Políticas públicas e hábitos de consumo nas cidades têm potencial significativo para danificar as áreas verdes – ou, ao contrário, para apoiar a conservação, restauração e manejo sustentável das florestas. É o que busca o Cities4Forests, um movimento global para catalisar apoio político, social e econômico para integrar ações de proteção e conservação das florestas nos planos e programas de desenvolvimento das cidades.

As florestas trazem benefícios sólidos para a população urbana. Parques e áreas verdes dentro das cidades oferecem espaços de lazer e convivência e contribuem para manter as temperaturas mais amenas. As florestas localizadas no entorno do perímetro urbano protegem contra enchentes e deslizamentos de terra. Perto de nascentes e rios, contribuem para a qualidade da água que chega aos reservatórios. E mesmo os grandes corpos florestais mais distantes das cidades, como a Amazônia, exercem um papel significativo, já que influenciam o clima em escala global, geram chuvas e abrigam a maior parte da biodiversidade do planeta.

Como membros do Cities4Forests, cidades do mundo inteiro estão comprometidas com a conservação e preservação das florestas. Nove representantes brasileiras já se juntaram a esse grupo. Veja a seguir quais são essas cidades e como cada uma delas já está trabalhando por suas florestas.

Belo Horizonte, Minas Gerais

<p>Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte (Foto: Arthur Castro/Flickr)</p>

Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte (Foto: Arthur Castro/Flickr)

Com uma população estimada em 2,5 milhões de habitantes, a capital de Minas Gerais ocupa quase todo o seu território de 331 km², preservando pouco da vegetação original. Ainda assim, Belo Horizonte é uma das capitais mais arborizadas do país: 82,7% das vias são arborizadas, com aproximadamente 560 mil árvores – número que sobe para 2 milhões se considerados os parques e áreas de preservação. Um dos projetos desenvolvidos pela cidade para proteger as áreas naturais é o Montes Verdes, criado para promover a recuperação e revegetação de áreas degradadas. O objetivo do programa é identificar e catalogar as áreas e propor planos, com foco inicial nas áreas públicas municipais. Desde 2017, já foram plantadas mais de 15 mil mudas de árvores nativas.

Um pouco mais distante do perímetro urbano, está o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, uma das mais importantes áreas verdes do estado, que abriga alguns dos mananciais que abastecem a capital e a região metropolitana, além de ser o habitat natural de espécies ameaçadas de extinção como a onça parda, a jaguatirica, lobo-guará, o gato-do-mato, o macuco e o veado campeiro. A Floresta Nacional de Passa Quatro, no sul do estado, é uma unidade de conservação com mais de 335 hectares de área preservada dentro do bioma Mata Atlântica. Uma parceria entre o Instituto Chico Mendes (ICMBio), responsável pela administração da floresta, e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte desenvolve ações conjuntas de conservação, recuperação e restauração no local. Até março de 2020, a meta é plantar 20 mil mudas de espécies nativas de Mata Atlântica e Cerrado.

Campinas, São Paulo

Parque Ecológico de Campinas (Foto: Giuliano Maiolini/Flickr)

Distante 100 quilômetros da capital do estado, Campinas é um dos principais polos de pesquisa e desenvolvimento do país. A cidade possui uma área de 795 km², mas conta com menos de 5% da cobertura vegetal natural, estando constantemente sujeita a enchentes e assoreamentos. A maior parte da vegetação original existente na cidade, a Mata Atlântica, foi devastada. Diante disso, o município passou a atuar em diversas frentes para tentar reverter o quadro.

O Sistema de Áreas Verdes e Unidades de Conservação de Campinas (SAV-UC) foi desenvolvido a partir do mapeamento da vegetação natural, buscando integrar os remanescentes por meio da rede hídrica, com o restabelecimento das matas ciliares e a implantação de parques lineares e praças. Em 1994, a cidade revitalizou uma antiga pedreira, transformando-a em parque. O espaço hoje conhecido como Praça Ulysses Guimarães é uma área verde e de lazer de 130 mil metros quadrados. Em 2013, a prefeitura investiu cerca de R$ 7 milhões para plantar mais árvores e instalar novas quadras esportivas, quiosques e espaços recreativos no local. Na região metropolitana, uma área de conectividade foi delimitada para promover o desenvolvimento sustentável na região. Essa área vai interligar espaços verdes ecologicamente relevantes dos 20 municípios que integram a região metropolitana, mantendo ou restaurando a vegetação. As ações têm dado resultado. Campinas foi a primeira cidade brasileira e receber o certificado da ONU como cidade referência em boas práticas de resiliência. Em apenas seis anos, o município passou da 220ª para a 7ª posição no ranking estadual de cidades sustentáveis.

