A natureza tem um grande poder de se regenerar. Mesmo áreas que sofreram profundas alterações ou desmatamento podem conseguir, dependendo das condições, tornarem-se florestas novamente, só com a ajuda do tempo e de processos ecológicos naturais, sem a necessidade de intervenção humana – especialmente se essa área estiver perto de outros fragmentos florestais. O resultado dessa restauração é o que chamamos de regeneração natural.

Um abrangente estudo internacional se debruçou sobre as florestas regeneradas naturalmente – ou florestas secundárias naturais – para tentar entender em quanto tempo essas áreas podem se tornar tão ricas em espécies quanto uma floresta primária, nunca antes desmatada pela ação humana. Esse trabalho chegou a um resultado impressionante: em poucas décadas, uma floresta consegue se regenerar sozinha a padrões parecidos, em termos de biodiversidade de árvores.

Antes de entender esses resultados, entretanto, vale a pena um olhar crítico sobre o que é a regeneração natural. E como a regeneração pode ser uma ferramenta importante e de baixo custo para dar escala à restauração florestal tão difundida nos últimos anos.

O poder da natureza se regenerar

A regeneração natural é um conjunto de processos em que as plantas se estabelecem numa área degradada sem que elas tenham sido introduzidas pela ação humana, segundo a definição do Instituto Florestal, de São Paulo. São sementes trazidas pelo vento ou por animais, como pássaros e mamíferos.

A regeneração pode ser usada como uma estratégia importante na restauração. Um primeiro passo é fazer um diagnóstico da paisagem a ser restaurada para entender os potenciais de cada área. Nem toda área degradada tem bom potencial para regeneração. A metodologia ROAM, por exemplo, pode indicar quais áreas são mais propensas à regeneração. Em geral, são locais próximos de remanescentes de vegetação (por exemplo, perto de um Parque Nacional ou Unidade de Conservação), com solo pouco compactado, baixa declividade, longe da exposição excessiva a incêndios (como beira de estradas), baixa presença de espécies invasoras (como por exemplo gramíneas plantadas para pasto), áreas de menor interesse econômico e de menor acessibilidade.

Segundo a Embrapa, uma área pode ser restaurada se aproveitando da regeneração natural de duas formas:

  • Regeneração natural sem manejo: Em uma área de potencial de regeneração alto, a restauração por regeneração natural consiste em deixar que os processos naturais atuem livremente. Para isso, o produtor ou proprietário da área precisa tomar algumas medidas de isolamento da área, como a construção e manutenção de cercas para limitar o acesso de pessoas e animais de produção ou domésticos.

  • Regeneração natural com manejo: Dependendo da área, a natureza precisa de uma ajuda da ação humana para se regenerar. Nesse caso, além do isolamento, outras medidas são necessárias para permitir que a regeneração aconteça, como controle de plantas competidoras, controle de formigas, adubação, entre outras.

A riqueza das florestas secundárias

A capacidade da floresta se regenerar já era conhecida. O que ainda não se sabia era se as florestas secundárias poderiam ser comparadas, em termos de riqueza de espécies de árvores, a florestas antigas e não desmatadas. Para responder isso, o estudo publicado na Science Magazine contou com um esforço internacional de pesquisa. Participaram 83 pesquisadores de 13 países diferentes, incluindo o Brasil, que analisaram dados de 56 locais da América Latina, cobrindo um total de mais de 183 mil espécies de árvores diferentes.

Eles concluíram que uma floresta leva em média 20 anos para recuperar 80% da riqueza de espécies que uma área intocada tem. Isso mostra que a regeneração natural é uma estratégia eficiente para a restauração florestal. “Florestas secundárias têm alto valor de conservação em paisagens tropicais modificadas pela ação humana”, diz o estudo. “Nossos resultados indicam que a regeneração natural é uma solução efetiva, baseada na natureza, para a manutenção da biodiversidade de árvores”.

Humanos também têm um trabalho a fazer

Apesar do teor positivo dos resultados, o estudo mostra que a regeneração natural tem grandes limitações. Se a recuperação da quantidade de espécies de uma área regenerada acontece num intervalo de tempo muito rápido – 20 anos é pouco em comparação com o tempo de vida de árvores e florestas – o trabalho também mostra que a composição não se recupera com a mesma velocidade. Para uma floresta regenerada retomar a mesma composição das espécies de primária, com presença de árvores raras, nichos ecológicos e árvores especialistas, seria preciso esperar séculos.

Infelizmente, não temos centenas de anos para esperar. A urgência das mudanças climáticas e os muitos problemas sociais do Brasil mostram que é preciso restaurar florestas, vegetações nativas e a própria paisagem o quanto antes. O movimento pela restauração pode usar a regeneração natural como aliada, mas não deve deixar de tomar outras medidas para cumprir a meta brasileira de restaurar 12 milhões de hectares de florestas, promovendo uma economia florestal sólida que possa mitigar as mudanças climáticas e ao mesmo tempo gerar riqueza e emprego para produtores no campo.