A publicação O Desenho de Cidades Seguras é um guia global de referência para ajudar as cidades a melhorar o desenho urbano com o intuito de ampliar espaços para o pedestre; reduzir a velocidade dos veículos, que ameaça todos os usuários das vias; promover espaços públicos de alta qualidade para pedestres e ciclistas; e facilitar e aumentar a qualidade do acesso ao transporte coletivo. Mais de 1,2 milhão de pessoas morre anualmente - na maioria, pedestres - em acidentes de trânsito. Esse número cresce ano após ano. O guia produzido com a colaboração de especialistas do WRI Brasil mostra exemplos em todo o mundo e 34 elementos diferentes de cidades que podem ajudar a aumentar a segurança e a qualidade de vida.

O relatório foi realizado com o apoio financeiro da Bloomberg Philanthropies.

Principais conclusões

Mais de 1,2 milhão de pessoas morre anualmente em acidentes de trânsito em todo o mundo, o que torna esse tipo de fatalidade uma das principais causas de morte nas cidades - em especial, nos países em desenvolvimento. Crianças, idosos e pessoas que vivem na pobreza são particularmente vulneráveis. O relatório do World Resources Institute (WRI), que se tornou possível pelo financiamento da Bloomberg Philanthropies, inclui mais de 30 recomendações específicas de design urbano para urbanistas e tomadores de decisão.

A publicação O Desenho de Cidades Seguras enfatiza duas maneiras de melhorar a segurança do trânsito nas cidades. Primeiro, construindo e adaptando ambientes urbanos para reduzir a necessidade de viagens em veículos individuais. Em segundo lugar, sugere a redução da velocidade dos veículos em áreas onde automóveis, pedestres e ciclistas se misturam. O relatório foca a melhoria da infraestrutura para pedestres, bicicletas e transporte de massa.

A publicação mostra exemplos de cidades específicas. Tóquio, uma cidade densa, mas com desenvolvimento orientado para o transporte, tem uma taxa de fatalidade no trânsito de 1,3 para cada 100 mil habitantes comparada a Atlanta (EUA), que tem uma taxa de 9,7 para cada 100 mil habitantes. Muitas cidades de países de renda baixa e média apresentam taxas de acidentes de trânsito mais altas, ou carecem de dados informativos adequados. Além disso, o relatório apresenta os exemplos de Cidade do México, Rio de Janeiro, Istambul, Nova York, Paris e outras.

O relatório inclui recomendações ilustradas para elementos de projeto específicos que podem melhorar a segurança no trânsito, como:

  • desenho urbano que inclui tamanhos de blocos menores, conexões de rua freqüentes, ruas mais estreitas e acesso em ambientes urbanos compactos que aliviam a necessidade de viajar em veículos individuais;
  • medidas para reduzir a velocidade no trânsito, tais como quebra-molas ou lombadas, chicanes, extensões de freio, travessias de pedestres levantadas e outros elementos;
  • vias arteriais e interseções, que reduzem os conflitos entre os usuários das estradas ao proporcionar travessias claras, medianas e ilhas de refúgio;
  • instalações para pedestres, que variam de áreas somente para pedestres a calçadas básicas e consistentes;
  • redes para ciclistas, que caracterizam ciclovias protegidas e atenção especial aos cruzamentos; e
  • melhorias de segurança em torno das estações de transporte de massa e dos corredores.

Sumário executivo

Muitas cidades do mundo podem se tornar locais mais seguros e saudáveis ao mudarem o desenho de suas vias e comunidades. Cidades onde as vias foram projetadas para servir principal ou exclusivamente para o trânsito de veículos motorizados poderiam melhorar a segurança de todos os usuários se fossem projetadas para servir, de fato, a pedestres, ciclistas, usuários do transporte coletivo, etc.

Porém, não é isso o que acontece atualmente em muitas cidades. As mortes no trânsito chegam a 1,24 milhão de pessoas anualmente e mais de 90% delas ocorrem em países de média e baixa renda (OMS, 2013). Atualmente, essa é a oitava causa de morte no mundo e estima-se que será a quinta em 2030, segundo as tendências atuais. A maioria dos óbitos é de usuários vulneráveis – pedestres e ciclistas de países em desenvolvimento que são frequentemente atingidos por veículos motorizados (OMS, 2009).

As mortes no trânsito causam grandes prejuízos econômicos: chegam a 3% do produto interno bruto (PIB) na Índia e na Indonésia, 1,7% no México, 1,2% no Brasil e 1,1% na Turquia (OMS, 2013). Quase a metade dessas fatalidades ocorre nas cidades; uma proporção maior de feridos graves no trânsito ocorre em áreas urbanas e envolvem usuários vulneráveis (Dimitriou e Gakenheimer, 2012; European Commission, 2013).

Esse problema global de saúde está sendo impulsionado por importantes processos que passam, muitas vezes, despercebidos. Em todo o mundo – e especialmente em países como o Brasil, a Índia, o México, a Turquia, a China e outras economias emergentes –, as pessoas estão comprando automóveis ou motocicletas a um ritmo arrebatador. O número de automóveis em circulação no mundo já ultrapassou 1 bilhão e deve chegar a 2,5 bilhões em 2050 (Sousanis, 2014). O percentual da população que reside em cidades pode passar de 50%, em 2007, para 70%, em 2030 (UNICEF, 2012). A ocupação do solo por áreas urbanas deve dobrar em 2020 em relação a 2000 (Angel, 2012). Com o aumento populacional e com o crescimento econômico, há uma enorme demanda por novas habitações e pela expansão urbana, o que gera a necessidade de uma rede viária, bem como de espaços públicos para a sua interligação.

Uma resposta típica a essas dificuldades é a construção de vias e a projeção de bairros para automóveis. No entanto, essas são soluções de curto prazo para facilitar o trânsito ou melhorar a segurança apenas dos motoristas. Com o passar do tempo, irão estimular um crescimento ainda maior do uso de automóveis e uma necessidade de cada vez mais vias, com consequente aumento das mortes no trânsito (Leather et al., 2011).

Contudo, há outro caminho. As cidades podem projetar vias e todo tipo de construção para serem mais seguros, não apenas nos novos bairros, mas também transformando os já existentes. Considerar uma ampla rede viária e a hierarquia dos seus usuários pode revelar oportunidades tanto nos corredores críticos de transporte coletivo quanto nas vias do entorno. Essa abordagem é chamada de “sistema seguro”, em prol da segurança viária. Ela estabelece metas e trabalha para mudar o ambiente viário a fim de reduzir feridos e mortos no trânsito (Bliss e Breen, 2009).

Através da iniciativa EMBARQ, o WRI Brasil criou este guia para mostrar exemplos reais e técnicas baseadas em evidências para melhorar a segurança através do projeto de bairros e vias, com enfoque nos pedestres, ciclistas e transporte coletivo, e para reduzir a velocidade e o uso desnecessário de veículos. O capítulo 2 deste guia apresenta uma visão geral das condições atuais de segurança viária nas cidades, os diferentes grupos de pessoas afetados pela segurança e o que significa “Projetar Cidades mais Seguras” através de projetos urbanos e viários que aumentam a proteção para todos os usuários das vias.

O restante do guia – capítulos 3 a 8 – fornece descrições das diferentes medidas e elementos que são os princípios-chave de projetos para promover a segurança viária. Esses princípios são compostos pelos temas a seguir e podem ser encontrados em exemplos positivos em cidades ao redor do mundo.