Macapá, Amapá

Área verde em Macapá (Foto: Marcus Paulo/Flickr)

Macapá está localizada no bioma da Amazônia e é a capital de um estado reconhecido por suas ações de conservação. A vegetação da cidade se constitui principalmente de florestas, e 66% das vias são arborizadas. Em 2018, a prefeitura lançou o programa “Macapá Mais Viva”, que faz parte do Plano Municipal de Arborização Urbana e tem o objetivo de aumentar ainda mais o plantio de árvores na área urbana. Desde 2017, já foram plantadas mais de duas mil mudas de árvores nativas e a meta é chegar a seis mil até 2020.

O Estado do Amapá tem o maior corredor de biodiversidade do país e apresenta 70% do seu território coberto por áreas de proteção ambiental. Na capital, estão localizadas diversas unidades de conservação, tanto sob tutela federal quanto estadual. Também fica em Macapá o Parque Zoobotânico Municipal, uma área voltada para a conservação e proteção da fauna e flora do Estado do Amapá e é administrado pela Fundação Parque Zoobotânico Municipal (FPZM).

Palmas, Tocantins

<p>Área de cerrado em Palmas (Foto: Luciana Christante/Flickr)</p>

Área de cerrado em Palmas (Foto: Luciana Christante/Flickr)

Localizada na região Norte do país, a capital do Tocantins integra a Amazônia Legal e tem o território ocupado principalmente pelo bioma Cerrado. Abrigando atrativos naturais como cavernas, cachoeiras, trilhas e lagos, Palmas trabalha para preservar o patrimônio ambiental. Entre as iniciativas, destacam-se o Plano Diretor Participativo, o Programa Palmas Mais Verde, o Plano de Arborização do Município e ações de combate às queimadas. Uma das metas de Palmas é reduzir o déficit de 280 mil árvores. Uma das medidas tomadas foi a criação do Sistema Municipal de Infraestrutura Verde (SisMIV), que integra o Plano Diretor da cidade. O sistema tem objetivo de identificar, classificar, preservar, recuperar, implementar e conectar áreas de interesse ambiental dentro do município e promover uma gestão mais eficiente desses locais. Também visando à preservação, em parceria com a Fundação Municipal de Meio Ambiente (FMA), a prefeitura é responsável pela coordenação, controle e execução da política ambiental da cidade. O trabalho envolve fiscalizar as atividades produtivas e comerciais de prestação de serviços e o uso de recursos ambientais, além de exercer o poder de polícia administrativa.

Porto Velho, Rondônia

Rio Madeira, em Porto Velho (Foto: F. Lopes/Flickr)

Situada na margem leste do rio Madeira, Porto Velho é a maior capital brasileira em área territorial, estendendo-se por mais de 34 mil km² (área mais extensa que a de países como Bélgica e Israel). Uma das dificuldades da capital rondoniense é a baixa arborização urbana. Para reverter a situação, a prefeitura criou o Programa Cidade Mais Verde, por meio do qual é possível fazer a solicitação de mudas de árvores via WhatsApp, e deu início ao projeto Mega Plantio, que tem a meta de plantar 45 mil mudas em 14 bairros da cidade até o fim de 2019. Em função do extenso território, a proteção e o manejo das áreas verdes é essencial para o desenvolvimento social, econômico e ambiental de Porto Velho. O município abriga diversas unidades de conservação, de gestão estadual ou federal. São áreas que desempenham um papel central para a conservação da biodiversidade: as Florestas Nacionais Bom Futuro e Jacundá, a Estação Ecológica Cuniã e o Parque Nacional Mapinguari (todos sob gestão e manejo do ICMBio).

Rio Branco, Acre

<p>Pedestre em Rio Branco (Foto: Sérgio Vale/Agência de Notícias do Acre)</p>

Pedestre em Rio Branco (Foto: Sérgio Vale/Agência de Notícias do Acre)

