Em geral, as pessoas não costumam associar cidades e árvores, mas a verdade é que as áreas urbanas dependem de florestas saudáveis para sobreviver. Esse entendimento levou 45 cidades de todo o mundo a se unirem à inciativa Cities4Forests, lançada no último dia 12, comprometendo-se a proteger, gerenciar e restaurar florestas em três escalas: florestas internas, próximas e distantes.

Em cada um desses níveis, as florestas oferecem benefícios para as cidades e o planeta como um todo. Dentro do perímetro urbano, as árvores e áreas verdes oferecem espaços de lazer e convivência e contribuem manter as temperaturas mais amenas. Florestas próximas, no entorno das cidades, protegem contra enchentes e deslizamentos de terra. E mesmo as áreas florestais mais distantes têm implicação sobre a vida nos centros urbanos, já que influenciam o clima de forma geral, geram chuvas e abrigam a maior parte da biodiversidade terrestre do mundo.

Florestas distantes são uma oportunidade inexplorada

Se os benefícios das áreas verdes dentro e próximas das cidades já são relativamente conhecidos, o impacto que as florestas mais distantes exercem sobre o dia a dia nas cidades só agora começa a ser compreendido. O desmatamento tropical é um dos principais fatores que contribuem para as emissões de gases de efeito estufa, e as florestas foram incorporadas nas negociações globais sobre mudanças climáticas. Sabe-se, agora, que a proteção das florestas é um elemento essencial em qualquer estratégia para estabilizar o clima global e, assim, mitigar os riscos impostos às cidades pelo aumento do nível do mar e por fenômenos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos.

Em paralelo, novos estudos científicos têm revelado que florestas distantes das áreas urbanas podem afetar as cidades também, como pela geração de chuvas, essencial para manter a produtividade agrícola em fazendas que produzem alimentos para a população urbana. Em fevereiro deste ano, cientistas alertaram que a combinação de desmatamento, mudanças climáticas e o frequente uso do fogo na região amazônica pode estar relacionada às secas e inundações severas que afetaram as cidades do Brasil e dos países adjacentes nos últimos anos.

Diante disso, o que as cidades poderiam fazer para ajudar a conservar essas florestas, tão distantes de seu território mas com impactos tão profundos em seu cotidiano?

Para começar, podem garantir que seus próprios padrões de consumo não contribuam para o problema. O Painel Internacional de Recursos estima que o consumo de materiais (como madeira, areia, cascalho, minério de ferro e carvão) crescerá de 40 bilhões de toneladas em 2010 para cerca de 90 bilhões de toneladas em 2050. As cidades têm o poder de escolher se esse consumo se dará a partir de fontes sustentáveis ou não. Quando Londres sediou as Olimpíadas de 2012, as autoridades posicionaram-se em relação às florestas certificando-se de que toda a madeira usada para construir o Parque Olímpico e a Vila dos Atletas possuísse o certificado de produção legal e sustentável.

A experiência de Santiago

No Chile, o Rio Mapocho é um dos principais eixos geográficos do vale onde está a capital Santiago – e o potencial desse curso de água para a paisagem urbana é um desafio que remonta à fundação da cidade. Com o projeto Mapocho 42k, a capital chilena conseguiu um exemplo de como proteger áreas verdes e ao mesmo tempo torná-las parte da vida urbana

O projeto foi desenvolvido com o objetivo de aproveitar o potencial das margens do Rio Mapocho, em especial a sul, de comportar o espaço público de escala metropolitana: um grande eixo que conecte a cidade de Santiago geográfica e socialmente. Essa conexão é feita a partir de um corredor verde, ou “cicloparque”, que permite a circulação tanto de pedestres quanto ciclistas.

<p>Ciclovia ao longo do rio Mapocho, em Santiago</p>

Ciclovia ao longo do rio Mapocho, em Santiago (Foto: Mara Daruich/Flickr)

Em resumo, estamos falando de um sistema de parques integrados por uma ciclovia nas margens do Rio Mapocho. São 42 quilômetros que percorrem 11 comunas (a menor subdivisão administrativa do Chile) e conectam as diversas áreas verdes da região. O corredor consegue conectar ao mesmo tempo os parques já existentes e potenciais espaços verdes ao longo da margem, promovendo, assim, uma continuidade ambiental e ecológica da qual fazem parte áreas verdes adjacentes como o Parque Bustamante, o Parque Metropolitano ou as margens do Canal San Carlos.

Toda essa rede forma um Sistema Integrado de Parques que vincula espaços públicos a um importante eixo hidrográfico e, com isso, consolida uma matriz geográfica e ecológica como um dos principais elementos do desenvolvimento urbano de Santiago.