores que estão trabalhando para tornar suas regiões mais saudáveis e produtivas, além de ajudar a atender as necessidades de suas comunidades durante a pandemia de coronavírus:

Foli Ayivor: contendo o desperdício de alimentos

homem vende alimentos secos em feira

Foli Ayivor (no meio) vende frutas e vegetais secos que de outra forma seriam desperdiçados (foto: Foli Ayivor)

Ayivor é o fundador da Agromyx, empresa de comida instantânea em Accra que compra e processa o excedente de agricultores (produtos que, caso contrário, apodreceriam) e faz a liofilização das frutas e vegetais. Recentemente, a Covid-19 causou ainda mais perdas pós-colheita para os produtores. A política de isolamento decretada pelo governo interrompeu as cadeias de produção e distribuição. Muitos agricultores enfrentam dificuldades para encontrar compradores, levando a colheita – sua fonte de renda – a apodrecer nos campos.

Ao mesmo tempo, com menos acesso a alimentos frescos, consumidores e empresas passaram a adquirir os alimentos nutritivos e liofilizados produzidos pela Agromyx. Ayivor compra o máximo que pode de sua rede de 12 agricultores, mas já opera com toda a capacidade e precisa de mais investimento para atender a demanda.

Ayivor participou em 2019 do Land Accelerator (Aceleradora de Terras, em português), um programa de treinamento desenvolvido pelo WRI para empreendedores “criarem uma nova estratégia e desenvolverem uma melhor compreensão de seu segmento de clientes”, nas palavras do próprio Ayivor. O programa o ajudou a se adaptar para atender o mercado e auxiliar mais produtores.

Na aceleradora, Ayivor começou a fazer planos de adquirir mais maquinário para atender a demanda. Agora, com a crise, os planos foram ampliados. Ele continua a trabalhar com os mentores que conheceu no treinamento para adaptar seu projeto e modelo de financiamento ao novo cenário. Ayivor acredita que agora está mais próximo de sua meta de captação de recursos, graças à sua nova posição no mercado.

Lorna Omuodo: limpando o ar e as superfícies

homem e mulher envasam líquido em garrafas

Lorna Omuodo (à direita) iniciou produção de desinfetante com sobras de cana-de-açúcar (foto: Lorna Omuodo)

No Quênia, a empresa de Lorna Omuodo, E-Moto, ajuda clientes de baixa renda a fazer a transição da cozinha a lenha para o uso de biocombustível mais limpo. Diferente da maioria dos biocombustíveis, o criado por Omuodo usa talos de cana de açúcar que seriam desperdiçados. Assim, a E-moto protege as famílias da poluição do ar interior, responsável pela morte de 600 mil pessoas todos os anos na África, além de proteger as florestas do Quênia, reduzindo a demanda por lenha. Omuodo também foi aluna da Land Accelerator e começou sua empresa em agosto de 2019 atendendo 500 famílias por mês, a maior parte delas em Kabaa, uma cidade próxima de Nairóbi.

Quando a Covid-19 chegou à África, Omuodo percebeu que muitas pessoas não tinham acesso aos desinfetantes que poderiam matar o vírus. Ela, então, criou uma linha de desinfetantes para as mãos, feitos de bioetanol, e de desinfetantes de superfícies, feitos com os resíduos da mesma cana-de-açúcar que sua empresa usa para produzir biocombustível. Depois de receber do laboratório os resultados indicando que seu desinfetante era seguro, e com a permissão do governo queniano para operar, Omuodo agora distribui seus produtos a fornecedores em todo o país. A E-moto envia até 28 mil garrafas de desinfetante por dia para cidades do Quênia, gerando para a empresa uma receita de cerca de US$ 5 mil por dia.

Atualmente, Omuodo treina famílias em Kabaa para administrar sua própria destilaria comunitária usando o sorgo que já cultivam. Ela também tem trabalhado em parceria com produtores de álcool isopropílico e metanol, o que lhe permite fazer misturas personalizadas e, assim, garantir que a E-Moto continue atendendo a demanda.

Said Twahir: cozinhando sem desmatamento

foto de empreendedor queniano

A empresa de Said Twahir produz briquetes que não geram desmatamento e nem fumaça (foto: Peter Irungu/WRI)

Outras empresas da Land Accelerator são consideradas essenciais para a economia. Said Twahir administra a Kencoco, empresa no litoral do Quênia que transforma cascas de coco descartadas em briquetes de carvão vegetal para cozinha. Os briquetes são produzidos sem desmatamento e não geram fumaça. Twahir mudou seu público-alvo: em vez de fornecer para hotéis e restaurantes, passou a atender uma demanda maior, de famílias locais.

Twahir observou que “as pessoas já haviam cortado a maior parte das árvores do bairro” por causa da alta demanda por carvão vegetal. Com todos comendo em casa, o desmatamento poderia ter aumentando ainda mais. No entanto, apenas uma semana depois do fechamento de Nairóbi por conta do coronavírus, a Kencoco obteve permissão do governo para distribuir briquetes sustentáveis nas casas, protegendo as árvores e fornecendo um serviço essencial.

Edwin Kamau: garantindo a oferta de fertilizantes

foto de empreendedora queniana

Edwin Kamau transforma lixo em pastilhas fertilizantes para produtores de sua comunidade (foto: Peter Irungu/WRI)

Edwin Kamau é fundador da EcoH Holdings, empresa queniana que converte resíduos orgânicos em pastilhas fertilizantes para ajudar os produtores a fortalecer a saúde do solo e aumentar a produção de alimentos. Ele obteve permissão do governo, como serviço essencial, para coletar resíduos orgânicos uma vez por mês e continuar fabricando e distribuindo os fertilizantes aos produtores locais.

“Houve uma queda na demanda por fertilizantes, porque os produtores também são incluídos no fechamento dos serviços”, diz Kamau. “De qualquer forma, estamos em contato com diversas cooperativas de agricultores para atendê-los em grandes encomendas”. Ao mesmo tempo, ele observa que, mesmo durante o fechamento dos serviços, os produtores ainda precisam de fertilizante para garantir os cultivos, e a EcoH Holdings colabora ativamente com as comunidades para atender essa demanda.

Construindo paisagens vitais na África

Esses quatro empreendedores partem de diferentes abordagens para combater a crise desencadeada pela Covid-19 na África, mas todos abraçam um princípio central: proteger e restaurar a natureza cria sistemas alimentares mais fortes e saudáveis que funcionam melhor tanto para os agricultores quanto para os moradores das cidades, especialmente durante uma crise. Ao conectar o meio urbano e o rural, os empreendedores africanos estão construindo paisagens vitais para os produtores, suas famílias e para as pessoas vivendo nas cidades. Com tudo isso, os empreendedores da restauração na África podem desempenhar um papel essencial ajudando o continente a se recuperar mais forte da crise da Covid-19.

Você é ou conhece um empreendedor da restauração? Essas histórias foram inspiradoras para você? A Land Accelerator vai chegar ao sul da Ásia e à América Latina este ano. Inscreva-se aqui!

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