A capital do Acre, onde vive quase metade da população do estado, destaca-se por estar localizada no coração da Floresta Amazônica, em uma área de integração entre Brasil, Bolívia e Peru, e por ter 69% do seu território coberto por florestas. Essas características tornam a região estratégica tanto em termos de integração regional quanto para a preservação ambiental. Em Rio Branco, o Índice de Áreas Verdes é de 10 m² por habitante, um dos maiores da Região Norte e próximo ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde, de 12 m² por habitante. Para manter e melhorar esse resultado, a cidade trabalha para ampliar as áreas verdes já existentes, criar novos espaços naturais e promover a recuperação de áreas degradadas, fortalecendo a relação floresta-cidade. Nos últimos anos, a capital acreana duplicou de cinco para dez o número de parques municipais e realiza o plantio de em média 3 mil árvores por ano nas vias públicas. Rio Branco também instituiu o Zoneamento Econômico, Ambiental, Social e Cultural (ZEAS), com a finalidade de otimizar o uso dos recursos naturais e socioeconômicos a partir das culturas e histórias das comunidades rurais – uma ferramenta de planejamento territorial fundamental para orientar as políticas do setor e auxiliar a conservação das florestas sem desconsiderar a população local.



Salvador, Bahia

Salvador (Foto: Leon Segal/Flickr)

Totalmente inserida no bioma da Mata Atlântica, a capital baiana possui um histórico na ação pela sustentabilidade: antes de se juntar ao Cities4Forests, já era membro de redes como 100 Cidades Resilientes, C40 e o Compacto de Prefeitos. Em 2016, a cidade estabeleceu o Sistema de Áreas de Valor Ambiental e Cultural (SAVAM) como parte de seu Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, a fim de aumentar as áreas protegidas no município. Na mesma linha, Salvador elaborou também sua estratégia de resiliência, amplamente baseada em conceitos de desenvolvimento sustentável. Em uma área de 309 km², a cidade ainda mantém significativos remanescentes florestais de Mata Atlântica, dos quais mais de metade se encontra em estágio de crescimento avançado. Para preservar essas áreas, a cidade criou o programa Salvador, Capital da Mata Atlântica, que busca integrar diferentes ações de proteção e implantar novas áreas verdes na cidade. Uma das iniciativas já empreendidas foi o desenvolvimento de um manual de arborização específico para o uso de espécies nativas da Mata Atlântica.

São Luís, Maranhão

Lagoa da Jansen, com São Luís ao fundo (Foto: Luís Guilherme Fernandes Pereira/Flickr)

São Luís possui uma grande cobertura florestal: mais da metade da área total do município, de 834,7 km². A preservação desse contingente florestal, bem como a restauração de outras áreas, está entre as prioridades na gestão da cidade. Dois programas municipais foram implementados com o objetivo de ampliar a cobertura vegetal na capital maranhense: o Programa de Revitalização de Praças, que busca recuperar e construir praças públicas, e o Programa São Luis Cidade Jardim, voltado ao paisagismo dos espaços públicos da cidade, incluindo canteiros de vias, rotatórias e praças. Em relação às áreas florestais fora do perímetro urbano, São Luís implementou o Programa de Recuperação Ambiental e Melhoria da Qualidade de Vida da Bacia do Bacanga, rio responsável pelo abastecimento de água do município. O programa inclui ações de capacitação técnica, monitoramento de qualidade da água e controle dos impactos ambientais do desenvolvimento das regiões próximas à bacia.

São Paulo

<p>Parque Ibirapuera, em São Paulo (Foto: Mario Camargo/Flickr)</p>

Parque Ibirapuera, em São Paulo (Foto: Mario Camargo/Flickr)

Com mais de 1.500 km² de área, a cidade de São Paulo também está inserida no bioma Mata Atlântica, que ocupa aproximadamente 40% do território paulistano. A maior cidade brasileira trabalha para desenvolver políticas públicas e normas de planejamento que conciliem a conservação das florestas com o desenvolvimento econômico e social. Entre as ações de São Paulo, destacam-se as metas para plantio de mudas nativas da Mata Atlântica, a implantação de novos parques e a capacitação dos profissionais responsáveis pela arborização municipal.

A cidade também trabalha na elaboração e implementação de quatro planos municipais voltados à proteção ambiental: Plano Municipal de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres (PLANPAVEL); Plano Municipal de Conservação e Recuperação de Áreas Prestadoras de Serviços Ambientais; Plano Municipal de Arborização Urbana; e o Plano Municipal da Mata Atlântica. São esforços que buscam articular as ações de preservação ambiental e promover uma conectividade entre os parques e áreas verdes da cidade. A capital paulista conta com 107 parques municipais. São parques urbanos, com a função de proteger a vegetação dentro do perímetro urbano e oferecer espaços de lazer, e os parques lineares, que exercem a função prioritária de proteger as margens dos rios e córregos. Somam-se a esses espaços as Unidades de Conservação, que protegem a flora, a fauna e os remanescentes de vegetação nativa.