Dentre os mais de 5,5 mil municípios brasileiros, há poucos com projetos de infraestrutura verde, que possam torná-los mais resilientes aos efeitos das mudanças climáticas. Isso mudou para dez cidades, que concluíram a primeira fase do Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza em Cidades. Em evento de encerramento em Brasília, os projetos de Campo Grande (MS) e Maranguape (CE) foram selecionados para avançar para a fase de impacto, em que contarão com apoio adicional e oportunidades de conexão com financiadores.

Soluções baseadas na natureza (SBN) como jardins de chuva, biovaletas e alagados construídos são formas promissoras de enfrentamento a grandes desafios urbanos do nosso tempo, como a mudança do clima e a desigualdade. Mas pelo caráter inovador das SBN, cidades enfrentam dificuldades em elaborar projetos financiáveis. O programa de capacitação e mentoria do WRI Brasil é o primeiro do tipo no país, e apoiou a estruturação de projetos urbanos de SBN para torná-los mais robustos e aumentar suas possibilidades de acessar financiamento.

Veja o vídeo do evento:

projetos do acelerador de sbn em cidades

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Ao longo de 2023, o Acelerador apoiou projetos verdes de Camaçari/BA, Campo Grande/MS, Estrela/RS, Maringá/PR, Maranguape/CE, Raposos/MG (projeto liderado pela Sedese-MG), Santos/SP, São Carlos/SP, São José dos Campos/SP e Sobral/CE. Se implementadas, as dez propostas beneficiariam diretamente 3 milhões de pessoas.

“Ver como os participantes iniciaram a aceleração com ideias bastante incipientes e chegam a este momento com projetos bem estruturados nos deixa muito contentes e confiantes de que o Acelerador de SBN em Cidades já cumpriu um papel importante de impulsionar a inovação no setor público e um novo olhar para o papel da natureza nos centros urbanos”, afirma Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil.

destaques do acelerador em evento em brasília
Maranguape e Campo Grande foram selecionados para a próxima fase (foto: Ricardo Jayme-Yantra Imagens/WRI Brasil)

Campo Grande e Maranguape são destaques

Liderados por diferentes órgãos do setor público, os projetos ainda têm pela frente o desafio de acessar financiamento para viabilizar a implementação. Dois projetos, de Campo Grande (MS) e de Maranguape (CE), foram destaques pela maturidade das propostas, e contarão com apoio adicional, até abril de 2024, além de oportunidades de conexão com financiadores. As duas propostas vencedoras preveem parques multifuncionais, que combinam equipamentos públicos com soluções verdes para gerar resiliência climática (saiba mais abaixo). 

entrega dos troféus do acelerador
Representantes de Maranguape e Campo Grande (foto: Ricardo Jayme-Yantra Imagens/WRI Brasil)

“Os projetos representam a diversidade e a complexidade dos desafios que cidades brasileiras de diferentes portes e regiões enfrentam. Mas também demonstram o potencial da natureza para apoiar a solução”, afirma Juliana Baladelli Ribeiro, especialista em SBN da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, instituição que apoiou o Acelerador desde a concepção até a avaliação dos projetos.

“Projetos verdes como as soluções baseadas na natureza são inovadores e, por isso, desafiam as cidades. Ao fortalecer as capacidades técnica e institucional dos municípios para a criação de projetos robustos, em diálogo com outros setores do governo e da sociedade, o Acelerador aumenta as possibilidades das cidades para acessar financiamento e implementar as soluções”, destacou Luis Antonio Lindau, diretor do programa de Cidades do WRI Brasil.

Para Henrique Evers, “os projetos de Maranguape e Campo Grande mostram que é possível trazer a natureza como elemento central do pensar a cidade e de resolver problemas reais da população, especialmente a agenda de adaptação climática”.

camaçari apresenta projeto
Foto: Ricardo Jayme-Yantra Imagens/WRI Brasil

Seleção considerou evolução e maturidade dos projetos

A seleção dos dois projetos levou em conta a evolução das propostas ao longo dos primeiros oito meses de capacitação e mentoria e a apresentação diante de uma banca de especialistas em um evento em Brasília, na manhã de quinta-feira (10). À tarde, os dez projetos puderam apresentar suas propostas a representantes de instituições financeiras regionais, nacionais e internacionais no evento FinanCidades, organizado pelo WRI Brasil e pela Rede para Financiamento de Infraestrutura Sustentável (Rede FISC).

O Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza em Cidades é uma realização do WRI Brasil com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Conta com financiamento da Caterpillar Foundation e do Ministério do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido (Defra UK), e parceria da iniciativa Cities4Forests e da Aliança Bioconexão Urbana.

Sobre os projetos selecionados para fase 2

Parque dos Ipês, Campo Grande (MS)

Liderado pela Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb) de Campo Grande (MS), o projeto Parque dos Ipês prevê a construção de um parque multifuncional de 12 hectares em uma região frequentemente impactada por alagamentos. Combinando equipamentos públicos com jardins de chuva, biovaletas, bacia de detenção naturalizada e trincheiras de infiltração, o parque mitigaria os impactos das chuvas e ampliaria o acesso da população a espaços verdes, de lazer.

“Ficamos muito felizes por sermos selecionados porque mostra que estamos no caminho certo”, afirma Christiane Corrêa, bióloga da Planurb. “Esta região enfrenta esse problema de alagamento muito grave há muitos anos. [Se implementado], além de ajudar a resolver esta questão, o projeto vai trazer uma área verde para uma região que não tem um parque.”

O Parque dos Ipês poderia beneficiar diretamente mais de 3,5 mil pessoas. As intervenções ainda poderiam ser expandidas para o restante do município, com o potencial de evitar mais de R$ 755,5 milhões em danos materiais até 2050, e R$ 7,8 milhões em produtividade sacrificada.

Parque Pirapora, Maranguape

Liderado pela Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) de Maranguape, o projeto Parque Pirapora prevê a construção de um parque multifuncional ao longo do curso do Rio Pirapora, que corta a cidade. Combinando equipamentos públicos com SBN como bacia de detenção naturalizada, jardins de chuva, biovaletas e trincheiras de infiltração, o parque realizará o manejo sustentável das águas pluviais, a revitalização do rio e a qualificação do espaço urbano adjacente.

Maranguape é conhecida por ser cidade natal de Chico Anysio, e a casa onde o humorista nasceu está na área do Parque Pirapora. O projeto da Semurb prevê uma rua-piloto próximo à casa, onde o Governo do Estado implantará um complexo cultural. A rua em frente ao futuro complexo receberia uma série de intervenções de SBN, demonstraria o potencial paisagístico e a eficiência das soluções verdes e aumentaria a confiança no investimento no projeto em todo o território.

O parque poderia beneficiar diretamente mais de 11 mil pessoas, sendo mais de 4 mil em situação de pobreza. As intervenções ainda poderiam ser expandidas para o restante do município, com o potencial de evitar cerca de R$ 2 milhões em danos materiais até 2050, e R$ 7,8 milhões em produtividade sacrificada.

“Sabemos que a economia da cidade é beneficiada pelo projeto, mas temos de compartilhar os ganhos com quem mais precisa”, afirmou Morganna Rangel, diretora de Desenvolvimento Urbano da Semurb.